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Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra

Investigação permite melhor adequação da terapêutica destinada a doentes com síndrome mielodisplásica

Sobre o estudo

A síndrome mielodisplásica (SMD) é um grupo heterogéneo de doenças clonais da célula estaminal hematopoiética, caracterizada por hematopoiese ineficaz, displasia e citopenias (sendo a anemia a citopenia mais frequente), estando associadas a elevado risco de progressão para leucemia aguda e resistência às terapêuticas convencionais. 

Na prática clínica, de acordo com o risco prognóstico, os doentes são classificados em doentes de baixo e alto risco, sendo a maioria dos doentes de baixo risco. Nestes doentes, a opção de tratamento de primeira linha da anemia são os agentes estimulantes da eritropoiese (ex. eritropoietinas recombinantes, EPOs). No entanto, nem todos os doentes respondem e alguns são resistentes. Apesar dos níveis de eritropoietina poderem dar alguma indicação da resposta, novos biomarcadores preditores de resposta e/ou de resistência devem ser investigados.

O stresse oxidativo (SO), resultante do desequilíbrio entre a produção de espécies reactivas de oxigénio (ROS) e os mecanismos de defesa antioxidante, é um factor importante no desenvolvimento, progressão e resistência à terapêutica na SMD. Além disso, durante a diferenciação eritroide são produzidas ROS em resposta à EPO. Neste contexto, fomos verificar se os parâmetros de SO, avaliados na altura do diagnóstico dos doentes com SMD, permitiam prever a resposta ao tratamento com agentes estimulantes da eritropoiese.


Resultados e impacto

Este estudo visou melhorar o conhecimento dos mecanismos envolvidos na resposta e/ou na resistência ao tratamento com agentes estimulantes da eritropoiese (ESAs) em doentes com SMD de baixo risco, nomeadamente a influência do stresse oxidativo na resposta a esta estratégia terapêutica.

Verificámos que os doentes que respondem ao tratamento com ESAs apresentam níveis mais baixos de peróxidos, de GSH e da razão peróxidos/capacidade antioxidante total (TAS), menor actividade de glutationa redutase e níveis de expressão do gene NFE2L2 mais elevados, em comparação com os doentes que não responderam a este tratamento. Neste sentido, o stresse oxidativo parece estar associado à resistência ao tratamento com os ESAs, constituindo os níveis de expressão de peróxidos bons biomarcadores de resposta à terapêutica, com elevada sensibilidade e especificidade. 

Assim, este trabalho permite identificar os doentes com SMD que irão responder de forma mais eficaz ao tratamento com ESAs, permitindo uma selecção da terapêutica mais adequada a cada doente.

Apesar de serem necessários estudos num maior número de doentes, os nossos resultados representam uma estratégia para prever a resposta dos doentes com SMD ao tratamento com ESAs, com recurso a análises realizadas em sangue periférico, minimizando custos e os riscos/inconvenientes de algumas das ferramentas diagnósticas/prognósticas atuais.


Ana Bela Sarmento Ribeiro


Frontiers in Cell and Developmental Biology 
Oxidative Stress Parameters Can Predict the Response to Erythropoiesis-Stimulating Agents in Myelodysplastic Syndrome Patients

Fotografia de Arek Socha @ Pixabay