Sobre o estudo
O consumo de substâncias ilícitas é um problema global com um forte impacto na sociedade. Entre as diferentes drogas de abuso, a metanfetamina é conhecida por ser um psicoestimulante muito viciante e tóxico cujo consumo origina graves problemas de saúde, incluindo perturbações neurológicas e psiquiátricas.
De forma a esclarecer os mecanismos subjacentes a tais efeitos nefastos, vários estudos têm caracterizado a neurotoxicidade induzida por metanfetamina. Recentemente, alterações na estrutura e função da barreira hematoencefálica foram identificadas após o consumo deste psicoestimulante.
Esta barreira é uma estrutura de permeabilidade seletiva responsável pela proteção e homeostasia do cérebro, funções estas desempenhadas essencialmente pelas células endoteliais. No entanto, e apesar da sua importância, pouco se conhece sobre o efeito da metanfetamina nas células endoteliais do cérebro, e principalmente de que forma prevenir tais efeitos.
O neuropeptídeo Y está amplamente distribuído no sistema nervoso central o que lhe confere uma grande variedade de funções. Os seus efeitos são mediados por vários recetores, incluindo o recetor do subtipo Y1 e Y2, com função protetora já descrita em diferentes condições patológicas. Apesar deste efeito benéfico do neuropeptídeo Y e seus recetores, nunca foi estudado o seu papel ao nível das células endoteliais em condições de exposição a metanfetamina.
Resultados e impacto
Este estudo demonstrou que a metanfetamina pode induzir a morte das células endoteliais do cérebro, bem como a produção de espécies reativas de oxigénio. Tendo em conta que as células endoteliais são sensíveis ao stress oxidativo, o aumento de espécies reativas de oxigénio é uma justificação plausível para a morte celular observada.
Apesar de alguns estudos já terem explorado diferentes estratégias para proteger o cérebro do efeito da metanfetamina, ainda não foi identificada uma abordagem terapêutica eficiente. Deste modo, tendo em conta o efeito neuroprotetor já conhecido do neuropeptídeo Y, começámos por demonstrar que as células endoteliais expressam ambos os recetores do subtipo Y1 e Y2.
Por outro lado, a metanfetamina promoveu também um aumento da expressão do subtipo Y2 sugerindo um papel predominante destes recetores comparativamente ao subtipo Y1. De facto, foi ainda demonstrado que a ativação do recetor do neuropeptídeo do subtipo Y2 preveniu a morte das células endoteliais do cérebro induzida por metanfetamina, bem como o aumento dos níveis das espécies reativas de oxigénio.
Em suma, este estudo provou que o recetor do neuropeptídeo Y do subtipo Y2 é um alvo promissor para proteger o cérebro dos efeitos da metanfetamina.
Ana Paula Silva
Toxicology Letters
Protecive effect of neuropeptide Y2 receptor activation against methamphetamine-induced endothelial cell alterations
Fotografia de Dhiraj Aslami @ Unsplash