Instituto de Biofísica

Isto é FMUC

As duas grandes componentes do Instituto de Biofísica da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC) são o ensino e a investigação, nas quais desenvolve uma vasta atividade. Mas, a ambas, ainda se junta a componente assistencial. Com uma equipa fixa relativamente pequena, Maria Filomena Botelho, diretora deste instituto desde 2004, explica que o desenvolvimento do notável trabalho desta estrutura orgânica da Faculdade só tem sido possível com o empenho e dedicação daqueles que a integram.  


A criação do Instituto de Biofísica e as suas componentes

O Instituto de Biofísica foi criado em 1984, num ano em que se constituiu enquanto “aposta da Faculdade a formação de médicos no âmbito da Biofísica”, explica a sua diretora. Este instituto, localizado no primeiro piso da Subunidade 1 da FMUC e do Instituto de Investigação Clínica e Biomédica de Coimbra (iCBR-FMUC), era liderado, à data da sua criação, “pelo Professor João José Pedroso de Lima, já falecido, e que foi seu diretor até à jubilação, em 2004”, altura em que Maria Filomena Botelho assumiu a direção. “Nós passámos para este edifício por volta de 1993 ou 94, fomos os primeiros a mudar-nos para aqui”, refere a diretora, explicando que o mesmo, aquando da construção, “teve em conta as especificações de muitos dos equipamentos da Biofísica da Faculdade”.

Assim, o Instituto de Biofísica, que inicialmente tinha a designação de Instituto de Biofísica e Biomatemática, “foi um dos quatro institutos que originalmente constituíram o Instituto Biomédico de Investigação em Luz e Imagem, o IBILI, juntamente com o Centro de Oftalmologia, o Instituto de Farmacologia e Terapêutica Experimental e a Clínica de Dermatologia. Entretanto, o IBILI mudou de nome e passou a iCBR-FMUC, ao qual pertencemos e permanecemos integrados através do Centro de Investigação em Meio-Ambiente, Genética e Oncobiologia (CIMAGO). Estamos também integrados no Consórcio CIBB [constituído pelo iCBR-FMUC e o CNC-UC, Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra]”, menciona a diretora do instituto.















Conforme referido inicialmente, o Instituto de Biofísica desempenha uma vasta atividade, tripartida pelas suas componentes: ensino, investigação e assistência. No que diz respeito ao ensino, o instituto está presente a todos os níveis, nos cursos de pré e de pós-graduação da FMUC, além de colaborar com outras instituições de ensino.

Quanto à investigação em Biofísica, Maria Filomena Botelho explica que se trata de “uma investigação muito básica e fundamental”, mas que se pretende que seja “o mais translacional possível”.

Por sua vez, a componente assistencial consubstancia-se nos mais de mil doentes vistos na consulta de Acupunctura Médica no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), dado que o Instituto de Biofísica é responsável por esta pós-graduação da FMUC.


O ensino

No Mestrado Integrado em Medicina (MIM) da FMUC, docentes do instituto são responsáveis pela unidade curricular de Biofísica e, no Mestrado Integrado em Medicina Dentária (MIMD), pelas unidades curriculares de Biofísica e Medicina Física e de Materiais Dentários. “Temos também uma grande colaboração com a Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), no âmbito do Mestrado Integrado em Engenharia Biomédica, do qual a FMUC faz parte, desde o início”, afirma.

Maria Filomena Botelho explica que, antes do Processo de Bolonha, através do qual a anterior licenciatura em Engenharia Biomédica passou a ser o Mestrado Integrado, existia, na FMUC e em colaboração com a FCTUC, um Mestrado em Engenharia Biomédica: “a Faculdade tinha este mestrado, do qual era promotora, e que se dividia em duas áreas, uma de instrumentação biomédica e outra de radiação e imagem”.

A diretora do instituto indica que, justamente por se tratar de um “mestrado que aceitava licenciados das mais diversas áreas, tinha um curso preparatório de três meses de ensino intensivo para dar formação complementar aos alunos”. Assim, os alunos que ingressavam neste mestrado e que vinham da área das Ciências da Saúde ou Biológicas, tinham três meses de formação em Matemática, Física, Eletromagnetismo e Eletrónica. Por outro lado, os alunos das áreas das Ciências Exatas tinham três meses intensivos de formação em áreas como a Fisiologia, a Anatomia, a Química Médica e a Biologia.

