Isto é FMUC
O Instituto de Investigação Clínica e Biomédica de Coimbra (iCBR) é uma estrutura orgânica da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC) e integra o consórcio CIBB – Centro de Inovação em Biomedicina e Biotecnologia, do qual faz também parte o Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra (CNC-UC).
Embora conhecido por iCBR há apenas quatro anos, falamos de um instituto com quase 30 anos de história, anteriormente designado por IBILI (Instituto Biomédico de Investigação da Luz e Imagem). Francisco Ambrósio, diretor deste instituto desde novembro de 2016, explica o que esteve na origem da nova designação e dá a conhecer o trabalho que aí se desenvolve.
A importância da componente clínica e as cinco linhas de investigação
Localizado no Polo III da FMUC, o iCBR pretende ser um instituto com um foco particular na investigação clínica. Foi essa, aliás, uma das principais razões da mudança de nome de IBILI para iCBR, no qual o termo “investigação clínica” surge e é referido em primeiro lugar. “Uma vez que falamos de um centro de investigação de uma Escola Médica, creio que fazia todo o sentido que se desse alguma primazia à investigação clínica e que esta assumisse uma relevância maior, embora também façamos, naturalmente, investigação fundamental”, esclarece Francisco Ambrósio.
Por esse motivo, os grupos de investigação deste instituto contam com investigadores tanto da área da investigação clínica, quanto da área da investigação fundamental. O diretor do iCBR refere, inclusive, que, “felizmente, tem havido uma colaboração cada vez maior entre investigadores de ambas as áreas, para que daí possa resultar uma investigação translacional, com consequências na prática clínica”.
Deste modo, o principal objetivo do instituto é promover a investigação dos mecanismos celulares e moleculares relativos a diversas doenças crónicas, para identificar novas estratégias terapêuticas e biomarcadores das doenças e para descobrir e implementar novas abordagens de promoção da qualidade de vida e do bem-estar dos cidadãos.
Os grupos de investigação do iCBR estão distribuídos por cinco áreas estratégicas principais: 1) Doenças Cardiovasculares e Metabólicas; 2) Neurofarmacologia e Neuropsiquiatria; 3) Doenças da Visão; 4) Ambiente, Genética e Oncobiologia (área com um centro próprio – o CIMAGO, Centro de Investigação em Meio Ambiente, Genética e Oncobiologia – embora integrado no iCBR); e 5) Vida Saudável e Envelhecimento Ativo.
A participação no ensino pré e pós-graduado
A par da investigação, Francisco Ambrósio salienta que o iCBR contribui também, “de forma muito ativa, para o ensino”, já que os seus investigadores são, “frequentemente, responsáveis por cursos avançados”, com vários dos seus membros a desempenharem também atividade docente nos diversos programas de mestrado e de doutoramento, não apenas da FMUC, mas também de outras instituições de ensino, nomeadamente a Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC). “Recebemos também alunos para rotações laboratoriais de vários mestrados, como o Mestrado em Investigação Biomédica (MIB) e o Mestrado em Neurociências Molecular e de Translação, ministrados na FMUC, e o Mestrado Integrado em Engenharia Biomédica (MIEB) da FCTUC”, indica.
Além das rotações laboratoriais para alunos de cursos pós-graduados, o iCBR recebe, igualmente, alunos do ensino pré-graduado da Universidade de Coimbra (UC), que se encontram a frequentar as unidades curriculares de Projeto, e também alunos da FMUC, das unidades curriculares de Investigação Aplicada. “O que estes alunos aqui fazem acaba por ser um estágio curto, de um semestre, mas que não funciona a tempo inteiro”, explica. Francisco Ambrósio, que, a par da direção do iCBR, coordena também, desde 2002, o grupo de investigação Retinal Dysfunction and Neuroinflammation Lab, pertencente à área estratégica das Doenças da Visão, refere que, de momento, o seu laboratório conta com a presença de cerca de dez alunos dos diferentes níveis de formação externos ao grupo de investigação. “Por causa da situação pandémica que vivemos atualmente, não estão cá todos ao mesmo tempo. Aquilo que fazemos é um plano semanal para definir quando cada um deles pode vir: algo que, aliás, todos os laboratórios do iCBR têm feito”, destaca.
Francisco Ambrósio afirma que, dado o facto de este ser um instituto de uma Escola Médica, “existe realmente um envolvimento grande” dos investigadores na componente de ensino. “Participamos, por isso, em várias unidades curriculares, algumas delas opcionais, mas todas ligadas à parte da investigação. Eu próprio sou regente de uma unidade curricular de Investigação Aplicada e a maioria dos alunos desta unidade curricular acaba por desenvolver o seu projeto aqui, nos nossos laboratórios do iCBR, embora também tenham a possibilidade de fazê-lo noutros centros de investigação, como o CNC-UC, por exemplo”, indica.
