Descoberta proteína associada ao
envelhecimento vascular
Sobre o estudo
De acordo com números obtidos de relatórios oficiais da Comunidade Europeia, estima-se que o número de Europeus com mais de 65 anos aumente de 85 milhões em 2008 para 151 milhões em 2060.
Neste projeto, usámos células de indivíduos com Síndrome Hutchinson-Gilford ou Progeria para o estudo do envelhecimento vascular e para o desenvolvimento de uma terapia dirigida para este problema. A Progeria é uma doença rara, caracterizada pelo envelhecimento precoce e morte prematura, normalmente por doenças cardiovasculares, por volta dos 14 anos de idade. Vários estudos realçaram a relevância de doenças relacionadas com o envelhecimento prematuro com o envelhecimento fisiológico. Estando este projeto relacionado com o envelhecimento vascular patológico (Progeria) o conhecimento gerado tem também grande importância no envelhecimento vascular fisiológico.
Os vasos sanguíneos são constituídos por vários tipos de células, entre elas, as células do músculo liso. Estas são as células mais afetadas na Progeria, existindo uma diminuição do seu número nas artérias envelhecidas. De qualquer maneira, a razão para esta perda não era ainda conhecida. Neste estudo, recolhemos células da pele (fibroblastos), de indivíduos com e sem Progeria, transformamos estas células em células do músculo liso e com estas últimas desenvolvemos dois microchips vasculares, saudável e envelhecido (progeria). Nestes microchips conseguimos manter as células em condições de fluxo arterial, muito semelhantes às condições existentes nas artérias, e isso permitiu-nos estudar a suscetibilidade destas células de Progeria no laboratório.
Após alguns dias verificámos a diminuição do número de células do músculo liso de Progeria, mas não das saudáveis. E através deste sistema, foi possível analisar as diferenças entre os 2 microchips, comparar os 2 tipos de células e concluir acerca do porquê da diminuição do número de células no caso da Progeria.
Resultados e impacto
Depois de analisarmos as diferenças entre as células saudáveis e de Progeria, descobrimos uma enzima, a metaloproteinase 13 (MMP13), cuja concentração está cerca de 30 vezes aumentada nas células de músculo liso de Progeria em comparação com as saudáveis. Usando um fármaco específico para inibirmos esta enzima, conseguimos diminuir a perda destas células nos microchips, aproximando o número de células de progeria ao número existente nas saudáveis.
Verificamos também que, se administrarmos este fármaco a ratinhos com Progeria, não ocorre uma diminuição do número de células de músculo liso nas artérias, sendo este número semelhante ao dos ratinhos saudáveis.
Conseguimos, portanto, desenvolver uma terapia especifica para a diminuição do número de células nas artérias, que ocorre com o envelhecimento vascular. Acreditamos que a administração do fármaco em estágios iniciais da doença, combinado com outros fármacos já testados e que reduzam a quantidade de progerina, pode ser de valor acrescentado para melhorar a qualidade e esperança média de vida destes indivíduos.
O microchip desenvolvido abre, também, novas perspetivas para o desenvolvimento de outros tratamentos, não só para indivíduos com Progeria, mas também para o envelhecimento vascular fisiológico.
Lino Ferreira
Nature Communications
Vulnerability of progeroid smooth muscle cells to biomechanical forces is mediated by MMP13