Estudo salienta importância de fatores sociodemográficos no tratamento da artrite reumatoide
Sobre o estudo
A artrite reumatoide (AR) é uma doença inflamatória com um elevado impacto na vida do doente. Ainda que se caraterize predominantemente por inflamação articular, que causa dor e rigidez e leva, a longo prazo, à destruição e incapacidade articular, está associada a consequências negativas em quase todos os domínios do bem-estar físico e emocional, incluindo fadiga, distúrbios do sono, ansiedade e depressão.
O atual paradigma de tratamento da AR estabelece que o objetivo é alcançar a remissão do processo inflamatório (ou pelo menos uma baixa atividade da doença), de forma tão precoce e persistente quanto possível.
Numa perspetiva de medicina centrada no doente, é essencial apreciar o impacto da doença e até que ponto é aceitável na sua perspetiva permanecer com este estado de saúde no futuro.
Controlar o processo inflamatório é essencial para promover a satisfação do doente, mas não a garante por si só. É importante verificar se assim é e que outros fatores, incluindo sócio-demográficos, podem contribuir para que o doente considere o seu estado de saúde inaceitável apesar do controlo do processo inflamatório. Tal conhecimento contribuirá para ajudar profissionais de saúde a implementar as medidas necessárias para atingir um estado aceitável pelo doente.
Neste estudo foram avaliados 548 doentes com AR de 11 países europeus com o objetivo de identificar que fatores, além da atividade inflamatória, se associavam a um estado não aceitável na opinião do doente.
Resultados e impacto
Os resultados demonstraram que para o doente atingir um estado aceitável o controlo da inflamação/atividade da doença é extremamente importante. Contudo, doentes com níveis elevados de dor, com níveis mais baixos de bem-estar emocional, mais jovens e que vivem em países com maior riqueza (maior produto interno bruto per capita) têm menor probabilidade de considerarem o seu estado de saúde associado à AR como aceitável.
Estes achados têm implicações clínicas muito relevantes. É importante que os profissionais de saúde percebam que enquanto se focam no controlo da atividade inflamatória da artrite, não podem descurar outros fatores como a idade e o contexto social do doente, bem como a dor e o bem-estar emocional quando pretendem repor a qualidade de vida do doente. Desta forma, a par da terapêutica imunossupressora, outras medidas farmacológicas e não farmacológicas coadjuvantes devem ser consideradas com o objetivo de melhorar estes sintomas de modo a que o indivíduo atinja um estado que considere satisfatório.
José Pereira da Silva
Joint Bone Spine
Attainment of the Patient-acceptable Symptom State in 548 patients with rheumatoid arthritis: influence of demographic factors
Fotografia de Quino Al @ Unsplash