Apesar da atividade docente ser maioritariamente realizada na FMUC ou noutras instituições pertencentes à UC, como é o caso da FCTUC, o diretor do iCBR refere que, por vezes, os investigadores são também convidados a lecionarem seminários noutras universidades, e que o instituto tem recebido, pontualmente, alunos para rotações laboratoriais que não estão a fazer a sua formação académica na UC, mas sim noutras instituições universitárias.
O envolvimento do iCBR com a sociedade e o serviço à comunidade
O iCBR participa também em atividades e eventos de divulgação científica e envolvimento público na ciência, embora, como observa o seu diretor, esta seja uma componente que, lamentavelmente, tem sofrido alguns constrangimentos desde o início do ano passado, quando foi declarada a atual pandemia, o que tem limitado uma interação mais próxima entre a comunidade científica e a sociedade.
Neste âmbito, Francisco Ambrósio destaca três iniciativas nas quais o instituto tem marcado presença ao longo dos anos: a Semana Internacional do Cérebro, a Noite Europeia dos Investigadores e a Semana da Ciência e Tecnologia. “Além disso, por vezes recebemos também alunos, nomeadamente do ensino secundário, que nos querem visitar e conhecer o nosso trabalho e as nossas instalações”, comenta.
Na senda das atividades que promovem o envolvimento com a sociedade, mas, sobretudo, o serviço à comunidade, o diretor do iCBR não deixa de destacar o notável contributo, a título voluntário, de vários investigadores do instituto, que se disponibilizaram, em abril do ano passado, numa fase crítica inicial da pandemia em que ainda se realizavam poucos testes a nível nacional, para ajudar na realização de testes de diagnóstico do novo coronavírus, tendo-se voluntariado para fazer parte do Laboratório COVID-19 UC, que a universidade implementou no Polo I da FMUC.
O iCBR organiza ainda alguns cursos destinados à comunidade científica, nomeadamente sobre experimentação animal, cultura de células e também sobre genética, que recebem participantes de todo o País.
As pessoas e o consórcio CIBB
Francisco Ambrósio indica que, atualmente, serão cerca de 240 as pessoas que integram o iCBR. “No último levantamento que fizemos, o instituto contava com cerca de 120 pessoas doutoradas e 120 pessoas não doutoradas, entre bolseiros, alunos de mestrado e alunos de doutoramento”. O diretor do instituto salienta, no entanto, que “uma parte significativa destas pessoas, talvez 40 a 50 por cento, na sua maioria clínicos, não se encontram a desenvolver a sua atividade de investigação no edifício do instituto”.
Tal como referido inicialmente, o iCBR faz parte do consórcio CIBB, juntamente com o CNC-UC. “A candidatura à avaliação de Unidades I&D [Investigação e Desenvolvimento] que na altura chamámos de consórcio CNC.IBILI iniciou-se em 2013, sendo que, em 2015, o consórcio passou a existir formalmente, mantendo-se com esse nome até o final de 2019”, explica Francisco Ambrósio.
Em 2017, foi decidido que o nome do consórcio passaria a ser CIBB: “até porque o IBILI já não existia enquanto tal e achámos, também, que era importante que o nome deste consórcio não resultasse apenas da junção dos nomes dos dois centros de investigação, mas que tivesse uma designação um pouco mais abrangente”, menciona. Assim, “desde 1 de janeiro de 2020, o consórcio constituído pelo iCBR e pelo CNC-UC, bem como pelo CEISUC [Centro de Estudos e Investigação em Saúde da Universidade de Coimbra] passou a chamar-se CIBB”.
No final de 2020, este consórcio candidatou-se ao estatuto de Laboratório Associado, estatuto atribuído pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) a uma instituição de I&D ou a consórcios entre instituições de I&D. “Felizmente, tivemos a classificação máxima nos três parâmetros avaliados”, congratula-se Francisco Ambrósio. Assim, o CIBB recebeu o estatuto de Laboratório Associado, atribuído por dez anos. “Fomos também avaliados enquanto consórcio de investigação: tivemos a classificação de ‘Muito Bom’, sendo que o máximo é ‘Excelente’, mas almejamos, no futuro, conseguir voltar a recuperar a classificação máxima”, assegura.
