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Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra

Estudo analisa possíveis diferenças entre doentes com esclerose múltipla em idade pediátrica e em idade adulta

Sobre o estudo

O diagnóstico de esclerose múltipla em idade pediátrica não é muito frequente, mas poder-se-á assumir que 3-10% dos casos poderão ter tido início antes dos 18 anos de idade. Isto faz da esclerose múltipla pediátrica uma doença muito mais rara do que aquilo a que estamos habituados na idade adulta, onde se assume claramente que esta é uma doença do jovem adulto, aliás, a principal causa de incapacidade neurológica, logo depois dos traumatismos, neste grupo etário. Apesar destas particularidades epidemiológicas, existe uma noção empírica de que a doença, quando se inicia em idade pediátrica, tem características muito mais inflamatórias do que quando se inicia em idade adulta.

Assim, para testar esta mesma noção, conduzimos este estudo piloto, de natureza retrospetiva, em que comparámos algumas variáveis clínicas e imagiológicas (obtidas das ressonâncias magnéticas [RM] cerebrais a que estes doentes são normalmente submetidos, na prática clínica), tentando identificar as diferenças entre ambos os grupos (pediátrico vs. adulto). Foi ainda incluída na análise a evolução para NEDA-3 (No Evidence of Disease Activity-3), uma métrica que tem sido muito utilizada na avaliação das respostas ao tratamento, tentando identificar se crianças ou adultos alcançariam este estado em diferente proporção, sinalizando os fatores que poderiam contribuir para essa diferença. 


Resultados e impacto

Tal como referido, este foi um estudo piloto e de desenho retrospetivo, que incluiu uma quantidade reduzida de casos (foram recrutados 15 indivíduos para cada um dos grupos).

Dos múltiplos dados analisados, foi possível encontrar uma diferença estatisticamente significativa no tocante à presença de lesões difusas e de bordos mal definidos na RM cerebral (sendo estas lesões mais abundantes no grupo dos adultos) e, para além disso, na pontuação obtida na escala de incapacidade usada na prática clínica, ao fim de 1 ano (sendo a pontuação menor nas crianças, reforçando o menor impacto funcional da doença nesta população particular). Apesar destes aspetos, não se encontrou qualquer diferença no tocante à proporção de indivíduos que alcançaram o estado de NEDA-3, ao fim de 1 ano de tratamento imunomodulador. 

Com este estudo piloto, identificámos um conjunto restrito de variáveis que poderão vir a ter interesse em estudos futuros, de maior dimensão amostral e abrangendo um período de tempo mais amplo, com vista a investigar com maior detalhe as (eventuais) diferenças entre ter um diagnóstico de esclerose múltipla estabelecido em idade pediátrica ou já na idade adulta. 

Filipe Palavra

Acta Médica Portuguesa
Inflammatory activity and treatment response in pediatric compared to adult multiple sclerosis: a pilot, retrospective and observational study of the first year after diagnosis 

Fotografia de Pete Linforth @ Pixabay