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Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra

Estudo avalia alterações na retina e no cérebro em fases precoces de Alzheimer

Sobre o estudo 

Este trabalho foi desenvolvido tendo como base o conceito ‘A retina como uma janela para o cérebro ou um espelho do cérebro’, no contexto da doença de Alzheimer. A retina faz parte do sistema nervoso central, tem a mesma origem embrionária que o cérebro, sendo considerada uma extensão do mesmo. Deste modo, é compreensível assumir-se que estando o cérebro afetado na doença de Alzheimer, a retina também poderá estar.

Na realidade, as alterações na retina até poderão ser mais precoces, uma vez que em alguns doentes de Alzheimer foram reportadas alterações visuais antes de ocorrerem alterações de memória e cognitivas. Além disso, num trabalho que publicámos anteriormente, utilizando um modelo animal de doença de Alzheimer (3xTg-AD), conseguimos detetar alterações na estrutura e função da retina desde períodos precoces (4 meses).

Neste trabalho, procurámos perceber se também era possível detetar alterações moleculares e celulares precoces, aos 4 e 8 meses de idade dos animais, se essas alterações ocorriam simultaneamente na retina e no cérebro, nomeadamente no hipocampo e córtex, ou se as alterações até poderiam ocorrer mais precocemente na retina.


Resultados e impacto

Os resultados obtidos no modelo animal de doença de Alzheimer indicaram que não existem alterações marcadas a nível molecular e celular nos períodos mais precoces da patologia (4 e 8 meses de idade dos animais), o que contrasta com resultados anteriores nossos, os quais mostraram uma redução da espessura da retina e alterações na sua fisiologia, assim como redução do volume do hipocampo e do córtex visual, desde períodos precoces.

No presente estudo até se detetaram algumas alterações pontuais em alguns parâmetros avaliados, como por exemplo na morfologia da microglia, as células imunes do sistema nervoso central, mas as mesmas não foram consistentes nos dois períodos avaliados, e nas regiões avaliadas.

Tendo em consideração apenas os resultados obtidos neste artigo, e os parâmetros moleculares e celulares avaliados neste modelo animal, pode-se afirmar que a retina não foi uma janela para o cérebro ou um espelho do cérebro, pelo menos nas fases precoces da patologia.

No entanto, como estudos anteriores indicam o oposto, a questão fica em aberto: a retina pode ser uma janela para o cérebro ou um espelho do cérebro? Ainda não temos uma resposta cabal para esta questão. São necessários estudos adicionais para se poderem ter mais certezas.


Francisco Ambrósio

Molecular Neurobiology
Retina and brain display early and differential molecular and cellular changes in the 3xTg-Ad mouse model of Alzheimer’s disease 

Fotografia de KattanaSox @ Pixabay