Editorial

Conseguimos, finalmente, desfrutar de alguma liberdade e retomar algumas das nossas rotinas, que tanta falta nos fizeram. As portas abrem-se, as ruas voltam a ser freneticamente pisadas por transeuntes desejosos de chegar a um destino há tanto ansiado. O cinema e o teatro trazem de novo a representação de vidas já esquecidas, enquanto o café volta a ser saboreado, sofregamente, até à última borra. As esplanadas são novamente o local de encontro para matar as saudades acumuladas depois de longos meses de isolamento e solidão. Nas paredes das salas de aula voltam a ecoar as vozes de estudantes e professores há tanto amordaçadas por um vírus que teima em não dar tréguas. Este é um prémio merecido pelos sacrifícios por que passámos nos últimos tempos e que nos privaram de muito daquilo que é nossa condição humana. É um momento particularmente importante para os jovens, aos quais lhes têm sido roubadas fases determinantes para o seu crescimento, maturidade e felicidade, que implicam descoberta, aventura e partilha. Voltámos a dar valor à liberdade, até há pouco de tal forma entranhada nas nossas vidas quotidianas que a considerávamos, felizmente, um bem natural e adquirido. 

No entanto, para que assim possamos continuar, desconfinados e livres, é essencial que mantenhamos um comportamento adequado, sensato e regrado. Devemos valorizar e desfrutar desta “nova” liberdade, mas ela acaba quando começa a dos outros, que deve ser respeitada. Desta forma, ao salvaguardarmos a nossa saúde estamos também a proteger a saúde da comunidade. A solução para este problema começa em cada um de nós. Já começamos a ter uma percentagem significativa da população vacinada. Mas há ainda um longo caminho a percorrer e não pode haver desleixos ou facilitismos. Principalmente, entre as pessoas não vacinadas, em particular aqueles que estão no último lugar da fila para a vacinação: os mais novos. A estes, peço um pouco mais de paciência, esforço e resiliência, para que possamos levar de vencida esta batalha. Peço que mantenham um comportamento responsável, moderado e respeitem as regras impostas. Porque os mais jovens, ao contrário do que se pensa, não estão naturalmente protegidos dos efeitos nefastos da doença. É bom que se perceba, de uma forma inequívoca, que este vírus pode não só afetar pessoas de menor idade, como também deixar sequelas graves. E é tão fácil evitá-las! 

Hoje sabemos como inverter o rumo natural que esta pandemia poderia levar, caso fossemos negligentes e displicentes. Dado a elevada capacidade de contágio (e também infecciosidade) deste vírus, numa outra altura, com uma civilização menos preparada, a COVID-19 iria seguramente deixar um lastro de perda de vidas humanas... dada a sua “força”, este vírus iria, seguramente, dizimar uma larga percentagem da população. Felizmente temos, hoje, ao nosso dispor, estratégias que nos permitem encarar o futuro com grande otimismo e esperança e “menorizar” os estragos infligidos, através não só das vacinas, mas também pelo cumprimento de medidas simples como o uso de máscara, higienização e distanciamento social. Se conseguirmos isto, o vírus vai perder esta guerra! É uma questão de sobrevivência. Não podemos esconder que esta pandemia deixará uma marca civilizacional, por tudo aquilo que já nos obrigou a mudar e que nos surripiou. Resta-nos escolher que preço queremos pagar, daqui em diante, se em vidas ou em mortes!

Este é um assunto que, invariavelmente, acompanha toda esta edição da Voice*MED. A começar com “Do curso de Medicina”, onde o Professor Luís Cunha, entre tiros e minis, nos conta como o sonho da descoberta espacial se ficou pela condução de um drone. Esta é uma oportunidade única para conhecer o homem afável, próximo, delicado, compassivo que se esconde por detrás da figura mais austera e quase intimidatória que nos habituámos a ver. 

Na rubrica 4’33’’, o Professor Sobrinho Simões, um “homem do Norte” que preside ao Conselho Nacional dos Centros Académicos Clínicos, através de uma visão clara, objetiva, assertiva, serena e sóbria ajuda-nos a perceber a importância destas estruturas para o avanço das ciências (bio)médicas em Portugal. Um depoimento imperdível de alguém que conhece, como ninguém, o chão que pisamos.

Em “Isto é FMUC”, vamos conhecer a Clínica Universitária de Medicina Geral e Familiar, através da voz do seu Diretor, o Professor Luiz Santiago, que nos explica porque é esta uma especialidade tão particular e importante, nomeadamente em tempos de pandemia, devido não só à sua abrangência, mas também pelo contato tão próximo com as pessoas. 

Em “Lucerna”, Luís Cardoso, endocrinologista e estudante do nosso Programa de Doutoramento, conta-nos como apareceu o seu gosto pela investigação mais básica e de que forma esta é hoje útil para chegar aos seus doentes.

Em “Fora da Medicina”, convidamos a visitar a Casa da Escrita, outrora lugar de tertúlias reunindo intelectuais, pensadores e artistas, hoje um espaço de promoção da escrita e divulgação do livro e da leitura.

Finalmente, Sofia Rodrigues, Gestora de Ciência no GGI-FMUC, prescreve um conjunto de simples prazeres que podem estar na base de experiências e vivências marcantes. 

      



Henrique Girão


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