Trabalho sugere novo alvo terapêutico para o tratamento da Leucemia Mieloblástica Aguda
Sobre o estudo
Todas as células do nosso organismo necessitam de energia para sobreviver. Para tal recorrem essencialmente a uma via metabólica denominada fosforilação oxidativa. O mesmo se passa com as células cancerígenas. No entanto, estas células apresentam alterações características, que as distinguem das células normais, nomeadamente nas vias metabólicas de obtenção de energia, recorrendo essencialmente a uma via que se chama glicólise. Esta reprogramação metabólica das células tumorais é controlada por alterações em genes e pode constituir não só um biomarcador de doença como um alvo terapêutico em cancros hematológicos, como a Leucemia Mieloblástica Aguda (LMA).
A LMA é a leucemia mais frequente nos adultos. A sua incidência aumenta com a idade, de aproximadamente 1,3 por 100.000 habitantes em idades inferiores a 65 anos, para 12,2 casos por 100.000 habitantes acima dos 65 anos. Apesar da intensa investigação para encontrar novos biomarcadores de prognóstico e novos tratamentos, a LMA tem ainda um prognóstico variável e uma alta taxa de mortalidade.
O conhecimento dos mecanismos envolvidos no desenvolvimento e progressão da LMA, nomeadamente os referentes às alterações metabólicas, pode contribuir para o desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas. Assim, o nosso trabalho pretendeu caracterizar metabolicamente a LMA, recorrendo a modelos laboratoriais deste tipo de leucemia (linhas celulares em cultura com alterações em diferentes genes) e avaliar o potencial das vias metabólicas como alvos terapêuticos para o tratamento da LMA.
Resultados e impacto
O nosso estudo sugere que o metabolismo das células cancerígenas poderá ser um alvo terapêutico na LMA. Embora o cancro esteja geralmente mais associado a um perfil metabólico essencialmente glicolítico, este trabalho mostrou que nem todas as células cancerígenas dependem dessa via metabólica da mesma forma.
De facto, os modelos laboratoriais de LMA estudados apresentaram diferentes perfis e respostas metabólicas. Enquanto algumas linhas celulares mostraram ser mais dependentes da glicólise, outras parecem ser mais dependentes da fosforilação oxidativa. Além disso, ao inibirmos ambas as vias metabólicas observámos diminuição da atividade metabólica das células de forma dependente do modelo de LMA. Apesar da inibição de ambas as vias metabólicas impedir a proliferação e induzir morte celular, quando a fosforilação oxidativa foi inibida, as células parecem reprogramar o metabolismo celular de modo a obter energia por outra via metabólica.
Estes resultados sugerem que a glicólise poderá ser um melhor alvo terapêutico na LMA. No entanto, as células tumorais apresentam outras vias metabólicas que lhes permitem ultrapassar os efeitos da inibição da glicólise. Assim, a eficácia do tratamento antiglicolítico poderá aumentar se este for utilizado em esquemas terapêuticos em combinação com outros fármacos.
Ana Bela Sarmento Ribeiro
Medical Oncology
Acute myeloid leukemia sensitivity to metabolic inhibitors: glycolysis showed to be a better therapeutic target
Fotografia de Paweł Czerwiński @ Unsplash