A investigação clínica e biomédica em Coimbra
“O que posso dizer é que, em Coimbra, faz-se investigação de qualidade – diria até de bastante qualidade – e equiparável à que se faz nos centros de investigação de Lisboa e do Porto, e internacionalmente”, declara o diretor do iCBR, quando indagado acerca do panorama da investigação, em Coimbra e no País, nas áreas clínica e biomédica, ressalvando que, na região Centro, são essencialmente duas as unidades de investigação que combinam estas áreas: o CIBB e o Centro de Imagem Biomédica e Investigação Translacional (CIBIT).
Para Francisco Ambrósio, o facto de alguns centros de investigação em Lisboa e no Porto terem obtido a classificação de ‘Excelente’ nos respetivos processos de avaliação mais recentes prende-se com o facto de terem mais fontes de financiamento competitivo, nomeadamente a nível europeu. “Penso que isso pesou na avaliação e esteve na base da sua classificação de ‘Excelente’, porque, quando fazemos a comparação com outros parâmetros, por exemplo, ao nível de publicações científicas no primeiro quartil, não ficamos propriamente atrás desses centros”, observa.
Além disso, o diretor do iCBR considera que, por diversos motivos, Lisboa e Porto acabam por ser cidades mais atrativas para os investigadores. Motivos estes que, por um lado, têm a ver com a própria localização destas cidades e, por outro, com as oportunidades que daí advêm. “Coimbra é uma cidade mais pequena, comparativamente a Lisboa e Porto, e está no centro do País: acho que isso tem algum peso, mas também não é desculpa, na medida em que há cidades noutros países que são do tamanho de Coimbra – às vezes até menores – e têm uma capacidade de atratividade enorme”, constata. Por isso, a solução para reverter este cenário está na aposta na qualidade. “Acho que temos bastante qualidade, mas se conseguirmos melhorá-la, se conseguirmos dar um salto qualitativo ainda maior, isso será importante para que consigamos também atrair mais pessoas”, afirma Francisco Ambrósio.
“Acho, em todo o caso, que a qualidade da investigação nacional nas áreas clínica e biomédica é muito boa e tem evoluído favoravelmente nos últimos anos: pode mesmo dizer-se que temos investigadores de topo, reconhecidos a nível internacional, quer aqui em Coimbra, quer, nomeadamente, em Lisboa, no Porto e em Braga”, conclui.
A atividade do instituto no atual contexto pandémico
Não é novidade o enorme impacto que a pandemia tem tido em todos os setores de atividade, e aquela que se desenvolve num instituto de investigação como o iCBR não foi, como é evidente, poupada às consequências das inevitáveis restrições que o contexto pandémico que atualmente vivemos originou.
“Em março do ano passado, quando tivemos de fechar o instituto, só foi permitido aos investigadores que tinham experiências a decorrer que as viessem concluir”. Este cenário manteve-se até maio de 2020, altura em que foi possível retomar alguma da atividade. “Esta situação afetou claramente a produtividade científica, principalmente a dos alunos de mestrado e de doutoramento, que tinham prazos para a entrega das teses que não puderam cumprir, tanto que a universidade teve de prolongar estes prazos”, refere Francisco Ambrósio.
As Reuniões Científicas do iCBR, que acontecem uma vez por semana, também foram inicialmente suspensas, aquando da declaração da pandemia, já que eram presenciais. Passaram a ser realizadas através da plataforma Zoom em junho de 2020, o que acontece até hoje. “O Zoom tomou conta das nossas vidas”, graceja Francisco Ambrósio, “embora tenha facilitado muita coisa, como podermos fazer reuniões de júri ou de concursos remotamente, sem precisarmos de sair de Coimbra; agora, resolvemos isso numa hora, enquanto antes era algo que nos ocupava um dia, pelo que acredito que, no futuro, estas reuniões online vão continuar, até porque se poupa dinheiro”.
O diretor do iCBR afirma que, atualmente, a atividade deste instituto está quase a chegar à normalidade: “aquilo que continuamos a recomendar é que tentem trabalhar a partir de casa se não tiverem trabalho laboratorial, e que só cá venham quando for mesmo necessário, para atividades no laboratório ou para pequenas reuniões”.
O balanço de cinco anos à frente do iCBR
Diretor do iCBR desde novembro de 2016, Francisco Ambrósio assegura que a avaliação que faz desta experiência é positiva. O que não significa que seja isenta de preocupações. “Tem sido uma experiência interessante, porque é desafiadora, mas, por outro lado, nem sempre é fácil. Não temos todos os recursos que gostaríamos de ter para que a qualidade do instituto seja projetada, não só a nível nacional, mas sobretudo internacionalmente”, afirma.
