Isto é FMUC
A aNEMia é a revista do Núcleo de Estudantes de Medicina da Associação Académica de Coimbra (NEM/AAC). Com mais de 20 anos de existência, começou por ser um jornal antes de se tornar numa revista, mas o seu propósito mantém-se: “dos estudantes da FMUC para o mundo”.
Os conteúdos da revista e a participação em outras atividades
Todos os conteúdos da aNEMia são idealizados e desenvolvidos por estudantes da FMUC, havendo um membro da redação já a exercer medicina, sem esquecer que os ex-estudantes da Faculdade estão sempre dispostos a colaborar com o NEM/AAC. Rita Rodrigues, atual coordenadora da revista, explica que são 33 os membros da sua equipa – todos estudantes do Mestrado Integrado em Medicina (MIM) – que têm os conteúdos a seu cargo, mas que qualquer estudante da FMUC pode participar na revista, enviando conteúdo próprio para publicação. “Qualquer estudante da FMUC, mesmo que não seja membro da aNEMia, pode contactar-nos para escrever algo seu, podendo, inclusive, optar por não revelar a sua identidade, caso prefira não o fazer: o que queremos é que os alunos encontrem na revista um lugar para se expressarem”, destaca.
Os conteúdos desta revista, de distribuição gratuita, são, por isso, variados. Atualmente disponível apenas em formato online, devido à pandemia, da aNEMia fazem parte sete secções, como ‘Nosso Mundo’, ‘Mundo de Todos’ e ‘Educação Médica’, entre outras. “A secção ‘Nosso Mundo’ é sobre o mundo da Medicina, em que falamos, por exemplo, na emergência pré-hospitalar, no método de acesso ao curso de Medicina ou, como aconteceu nesta última edição [59ª Edição], no concurso de acesso especial a licenciados; já na secção ‘Mundo de Todos’, falamos de temas da atualidade, como a proibição do aborto ou a violação dos direitos humanos”, esclarece a coordenadora da revista.
Assim, os conteúdos da aNEMia tanto abordam temas mais vastos, do interesse de diferentes tipos de leitor, como temas mais intimamente ligados ao estudo da Medicina e à profissão médica, com o intuito de esclarecer os alunos. “Neste momento, estamos a falar com médicos que estão a fazer o ano comum em diferentes hospitais, para que o estudante de Medicina, quando termine o 6º ano do curso, possa estar na posse dos conhecimentos necessários para tomar uma decisão mais fundamentada acerca do local onde vai trabalhar, uma vez que a realidade é que, quando acabamos o 6º ano, sabemos muito pouco daquilo que nos espera, em termos práticos”, observa.
Conforme explica Rita Rodrigues, o número de secções pode também variar de acordo com o coordenador em funções. No seu caso particular, fez uma reunião com todos os membros quando iniciou o seu mandato como coordenadora da revista, no sentido de aferir quais os conteúdos que, no entender de todos, mais faziam sentido serem publicados. “Nessa primeira reunião, colocámos tudo em causa, porque defendo que a aNEMia é feita pelos seus membros e que, por esse motivo, todos eles devem estar confortáveis com a revista e identificar-se com ela”, salienta.
Recentemente, esta revista passou também a contar com uma versão áudio: “assim, as pessoas que não gostam muito de ler já não têm desculpa para não estarem a par do que se passa na aNEMia”, destaca Rita Rodrigues, em tom de brincadeira. Esta versão áudio está disponível no podcast Oitavo Par, do NEM/AAC.
Para além do desenvolvimento da revista, a aNEMia, que se constitui, igualmente, enquanto departamento do NEM/AAC, tem como objetivos a criação de parcerias ou o auxílio a outros departamentos deste Núcleo. “Por exemplo, este ano estivemos presentes no In4Med, o grande congresso da nossa universidade, para mostrarmos os bastidores deste evento e entrevistarmos alguns dos seus oradores”, refere a coordenadora.