Mais tarde, quando as faculdades de Ciências nacionais começaram a desenvolver os seus mestrados em Engenharia Biomédica, estes papéis inverteram-se: hoje, a formação em Engenharia Biomédica é ministrada na FCTUC em colaboração com a FMUC, que “assume parte da formação durante os cinco anos, com especial relevo no perfil de Radiação e Imagem”, declara a diretora.

Ainda no ensino pré-graduado, o Instituto de Biofísica tem a seu cargo unidades curriculares dos cursos de Medicina da Universidade dos Açores e da Universidade de Cabo Verde, com as quais a FMUC colabora.

No que diz respeito ao ensino pós-graduado, o instituto leciona unidades curriculares dos mestrados em Patologia Experimental e Investigação Biomédica, nas pós-graduações em Medicina do Trabalho e Acupunctura Médica e colabora, igualmente, nos programas doutorais da FMUC e Engenharia Biomédica da FCTUC.

“Falando ainda no ensino, não posso deixar de referir a colaboração que temos, desde há muitos anos, com a Escola Superior de Enfermagem e com a Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Coimbra”, salienta Maria Filomena Botelho. Pontualmente, o Instituto de Biofísica colabora ainda com o Instituto Superior Técnico via Campus Tecnológico e Nuclear, a Universidade da Beira Interior e a Universidade de Aveiro.

“Em termos internacionais, temos, há cerca de 10 anos, uma colaboração com a Faculdade de Medicina da Universidade de São Francisco, de Bragança Paulista, no Brasil, da qual sou professora visitante. Desta colaboração, resulta também a participação docente no nosso programa de doutoramento em Ciências da Saúde”, destaca a diretora do instituto.


A investigação

No que concerne à investigação, Maria Filomena Botelho explica que esta não se dedica especificamente a uma área. “Dedicamo-nos a áreas mais transversais, com aplicações nos mais diversos domínios. Assim, o intuito da nossa investigação é que a mesma tenha, a curto ou médio prazo, uma translação para as aplicações clínicas, já que estamos inseridos numa faculdade de Medicina”, enfatiza.








A diretora do instituto destaca “um nicho de investigação muito própria, que é o do uso da radiação ionizante em Medicina”. Deste modo, o trabalho consiste no estudo dos efeitos biológicos deste tipo de radiação, em simultâneo com o desenvolvimento de modelos “dos mais diversos tipos, desde teóricos a matemáticos, a in vitro, a in vivo ou a ex vivo”.

Maria Filomena Botelho explica que esta “área de aplicação da radiação à Medicina é uma área que desde sempre foi tratada pelo Instituto de Biofísica, até porque era a área de intervenção do Professor João José Pedroso de Lima, físico no âmbito das radiações” e primeiro diretor desta estrutura orgânica da FMUC.

No que diz respeito ao desenvolvimento de modelos, a diretora destaca ainda a colaboração do Instituto de Biofísica com a Medicina Dentária, assim como com alguns Serviços do CHUC, como os de Cirurgia, de Urologia, de Ginecologia, Obstetrícia, Reprodução e Neonatologia, de Pediatria, de Oftalmologia, de Anatomia Patológica, de Medicina Nuclear, de Radiologia, de Otorrinolaringologia, de Pneumologia, de Radioterapia e de Medicina Interna, entre outros. “Devo aqui salientar a colaboração com o Serviço de Cirurgia do CHUC, através da qual muitos cirurgiões aqui vêm desenvolver os seus modelos cirúrgicos, de rápida translação para a aplicação clínica, e tenho também de referir a ligação ao Instituto Português de Oncologia Francisco Gentil (IPOFG) – Centro Regional de Oncologia do Centro, com o qual desenvolvemos projetos de investigação aplicada”, observa.

Para além do uso da radiação ionizante e do desenvolvimento de modelos, outra importante área de investigação deste instituto é a do cancro, sobretudo dos cancros sólidos. “São estas áreas que dão, aliás, nome ao nosso grupo de investigação: Modelização em Oncobiologia”, declara. Para levar a cabo esta investigação, Maria Filomena Botelho indica que o instituto tem trabalhado em colaboração com o Departamento de Química da FCTUC e, mais recentemente, com a Faculdade de Farmácia (FFUC).









