Editorial

No mês em que se inicia a Primavera, começa finalmente a vislumbrar-se uma luz de esperança ao fundo de um túnel construído de dor, sofrimento, angústia e desalento. O resultado de um comportamento regrado, consciente e cívico de imediato se fez notar, com a diminuição do número de novos casos, internamentos e mortes, que nos permite, nesta altura, ter alguma “liberdade”. É a prova de que há forma de mitigar os efeitos nefastos do vírus. Bem sei que o preço que tem que se pagar, em termos económicos e sociais, é muito alto. Mas a alternativa a isto, nas piores fases, seria o colapso absoluto dos sistemas de saúde e a incapacidade para salvar todos os doentes afetados. Até existir imunidade de grupo, que nos proteja de mais uma investida do vírus, é preciso continuar a manter todas as cautelas e a cumprir as regras de higiene, distanciamento e etiqueta respiratória. Para nos ajudar nesta batalha temos, agora, ao nosso dispor uma arma suplementar para combater esta epidemia devastadora: uma vacina. 

Como já muitas vezes foi dito, o desenvolvimento destas vacinas constitui um dos maiores feitos da história da ciência, a vários níveis, desde a união e colaboração que tem existido, entre toda a comunidade científica, até à produção e aprovação de uma vacina em tempo recorde, o que muitos achariam inimaginável. É bom recordar que, para que as vacinas sejam hoje uma realidade, e estejam ao nosso dispor, a sua criação e desenvolvimento envolveu um controlo apertado e rigoroso, com avaliação e validação pela comunidade científica de todos os resultados que foram surgindo, e a passagem por diversas fases de testes, bem regulamentados, que garantem a sua segurança. Se todos estes exigentes requisitos não tivessem sido integralmente cumpridos, as vacinas jamais seriam administradas à população. É por isso seguro afirmar que a utilização das vacinas já aprovadas é segura e deve merecer a adesão de todos. Como se sabe, nenhuma terapia é completamente inócua, no que a possíveis efeitos colaterais diz respeito. A própria toma de uma “simples” aspirina, ou outras abordagens aparentemente mais inofensivas e comuns, provavelmente acarretam mais riscos do que as vacinas contra a COVID-19. Ainda que algum risco muito pequeno possa existir, os dados existentes até ao momento provam que os benefícios o superam largamente. Por isso, devemos acreditar, e estar gratos, por mais um excecional contributo da ciência para a resolução de um problema grave de saúde publica, à semelhança do que aconteceu com outros processos de vacinação, desenvolvidos no passado, que ajudaram a erradicar doenças ou permitiram aos nossos sistemas de defesa coabitar com agentes patogénicos que, antes, dizimavam tantas vidas. 

Não nos podemos deixar enganar por notícias sem fundamento, descabidas, manipuladas e alarmistas. E essa é uma das missões da nossa Faculdade, com a ajuda da sua comunidade científica e clínica, contribuir para uma sociedade mais esclarecida, que não se deixe ludibriar por “notícias” que pretendem descredibilizar todo o processo de vacinação. Aliás, essa foi uma das motivações que esteve na base da criação do Laboratório de Comunicação em Saúde (LCS.FMUC) - contribuir para uma sociedade mais esclarecida, capaz de ter uma visão crítica perante “notícias” de veracidade duvidosa. Como parte desta estratégia, de abertura e credibilização da FMUC perante a sociedade, foi estabelecida, recentemente, uma parceria com uma agência de comunicação que nos ajudará a promover e divulgar o que de bom se faz entre nós. Para isso, foi criado um email (noticias.fmuc@fmed.uc.pt) para o qual deverão ser enviados contributos que possam ser considerados relevantes para difusão alargada. 

No mês de Março tivemos ainda a excelente notícia do sucesso da candidatura ao título de CoLAB atribuído pela FCT ao projeto Healthy Ageing@LAB, coordenado, nesta fase de submissão, pela FMUC, sob liderança do Doutor Lino Ferreira. Este foi um projeto que mereceu todo o apoio e carinho, desde o primeiro momento, do Diretor da Faculdade que nele acreditou fortemente e que, juntamente com o GGI, criou todas as condições para a elaboração desta candidatura. 

Na rubrica 4'33'' da última edição da Voice*MED, mostrámos uma reportagem fotográfica onde se pretendia retratar o ambiente, tantas vezes lúgubre, sombrio e silencioso, que se vive ao lado dos doentes com COVID-19. Nesta edição, o olhar da câmara de Lara Jacinto traz-nos uma mensagem de esperança e alguma acalmia, após um período tão exigente e triste. 

Aproveitando a recente celebração do Dia do Antigo Estudante de Coimbra, e recorrendo ao baú de memórias de outras edições da Voice*MED nas quais ilustres Professores já deixaram a sua voz, em “Do Curso de Medicina” penduramos algumas imagens emblemáticas que retratam o forte e único espírito académico só experienciado por quem passa por Coimbra.

O Instituto de Periodontologia é o nosso convidado em “Isto é FMUC”, onde poderá ficar a conhecer as diversas vertentes desta estrutura, ao nível do ensino, investigação e serviço à comunidade, e saber de que forma a periodontite se relaciona com casos mais graves de COVID-19. 

Em “Fora da Medicina”, damos-lhe a ouvir a rádio ZucaTuga, um projeto educativo que pretende avaliar de que forma os sons da rádio podem levar a mudanças na sociedade. Na rubrica "Lucerna", o estudante do MIM Pedro Rodrigues conta-nos o que o motivou a optar pela Medicina, em detrimento da Biologia, e a razão da escolha ter recaído em Coimbra. O prémio L´Oréal, Margarida Abrantes, prescreve algumas doses de dignidade humana, causas sociais e deveres individuais. 

 



Henrique Girão


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