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Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra

Diabetes tem impacto
negativo na cicatrização
da periodontite apical


Sobre o estudo

A diabetes mellitus tipo 2 tem uma influência direta nas funções do sistema imune, levando a uma diminuição da taxa de cicatrização e a um atraso na função das células imunes. A hiperglicemia, principal precursor de complicações microvasculares em pacientes diabéticos, pode causar isquemia, com consequente necrose pulpar e desenvolvimento de periodontite apical. 

Alguns estudos relatam taxas de sucesso endodôntico mais reduzidas em pacientes diabéticos, quando comparadas com pacientes saudáveis, mesmo que os mecanismos fisiopatológicos adjacentes à cicatrização de lesões apicais sejam ainda desconhecidos.

Assim, foi realizado um estudo retrospetivo que teve como objetivo principal investigar se a diabetes mellitus tipo 2 influenciava o sucesso na prevenção ou cura da infeção periapical, após o tratamento endodôntico, numa população portuguesa diabética, em comparação com pacientes saudáveis. 

Para esclarecer os mecanismos subjacentes à taxa de sucesso do tratamento endodôntico em diabéticos, foram também investigados num estudo in vivo diversos marcadores de lesões histopatológicas e de comprometimento angiogénico num modelo de rato de diabetes mellitus tipo 2, em que foi induzida experimentalmente infeção periapical. 


Resultados e impacto

No estudo clínico, os resultados sugerem que a taxa de sucesso do tratamento endodôntico em doentes saudáveis foi superior à de diabéticos (OR= 9.42; IC95%: 3.65-24.31; p<0.001). Para além disso, e apesar de não haver diferenças estatisticamente significativas no follow-up entre os grupos, observou-se que o grupo diabético necessita de mais tempo para alcançar o sucesso do tratamento endodôntico, quando comparado com o grupo de doentes saudáveis. 

No estudo animal, após observação da expressão dos marcadores, lesões histopatológicas e de comprometimento angiogénico, os resultados sugerem um grau de remodelação vascular e de angiogenese superior em ratos Wistar (não diabéticos) após a indução da infeção apical, quando comparado com os ratos GK (diabéticos). 

Com base nestes resultados, a diabetes mellitus parece influenciar negativamente a cicatrização da periodontite apical, aumentando o aparecimento de flare-ups endodônticos e insucessos no tratamento de canais radiculares. 

A diabetes mellitus deve ser um fator importante a considerar no prognóstico do tratamento endodôntico e na taxa de sucesso ao longo do tempo, com estes doentes a necessitarem de um acompanhamento mais longo e com intervalos de tempo entre consultas mais curtos. Estes resultados reforçam a implicação que existe entre as infeções da cavidade oral e a saúde geral e ainda a necessidade de os clínicos valorizarem esta relação biunívoca.

 


Manuel Marques Ferreira


International Endodontic Journal
Impairment of the angiogenic process may contribute to lower success rate of endodontic treatments in diabetes mellitus


Fotografia de Rudi Fargo @ Unsplash

 


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