Outra das iniciativas que a aNEMia tem vindo a promover, e que vai já na sua terceira edição, é um workshop de escrita criativa. “Neste workshop, dado pela Professora Graça Capinha, da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, descomplicamos a escrita”, começa por explicar Rita Rodrigues. “No fundo, a principal ideia que nos é transmitida é a de que não devemos pensar demasiado no que estamos a escrever porque, dessa forma, acabamos por não conseguir escrever praticamente nada; por outro lado, se não formos tão autocríticos e se recorrermos aos mecanismos que nos são ensinados neste workshop, conseguimos ganhar inspiração e escrever textos muito mais interessantes e atrativos”, enfatiza. Por se tratar de uma formação com uma forte componente prática, cada edição deste workshop recebe, no máximo, 15 participantes, todos alunos de Medicina. “Já participaram alunos de outras Escolas Médicas, mas, por norma, e tendo em conta este número reduzido de participantes, damos primazia aos alunos da FMUC”, explica a coordenadora da aNEMia.
O envolvimento dos estudantes da FMUC
Pelo número considerável de membros da aNEMia – falamos de 34 pessoas, contando já com Rita Rodrigues – consegue, facilmente, perceber-se que esta é uma iniciativa que mobiliza muitos estudantes da FMUC. Algo notável se tivermos em linha de conta que todas as tarefas relacionadas com o desenvolvimento de uma revista requerem a sua dedicação e o seu tempo, o que nem sempre é compatível com uma vida académica exigente. No entanto, isso não parece ser um problema para estes estudantes, que têm gerido os seus estudos por forma a conseguirem também abraçar o desafio de fazer parte da equipa da revista aNEMia.
“Quando um coordenador termina o seu mandato e passa a pasta ao futuro coordenador, é feita uma reunião na qual os membros que querem continuar a colaborar na revista manifestam essa intenção. Depois, fazemos aquilo a que chamamos uma Call, para recrutamento de novos membros, mas, habitualmente, os membros querem sempre continuar, porque isto é espetacular e ninguém quer ir embora!”, graceja.
“Sabemos que, anteriormente, as pessoas vinham para a aNEMia a pensar que a única coisa que iriam fazer era escrever. Mas a verdade é que uma revista não funciona só com pessoas a escrever: é preciso haver quem faça cartazes, organize conteúdos, faça a descrição dos posts que publicamos nas redes sociais, entre outras tarefas. Por isso, quando fizemos a última Call, demos a indicação de todas as tarefas que os interessados em colaborar na revista poderiam desempenhar, o que fez com que fossem muitas as pessoas que se candidataram e vieram ter connosco”, destaca. Este empenho e envolvimento de todos os estudantes nas diferentes fases do desenvolvimento da aNEMia tem-se refletido no sucesso desta revista, cuja edição de dezembro, a título de exemplo, registou cerca de sete mil leituras.
Apesar da exigência das atividades da aNEMia, que têm de ser conciliadas com os estudos, também exigentes, Rita Rodrigues assegura que todos os envolvidos as desempenham com gosto, e não por obrigação. “A realidade é que, no final de um dia de estudo, sabe bem podermos dedicar-nos à aNEMia, é algo de que tanto eu como todos os colaboradores gostamos realmente. Eu gosto imenso de escrever: para mim, é algo terapêutico, e sei que para os outros membros também. Além disso, sentimos a necessidade de informar os leitores acerca de determinados assuntos e também de mostrar aquilo que conseguimos fazer, com muita qualidade, enquanto estudantes de Medicina”, salienta.
Rita Rodrigues admite, por isso, que é preciso ter “muita organização pessoal e saber gerir o tempo”, mas também que, quando fazemos aquilo de que gostamos realmente, o resultado final acaba por ser demonstrativo dessa dedicação. “A aNEMia tem a qualidade que tem porque quem lá está gosta do que faz e não está lá só ‘porque sim’: está lá porque tem mesmo essa vontade, bem como a de impactar a vida das outras pessoas com os seus textos” denota.
