Sobre o estudo
Este estudo evidenciou que a manutenção de ciclos menstruais em mulheres pré-menopausa com cancro da mama hormonodependente (receptores de estrogénio positivos) e sem mutações da linha germinativa não é o único motivo que conduz à decisão de ablação cirúrgica da função ovárica.
Na verdade, dado existir uma alternativa médica de supressão da função ovárica, permanece controversa a opção pela terapêutica médica ou cirúrgica. A ineficácia da supressão médica da função ovárica constitui a principal indicação para a anexectomia, particularmente quando associada ao mau prognóstico ou vontade da doente.
Foi feita uma análise retrospectiva dos registos clínicos das doentes submetidas a anexectomia bilateral no Serviço de Ginecologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), entre 2005 e 2011, num total de 79 doentes.
Resultados e impacto
Na sua maioria, a manutenção de ciclos menstruais foi a principal razão para castração cirúrgica (34.2%), mas houve outros motivos pelos quais este procedimento foi realizado, nomeadamente: por opção da mulher (31.6%), como tentativa de salvação em doença avançada (16.5%), por presença de patologia ginecológica uterina e/ou anexial concomitante com indicação cirúrgica (13.9%) ou por contraindicação ou intolerância à toma de tamoxifeno (3.8%).
Nas mulheres ≥ 45 anos, a cirurgia ovárica por opção da doente foi o motivo mais frequente [47.4% versus 17.1% (p = 0.004)], o que seria expectável pois na sua maioria o projeto reprodutivo estaria já cumprido. Nas doentes mais jovens (< 45 anos), a tentativa de salvação na doença avançada foi significativamente mais frequente que nas doentes > 45 anos, evidenciando a maior prevalência de tumores mais agressivos e em estádios mais avançados nesta faixa etária. No grupo de doentes previamente submetidas a supressão ovárica com tamoxifeno, 60% optaram pela cirurgia por manterem ciclos menstruais sob esta terapêutica.
Este estudo veio reforçar a necessidade de informação adequada e discussão partilhada com as doentes sobre qual a estratégia terapêutica a adotar em muitos casos de cancro da mama hormonodependente em mulheres pré-menopausicas.
Margarida Figueiredo Dias
Fotografia de Ava Sol @ Unsplash