Conexina pode servir de biomarcador de doença isquémica cardíaca
Sobre o estudo
Apesar dos progressos das últimas décadas, as doenças cardiovasculares continuam a ser a principal causa de morte em todo o mundo. Muitas destas patologias, entre as quais se destaca o enfarte agudo do miocárdio, estão associadas a graves defeitos na comunicação entre os diferentes tipos de células que constituem o coração.
Esta comunicação pode ocorrer por via directa, através de canais formados entre células vizinhas, ou envolver a libertação de pequenas vesículas, denominadas exossomas, capazes de transportar informação a longas distâncias. Diferentes moléculas, incluindo proteínas, lípidos ou ácidos nucleicos, podem ser especificamente seleccionadas para serem incorporadas nos exossomas e, desta forma, mediar a comunicação entre as diferentes células no coração.
Pensa-se ainda que em determinadas condições patológicas, nomeadamente na doença isquémica cardíaca, estes mecanismos que regulam o conteúdo dos exosomas possam estar desregulados, contribuindo assim para a propagação dos danos celulares. Por outro lado, o perfil das moléculas que constituem os exossomas pode também ser encarado como marcador de doença, assumindo um papel muito relevante no diagnóstico de diversas patologias.
Apesar da sua importância, os sinais e os mecanismos que regulam a selecção do conteúdo dos exossomas permanecem amplamente desconhecidos. Neste estudo, que contou com a participação de uma equipa multidisciplinar, incluindo investigadores da FMUC, do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) e da Universidade de Utrecht, na Holanda, pretendeu esclarecer-se de que forma a comunicação mediada por exossomas pode ser afectada na doença isquémica.
Resultados e impacto
Este estudo demonstrou que a isquémia aguda do miocárdio afecta o conteúdo dos exossomas libertados por cardiomiócitos, bem como de exossomas detectados no sangue periférico de modelos animais de doença cardíaca e de humanos. Em particular, os resultados deste trabalho revelaram que os níveis de conexina, uma proteína fundamental para o normal funcionamento do coração, se encontram diminuídos nos exossomas produzidos e libertados em condições patológicas, podendo constituir assim um importante marcador de doença cardíaca.
Para além disso, este estudo permitiu esclarecer detalhadamente os sinais e os mecanismos que selecionam as proteínas a ser incorporadas nos exossomas usando a conexina como modelo.
A identificação de novos biomarcadores não invasivos de doença isquémica cardíaca constitui uma contribuição vital para o desenho de novas ferramentas de diagnóstico, estratificação do risco e prognóstico, ou monitorização da terapêutica para esta patologia, reforçando a importância de estudos adicionais, envolvendo equipas multidisciplinares que permitam a implementação destas abordagens na prática clínica.
Henrique Girão
Life Science Alliance
Myocardial infarction affects Cx43 content of extracellular vesicles secreted by cardiomyocytes
Fotografia de jesse orrico @ Unsplash