Coimbra Eye Study caracteriza prevalência e incidência da DMI em população da Região Centro
Sobre o estudo
A degenerescência macular da idade (DMI) é uma doença neurodegenerativa da retina associada ao envelhecimento, que afeta primariamente o complexo fotorrecetores-epitélio pigmentar-coriocapilar da mácula.
Nos estádios avançados, complicações como a neovascularização e/ou atrofia macular originam perda grave de visão, e constituem a principal causa de cegueira irreversível em países desenvolvidos.
A compreensão dos mecanismos patofisiológicos é, no entanto, um desafio na DMI pela sua complexa natureza multifatorial; por outro lado é de extrema importância no objetivo de identificar novos targets terapêuticos e de modificação da história natural da doença em fases precoces.
O Coimbra Eye Study é o único estudo epidemiológico da DMI em Portugal, e que permitiu caracterizar a prevalência e incidência da DMI numa população da região centro. Permitiu ainda uma extensa caracterização demográfica e fenotípica da população analisada, que incluiu a realização de tomografia de coerência ótica spectral-domain (SD-OCT).
O objetivo do trabalho agora desenvolvido e publicado foi analisar com maior detalhe a espessura de todas as camadas neuronais da retina macular em doentes diagnosticados com DMI precoce, com recurso a segmentação semi-automática no SD-OCT, e subsequentemente, explorar a sua evolução por estádio, e correlacionar esta variação com a presença de outros marcadores fenotípicos de progressão da doença.
Resultados e impacto
Os nossos resultados mostraram que em doentes com DMI precoce várias camadas neurorretinianas, tanto internas como externas, eram mais finas em doentes de estádio superior. Ou seja, apesar de a DMI afetar primariamente a retina externa incluindo o epitélio pigmentar e a coriocapilar, parece haver um processo neurodegenerativo que se propaga às restantes camadas neuronais à medida que a doença progride.
O padrão de degenerescência parece ser assim retrógrado com envolvimento secundário da retina interna. De nota, é que isto ocorre em estádios precoces/intermédios da doença e antes que ocorra perda de visão típica dos estádios avançados. Também demonstrámos que a presença de lesões específicas como os pseudodrusen se associaram a um adelgaçamento retiniano e coróideu mais acentuado, podendo ser marcadores de maior neurodegenerescência.
A DMI surge assim como uma doença neurodegenerativa que afeta toda retina, e estas alterações objetivas e quantificáveis por OCT podem ser utilizadas como biomarcadores de progressão, com potencial de inclusão em modelos complexos de progressão de doença com recurso a inteligência artificial, por exemplo.
Prever quais os doentes com maior risco de progressão é da maior importância, na medida em que serão estes que mais beneficiarão de novas terapêuticas modificadoras da história natural da doença.
Rufino Silva
Graefe's Archive for Clinical and Experimental Ophthalmology
Retinal layer thicknesses and Neurodegeneration in Early Age-related Macular Degeneration – Insights from the Coimbra Eye Study
Fotografia de alpay tonga @ Unsplash