Lucerna

Encontrava-me no ano de 2015 e no quarto ano da especialidade de Endocrinologia e Nutrição quando realizei o estágio de Biologia Molecular e Laboratório de Endocrinologia no Oxford Centre for Diabetes, Endocrinology and Metabolism, Reino Unido. Conheci uma referência da Endocrinologia mundial, o Professor Rajesh Thakker. Uma pessoa formidável, um cientista admirável, um amigo, o tutor do meu percurso profissional. O Professor Rajesh Thakker dedica-se ao estudo da genética e biologia molecular dos tumores endócrinos, tendo em vista o desenvolvimento de novos tratamentos, dedica-se também ao estudo da sinalização do calcium-sensing receptor e doenças genéticas do osso e rim. Este foi um ponto de viragem.

Aprendi a ver o mundo sob os olhos de um investigador, a olhar para as pessoas e para os seus problemas clínicos sob a curiosidade e metodologia, que a ciência demanda. Contactei com os desafios e insucessos, mas também com os sucessos e descobertas resultantes do método científico. Integrei uma equipa líder mundial, na área dos tumores endócrinos, o que acabou por moldar o meu futuro.

O meu primeiro contato com o método científico formal remonta ao tempo do meu Mestrado Integrado em Medicina, há cerca de 15 anos, na Faculdade de Ciências Médicas, enquanto monitor da disciplina de Bioquímica II, com particular enfoque na Biologia Molecular. Este facto acabou por influenciar a minha escolha da especialidade – Endocrinologia – que, como é sabido, requer consideráveis conhecimentos de Fisiologia e Biologia Molecular para a compreensão dos processos patológicos subjacentes às mais variadas doenças endócrinas. Assim, acabei por escolher uma especialidade médica com grande relação com a investigação translacional. Realizei o internato de Endocrinologia no Serviço de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo, do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, onde adquiri treino para o exercício autónomo da especialidade e desenvolvi experiência em investigação clínica.

Durante o internato, tive a oportunidade, em Oxford, de realizar investigação laboratorial na área dos tumores hipofisários e tumores da paratiroide. Viviam-se tempos difíceis, bem no centro da crise financeira. As aprovações para formação no estrangeiro eram difíceis e não fosse o apoio indefetível do Serviço de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo, na pessoa do seu diretor, Dr. Francisco Carrilho, esta oportunidade, que substancialmente alterou o meu trajeto profissional, não teria sido possível. O trabalho realizado incluiu o desenho das experiências e a execução de várias técnicas de Biologia Molecular, que consolidaram o meu gosto pelo espectro das ciências médicas, desde a bancada do laboratório, ao gabinete de consulta. Assim, iniciei o Programa de Doutoramento em Ciências da Saúde da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra. Não obstante, a conciliação entre a atividade clínica, a tempo inteiro, e a investigação é extremamente difícil. A colaboração na Consulta de Tumores Hipofisários, do Serviço de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo, coordenada pela Dra. Isabel Paiva (Diretora do Serviço) e pela Professora Doutora Leonor Gomes (Regente da Unidade Curricular da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra) permitiu-me identificar várias lacunas de conhecimento e oportunidades para investigação, nesta área da Endocrinologia.

Aqui chegados, como seria expectável, a área de investigação do projeto de doutoramento são os tumores hipofisários, sua patogénese e implicações terapêuticas, sob a orientação da Professora Doutora Leonor Gomes (Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra), Professora Paula Soares (i3S - Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto) e do Professor Rajesh Thakker (Oxford Centre for Diabetes, Endocrinology and Metabolism).


Luís Cardoso é aluno do Doutoramento em Ciências da Saúde da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra.

Lucerna

Ilustração por Ana Catarina Lopes