Além disso, refere, igualmente, que o facto de entrevistarem diversas pessoas para saberem mais acerca da sua história de vida faz com que os alunos de Medicina consigam estabelecer um maior grau de proximidade e de entendimento de outras realidades às quais, muitas vezes, acabam por não ter acesso enquanto estudantes. “Onde é que nós, no curso de Medicina, temos a oportunidade de falar abertamente com uma vítima de violência doméstica, ou com uma pessoa que tenha feito a cirurgia de mudança de sexo? É difícil, por vezes, termos acesso a estas pessoas, que estejam dispostas a contar-nos as suas histórias sem tabus”, refere. Assim, quando entrevistam os seus convidados, e considerando o âmbito da revista, têm sempre o cuidado de abordar questões médicas, perguntando aos entrevistados a sua opinião relativamente ao papel desempenhado pelo médico que acompanhou o seu caso.
“Quando entrevistamos alguém, começamos sempre por explicar que somos estudantes de Medicina, pelo que podem confiar em nós e ficar à vontade caso não se sintam confortáveis com algumas perguntas”, esclarece, “mas somos sempre honestos e dizemos mesmo que o nosso intuito com a entrevista é também o de que um dia, enquanto médicos, saibamos agir da melhor forma possível quando nos depararmos com alguém em condições semelhantes”. A coordenadora da aNEMia afirma, por isso, que todas as entrevistas são cuidadosamente preparadas em equipa, para que sejam o mais ricas e pertinentes possível.
Um mandato breve, mas enriquecedor
A frequentar o 5º ano do curso, Rita Rodrigues explica que, devido à atual pandemia, o seu mandato, que deveria durar um ano, acabou por ser encurtado e ter a duração de nove meses, já que começou mais tarde do que o previsto. Assim, iniciou as funções como coordenadora da revista aNEMia em outubro de 2020, terminando-as agora, em junho de 2021.
Tal não significa, no entanto, que a experiência não tenha sido devidamente vivida e aproveitada, ou que dela Rita Rodrigues não retire importantes lições para o futuro. Pelo contrário. “Sei que vou ser melhor médica, mãe e amiga depois desta vivência, porque foi no NEM que aprendi o que é trabalharmos em equipa”, declara, confessando também que a grande vontade que tinha de abraçar o desafio de ser coordenadora da aNEMia permitiu que encontrasse mecanismos para contornar a sua timidez.
“Antes de assumir este cargo, li imensas coisas sobre liderança e gestão e motivação de pessoas, porque são temas dos quais gosto mesmo muito” refere. Embora nunca tivesse desempenhado um cargo de liderança, que envolvesse a gestão de uma equipa, Rita Rodrigues afirma que a sua postura sempre foi a de estar disponível para ouvir os anseios e opiniões dos seus colaboradores. “Sabia que, se ouvisse todos os membros da aNEMia e os respeitasse e apoiasse, mesmo que estivéssemos numa situação menos boa, tudo ia acabar por correr bem”, observa.
“Aliás, estou sempre a dizer que lamento só ter entrado para o NEM/AAC no meu 5º ano”, confessa. “Antes da primeira reunião da aNEMia, estava nervosa por ter de agendar uma reunião no Zoom. E, depois, como sou tímida, o facto de ter de estar à frente de uma reunião, a motivar as pessoas, foi realmente desafiante… Aprendi, de certa forma e como se costuma dizer, a fazer omeletes sem ovos, porque estão sempre a acontecer imprevistos que, por muito que tentássemos, nunca poderíamos antever, mas que, a seu tempo, conseguimos sempre solucionar”, salienta. Destes meses em que coordenou a revista aNEMia, Rita Rodrigues garante também que não esquecerá as “pessoas incríveis” com as quais teve oportunidade de trabalhar: “são pessoas que gostam realmente de ali estar, e isso é algo que nos diferencia”, conclui.