Que estranho! Estamos na época natalícia... mas não parece Natal. Não há o frenesim de outros tempos. Falta o entusiasmo dos preparativos para a consoada em família alargada. Não há a excitação do planeamento da noite de receção a um novo ano. Faltam os enfeites, que a cada ano tentamos que sejam mais vistosos para “encantar” quem nos visita. Não cheira a Natal. Há apenas umas luzes ténues na rua para nos lembrar, timidamente, que vivemos uma altura festiva, tentando trazer alguma cor e vida a uma noite escura e silenciosa. Vivemos um período atípico. Até nos esquecemos que é Natal, tantas são as restrições que, constantemente (e bem), nos relembram que é necessário cumprir, do distanciamento que, insistentemente (e bem), nos alertam que é fundamental respeitar.
Mas isto não nos deve fazer esquecer que é Natal. É Natal! Entre tantas mudanças que somos obrigados a vivenciar neste período, também a forma como expressamos o nosso apreço pelos que nos são próximos e estimamos terá que ser diferente. Este é um bom contexto para exercitar a nossa capacidade de desmaterialização das “prendas” que oferecemos. Como não podemos, com a mesma facilidade de outros anos, “comprar” sentimentos para de seguida os oferecer, vamos ter que ser imaginativos e mais emotivos na hora de revelar a nossa solidariedade, amizade, estima, carinho e amor. Seja como for, não deixemos de festejar e exultar ao Natal. Porque, apesar de tudo, é Natal! E não podemos deixar que este malvado vírus silencie os nossos sentimentos que, mais do que nunca, se têm que manter vivos, num momento de celebração, de paz, união, harmonia e reconciliação. Em breve, todos esperamos, vamos poder voltar ao registo que mais nos apraz, de proximidade e partilha. Até lá, e para que “isto” acabe depressa, não podemos facilitar. Já vemos uma luz ao fundo do túnel, mas ela é ainda muito débil e pode desvanecer-se com facilidade. O Natal é uma época de esperança. E este ano, mais do que em qualquer outro, temos que acreditar e lutar por um amanhã melhor. Estamos quase a virar uma página negra da humanidade... não deixemos que este Natal deite tudo a perder!
Esta é também a última Voice*MED do ano de 2020. Mesmo em condições atipicamente adversas, não deixámos de lançar, a cada mês, uma nova edição, tentando sempre manter a atualidade e a pertinência dos temas abordados. Na primeira onda da pandemia, demos voz aos médicos que estiveram na linha da frente. Tentámos ouvir também aqueles que, em áreas diversas, têm o poder de decisão, como o Magnífico Reitor, o Bastonário da Ordem dos Médicos, o Presidente do Conselho das Escolas Médicas, o Presidente do Conselho de Administração do CHUC, entre outros. Desvendámos, num formato mais intimista, a história dos ilustres Professores que trouxeram honra e glória a esta Faculdade, a quem hoje muito devemos. Conhecemos os cantos a várias estruturas e órgãos da nossa Faculdade, incluindo Clínicas e Institutos Universitários. Descobrimos os segredos de alguns membros da FMUC, através daquilo que nos prescreveram. Pudemos ainda percorrer o trilho seguido por alguns alunos até chegar à fase do doutoramento. Em suma, penso termos conseguido, com isto, cumprir com os objetivos a que nos propusemos com a Voice*MED: dar voz e espaço a todos os que dão corpo e alma a esta fantástica e maravilhosa instituição que é a FMUC. Quero agradecer a todos, pelo contributo que deram ao longo deste ano, deixando uma palavra muito especial de gratidão e reconhecimento pelo esforço, dedicação e empenho para que, a cada mês, a Voice*MED pudesse ter chegado a cada um de vocês: à Luísa Carreira e ao Carlos Costa. Em nome da FMUC, MUITO OBRIGADO!
E para terminar o ano em beleza, trazemos uma Voice*MED particularmente rica e admirável... tal como todas as outras que lançámos ao longo do ano! Em 4´33´´, vamos deslindar os mistérios do CSI português, seguindo as peugadas de Francisco Corte Real, Presidente do INML. O Professor Diogo Paiva, em “Do curso de Medicina”, conta-nos como a “falta de ouvido” o impediu de seguir outros sons, obrigando-o a ser aquilo que tinha que invariavelmente ser: um distinto otorrinolaringologista. Em “Isto é FMUC”, a Clínica de Cardiologia dá um excelente exemplo de como “assim deve ser a FMUC”. Felizmente, para além deste, a nossa Faculdade tem outros bons exemplos, que nos devem encher de orgulho e servir de inspiração. Em “Publicações em destaque”, ouça Fernanda Rodrigues, Professora da FMUC, a explicar, em discurso direto, um artigo publicado na prestigiada revista JAMA, do qual é primeira autora. Em “Fora da Medicina”, a Vice-Reitora Cristina Albuquerque dá-nos a conhecer o projeto de voluntariado UC TRANSFORMA, onde cada um de nós, à sua maneira, tem oportunidade de transformar o mundo em que vivemos. Nesta edição natalícia, decidimos premiar-vos com um testemunho de Alexandra, aluna do primeiro ano do MIM, que nos conta, em lágrimas, porque decidiu trocar o sol do Algarve pelo Curso de Medicina, em Coimbra. E por fim, o nosso Diretor prescreve-nos uma dose de amor supremo, para um delírio sensorial.
Espero que gostem desta última Voice*MED de 2020, construída com especial carinho, afeto e paixão.
Despeço-me, desejando a todos um Feliz Natal e um Próspero Ano Novo, com muita saúde e repleto de sucessos e conquitas pessoais e profissionais.
Henrique Girão