A diretora do instituto congratula-se também pelo facto de as pessoas que desenvolvem o seu trabalho e a sua investigação no Instituto de Biofísica serem frequentemente chamadas a fazer a avaliação de projetos de investigação em diversas instituições estrangeiras, da Suíça, França ou República Checa, entre outras: “é algo que nos projeta internacionalmente”, enfatiza.

Atualmente, o Instituto de Biofísica está inserido em duas ações COST, que consistem em colaborações europeias nas áreas da Ciência e Tecnologia, bem como em outros dois projetos europeus, um que “relaciona a dieta mediterrânica com a obesidade infantil”, o MED4Youth, e outro que “estuda os efeitos biológicos das pequenas doses de radiação ionizante”.


A assistência

Além da extensa componente letiva e de investigação, o Instituto de Biofísica tem também uma componente assistencial. Conforme faz saber Maria Filomena Botelho, este instituto é responsável pela pós-graduação em Acupunctura Médica da FMUC, explicando que, para que os alunos desta pós-graduação possam exercer a sua atividade após a conclusão da formação, necessitam de completar horas de prática clínica: “por isso, temos também esta componente assistencial”, refere.

Esta componente tem lugar no CHUC e na área de Medicina Dentária. Devido à atual pandemia, estas consultas acontecem apenas uma vez por semana e não duas vezes, como habitual. “Provavelmente, só no próximo ano conseguiremos retomar o segundo dia de consulta”, indica a diretora do instituto.


A equipa e a coordenação do instituto

Maria Filomena Botelho afirma que a boa execução de toda a atividade desenvolvida pelo Instituto de Biofísica só tem sido possível pela motivação e pela dedicação da equipa que o constitui: “são pessoas com formação diversificada, todas muito dedicadas, com muita vontade, com grande ambição e com grande determinação; por isso, embora vivamos tempos complicados, podemos ter algum otimismo”, salienta.

Com apenas seis pessoas em permanência, os investigadores do instituto têm conseguido grandes colaborações e publicar por ano cerca de 13 artigos. Uma média que, no passado ano de 2020, foi até ultrapassada, com a publicação de 21 artigos, uma “prova de que a nossa investigação está viva”, conforme afirma a diretora. Para além da equipa de seis pessoas, o Instituto de Biofísica conta ainda com o apoio de secretariado, a meio-tempo, de Cláudia Caridade, embora a diretora reconheça que, para o volume de trabalho existente, o ideal seria ter alguém a tempo inteiro.

O instituto recebe ainda muitos alunos do ensino pré e pós-graduado, “médicos, engenheiros de diversas naturezas, biólogos, bioquímicos, matemáticos ou pessoas das áreas da biotecnologia e das tecnologias da saúde”, tendo, atualmente, “cerca de 14 doutoramentos” em curso.








No entender de Maria Filomena Botelho, esta multidisciplinaridade é algo que os torna “diferentes e diferenciadores”. No entanto, reconhece que nem tudo é bom: “precisamos de um corpo fixo maior e estável, como, aliás, creio que todos precisamos, já que muitas pessoas têm contratos precários apesar de estarem a desempenhar funções permanentes”. Esta é uma situação que a diretora do instituto identifica como sendo de resolução urgente, salientando que o corpo permanente tem de ser suficiente para dar resposta a todas as pessoas que solicitam os préstimos do instituto e que o frequentam, como é o caso dos alunos, tanto da FMUC como de outras instituições de ensino de dentro e de fora do País.

A diretora do Instituto de Biofísica refere ainda, quando questionada acerca da sua experiência na liderança desta estrutura orgânica da FMUC, que, nos últimos anos, a investigação do instituto sofreu algumas mudanças. “A nossa expertise é a área da radiação e, sendo uma área pouco trabalhada, devemos manter esse nicho, mas alargámos também o nosso interesse para as áreas da radiobiologia e da oncologia”, declara. Por isso, Maria Filomena Botelho assume que, ao longo dos 17 anos à frente deste instituto, essa “mudança de agulha” foi, talvez, o maior desafio enfrentado. Uma mudança que, na sua perspetiva, teve um impacto positivo.

por Luísa Carvalho Carreira (texto e fotografia de topo)
fotografias gentilmente cedidas por Filomena Botelho