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Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra

Trabalho salienta importância de caracterização do perfil neurotoxicológico de novas substâncias psicoativas


Sobre o estudo

Na última década temos assistido a uma mudança radical no paradigma de consumo de drogas de abuso, com o aparecimento de novas substâncias psicoativas (NPS). Estas substâncias são drogas sintéticas que resultam da modificação de substâncias psicoativas já conhecidas, podendo originar substâncias com um perfil farmacológico desconhecido ou substâncias mais potentes do que as moléculas de partida.

A maior parte destas substâncias não são controladas pelas leis internacionais sobre drogas e incluem catinonas sintéticas, canabinóides sintéticos, benzodiazepinas, opiáceos, alucinógenos e dissociativos. As catinonas sintéticas dominaram as apreensões de NPS na Europa de acordo com o último relatório da EMCDDA (European Monitoring Centre for Drugs and Drug Addiction).

As catinonas sintéticas são quimicamente relacionadas com a catinona, um estimulante que ocorre naturalmente na planta khat (Catha edulis). Estas substâncias têm efeitos semelhantes aos das drogas estimulantes ilícitas comuns, como a cocaína e anfetaminas. As catinonas sintéticas são normalmente comercializadas pela Internet, sendo publicitadas como “sais de banho” ou “fertilizante de plantas”. A 3,4-methilenedioxipirovalerona (MDPV) é uma catinona sintética comum e já foi adicionada à lista das substâncias NPS monitorizadas pela EMCDDA e pela Europol.

Os 21 estados-membros aplicaram medidas de controlo a esta substância. A literatura sugere que o perfil psicofarmacológico da MDPV é semelhante ao da cocaína e da metanfetamina, embora seja mais potente e duradouro. No entanto, a informação sobre o potencial neurotóxico desta substância em modelos animais é limitada. Assim, este estudo visou oferecer uma análise integrada do impacto agudo da MDPV em marcadores clássicos de neurotoxicidade, incluindo alterações de comportamento, perturbações neuroquímicas e gliais em murganhos injectados com 4x10 mg/kg de MDPV em intervalos de duas horas (administração em “binging”). No estudo olhámos para as primeiras 24 horas pós-administração desta substância (efeito agudo). Utilizámos ainda a metanfetamina como comparador.


Resultados e impacto

Demonstrámos que a MDPV não alterou significativamente o comportamento locomotor nem o comportamento emocional. Esta substância também não produziu toxicidade nos terminais dopaminérgicos estriatais, não alterou a densidade de imunomoduladores nem suscitou a activação das células da glia (microglia e astrócitos) no estriado. Olhámos para esta região cerebral visto que é afectada negativamente por psicoestimulantes.

Por outro lado, este estudo serviu para aprofundar a caracterização da neurotoxicidade da metanfetamina: demonstrámos que esta neurotoxina aditiva alterou o comportamento, produziu toxicidade nos terminais dopaminérgicos, activou os astrócitos e também alterou a arborização da microglia em murganhos.

Apesar deste estudo sugerir que a MDPV não tem o perfil neurotóxico das anfetaminas clássicas, devemos olhar para outras regiões do cérebro (como por exemplo o córtex frontal e o hipocampo) e para outros momentos de observação. É fundamental caracterizar o perfil neurotoxicológico destas novas substâncias para podermos desenhar melhores políticas públicas de prevenção e redução de riscos e minimização de danos no contexto das drogas de abuso.


Frederico Pereira

Pharmaceuticals
Acute MDPV Binge Paradigm on Mice Emotional Behavior and Glial Signature 

Fotografia de Michael Longmire @ Unsplash



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