Lucerna

Porquê Medicina? Porquê Coimbra? Porquê eu?


Era uma vez uma criança que descobriu que tinha um papel e uma presença no mundo. De facto, quando isso aconteceu, essa criancinha tinha cinco anos e, curiosamente, era eu.

Com mais um anito, entrei na escola, e desde cedo demonstrei facilidade e gosto pelo Estudo do Meio, que viria a manter em Ciências Naturais, a aprimorar a Matemática e a desenvolver a Físico-Química. Na verdade, esta facilidade em relação às restantes áreas do conhecimento influenciou, de forma determinante, o meu ingresso no curso de Ciências e Tecnologia.

Aí apareceu a primeira grande decisão: O CURSO, aquele “senhor” que todos queremos conhecer um dia (um longínquo dia), mas não sabemos bem quem é, de qual família será, nem qual teremos o privilégio de conhecer.

O tempo caminhava… era sempre para amanhã - Tenho de ver que notas tiro… Que cursos gosto… Onde serei feliz… - dizia eu à minha família. Os avós gostavam de estar informados dos meus interesses e os meus pais (em especial a mãe) iam dando sugestões – Olha, filho, quer escolhas Medicina, quer Biologia, tens todo o nosso apoio em qualquer que seja a tua decisão. Aí estava a parte assustadora, a MINHA decisão.

Ao longo do 11º ano, consegui, como resultado de pequenas pesquisas, afunilar a escolha a duas opções principais: ou seria Medicina, ou seria Biologia (com Geologia ou não). Gostava de ter uma profissão em prol dos outros, na qual pudesse investir todas as minhas capacidades a curar, investigar ou ensinar… Na verdade, queria contacto humano.

Contudo, no final do 11º ano a situação complicou-se, dado que os exames faziam “estragos” e haviam corrido não tão bem como o costume (quando os nervos decidem assumir o comando): a minha média passara a rondar a nota mínima de entrada no curso de Medicina do ano anterior.

Nesse momento, haviam passado 13 anos. Estava na altura da decisão, chegara ao 12º ano e tinha tudo por um fio até à repetição dos exames. Repetidos, consegui recuperar 1,3 valores. Já podia respirar minimamente de alívio.

Bem, estava na hora de escolher a minha profissão. Mas qual?

Comecemos pelo local. Onde haveria o contacto humano que tanto ambicionava sem deixar de estar com a minha família que tanto me apoiou? Só podia ser Coimbra, a cidade dos Estudantes, do fado e das tradições! E, efetivamente, até agora nunca vi tanto companheirismo e apoio por parte de estudantes mais velhos como aqui, na FMUC.

Assim, colocando as cinco primeiras hipóteses para Coimbra, restava a decisão: Biologia ou Medicina. A escolha foi flagrante - seria Medicina - só poderia nesse curso ver-me realizado na totalidade, poderia ser tanto clínico quanto investigador ou professor, bastaria que a vida me sorrisse mais uma vez.

Entretanto, cheguei ao presente. Passado o 1º semestre, não me arrependo de forma alguma de estar aqui, na FMUC, quer pelo companheirismo, quer pelo bastante que já aprendi.

Assim, apesar de todas as adversidades que poderão aparecer, só me resta agradecer por, a cada dia que passa, saber que estou mais perto do meu Grande Objetivo: ser Médico.



Pedro Rodrigues é aluno do 1º ano do Mestrado Integrado em Medicina da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra.

Lucerna

Ilustração por Ana Catarina Lopes