Sobre o estudo
O carcinoma basocelular (CBC) ou basalioma é a forma mais comum de cancro cutâneo. Apesar da baixa mortalidade, por raramente metastizar, o seu comportamento localmente invasivo acarreta morbilidade significativa, com impacto na qualidade de vida do doente, necessidade de intervenções cirúrgicas e risco de deformidade.
O principal fator de risco associado ao CBC é a exposição aos raios ultravioletas contidos na radiação solar. No entanto, a associação com a radiação ionizante, nomeadamente no contexto de radioterapia, tem sido alvo de estudo. A radioterapia, atualmente aplicada sobretudo como terapêutica oncológica, foi também usada como tratamento da tinha do couro cabeludo (tinea capitis) num grande número de crianças até finais da década de 1950. Os doentes submetidos a este tratamento mostram risco aumentado de desenvolver múltiplos CBCs do couro cabeludo que se mantém tipicamente durante décadas após a radioterapia.
Há poucos estudos na literatura sobre eventuais diferenças no processo de carcinogénese do CBC em função do fator de risco subjacente. No presente trabalho, foram estudados CBCs pós-radioterapia por tinha do couro cabeludo, comparando-os com CBCs ocorrendo em áreas expostas à radiação ultravioleta (nomeadamente a face); foi realizado um estudo genómico recorrendo a hibridização genómica comparativa em array e estudo epigenético de alterações da metilação.
Resultados e impacto
No estudo genómico detetaram-se variações do número de cópias em múltiplas regiões cromossómicas em ambos os grupos de tumores. Encontraram-se diferenças entre os dois grupos, com significado estatístico, sugerindo a presença de diferentes mecanismos de carcinogénese de acordo com o fator de risco subjacente.
O presente estudo, que resulta de uma colaboração multidisciplinar entre o Serviço de Dermatovenereologia do CHUC e o Laboratório de Citogenética e Genómica da FMUC (iCBR-CIMAGO), contribui para o esclarecimento de alguns mecanismos da carcinogénese do CBC que não tinham sido ainda previamente explorados, muito em particular no que diz respeito aos casos secundários a exposição à radioterapia.
Dado o número crescente de pacientes submetidos a radioterapia e às taxas de sobrevida progressivamente maiores em diversas doenças oncológicas, é possível que a médio/longo prazo aumentem os números de doentes com CBCs pós-radioterapia.
Este estudo constitui um passo para o conhecimento mais aprofundado dos mecanismos de carcinogénese do CBC, que poderá permitir no futuro a implementação de medidas preventivas, diagnósticas e terapêuticas mais adaptadas a cada doente, nomeadamente em função dos fatores de risco subjacentes.
Isabel Marques Carreira
Experimental Dermatology
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