Francisco Ambrósio conta que tentou reorganizar o instituto, criando as cinco principais linhas de investigação em áreas estratégicas, por forma a “aproximar mais as pessoas de determinadas áreas, para que pudessem colaborar mais entre elas, mas também por forma a que houvesse uma maior colaboração entre a investigação mais fundamental e a investigação clínica”. Por isso, cada uma destas cinco linhas de investigação é “coordenada por um investigador da área fundamental e por um clínico, exatamente para tentar estimular essas colaborações e fazer essas pontes”. Deste modo, foi possível a criação de novos projetos, resultantes desta interação. “E eu fico muito satisfeito com isso”, admite o diretor do instituto.
Nas Reuniões Científicas do iCBR, esta dinâmica também se verifica, com os investigadores da área fundamental e da área clínica a participarem ativamente nas reuniões e a serem incentivados a identificarem investigadores, tanto do iCBR como de outras instituições, que possam contribuir para esta diversificação de temas e de convidados. “Isso tem servido, não só para divulgar internamente aquilo que todos andam a fazer, mas também para criar colaborações, o que é muito importante”, enfatiza Francisco Ambrósio.
Por isso, o esforço para melhorar, a cada dia, a qualidade da investigação do instituto vai continuar. “Não posso dizer em causa própria que tenho feito um bom trabalho, mas o que eu posso dizer é que tenho tentado fazer o melhor em prol do iCBR e da FMUC e que tenho tentado motivar as pessoas – quer os mais jovens, quer os mais experientes – a terem esta dinâmica de investigação e a pensarem um pouco mais alto. Porque isso é bom para todos: para cada um de nós, para o instituto, para a faculdade e para a universidade”.
O futuro do iCBR
Ao perspetivar o futuro do instituto, e para que este possa ser risonho, Francisco Ambrósio é categórico na identificação de três metas que deverão ser alcançadas: aumentar a massa crítica, adquirir melhores equipamentos e melhorar a capacidade de atrair financiamento competitivo.
“Era importante haver mais massa crítica nas áreas em que desenvolvemos a nossa atividade, porque o iCBR pode parecer um instituto grande, mas não o é verdadeiramente. Como referi, apesar dos cerca de 120 doutorados com filiação institucional, quase metade, que pertence, sobretudo, à área clínica, não faz investigação ativa diariamente, embora a que faça seja de bastante qualidade”, denota o diretor do instituto, “mas se pensarmos que somos apenas cerca de 60 doutorados, a trabalhar a tempo inteiro e distribuídos por diferentes áreas, somos realmente poucos”.
Quanto à necessidade de adquirir melhores equipamentos, Francisco Ambrósio esclarece que o iCBR tem equipamento de qualidade, mas que falta “equipamento de ponta, que faria uma grande diferença” na investigação realizada. “Infelizmente, as verbas disponíveis para a aquisição de equipamento são relativamente baixas e, apesar de termos feito algumas aquisições, eu diria que estas estão muito longe daquilo que seria o desejável. Devemos tentar responder positivamente a este problema. É fundamental termos mais e melhor equipamento, de qualidade, bem como pessoas e técnicos com formação e capacidade para extraírem o máximo de potencialidade desses equipamentos”, refere.
O outro aspeto a ser melhorado é a capacidade de atrair financiamento competitivo. “Essa capacidade é, de momento, relativamente pequena no iCBR, especialmente no que diz respeito à atração de financiamento europeu”, constata Francisco Ambrósio, que ressalva, neste âmbito, o Instituto Multidisciplinar do Envelhecimento (MIA Portugal) e o European Research Area – ERA Chair, projetos bem-sucedidos e que atraíram financiamento relevante. “Sem financiamento, não podemos fazer muita da nossa investigação, que é cara, mas a verdade é que, sem investigação e sem resultados preliminares, é difícil conseguirmos esse financiamento… Temos de dar um salto qualitativo: não é fácil, mas não é impossível”, declara.
Francisco Ambrósio acredita, por isso, que a solução passa pela identificação de boas perguntas científicas – que até “podem ser simples, mas que devem ser grandes” – e pelo consequente “desenvolvimento de projetos que procurem responder a essas grandes questões, que sejam disruptivos e inovadores”. Com ideias novas e diferenciadoras para a investigação, será “mais fácil atrair financiamento competitivo, massa crítica, verbas para equipamento e gerar melhores publicações”. Até porque, como sintetiza Francisco Ambrósio, “uma coisa vai levando à outra”.