Lucerna

Recebi com inaudita e honrosa surpresa o convite que me foi dirigido pelo Laboratório de Comunicação em Saúde para partilhar um momento pessoal que possa ter, consciente ou inconscientemente, contribuído para influenciar o meu percurso e opções profissionais.

À partida poderia fazê-lo - a memória ainda não me atraiçoa nos detalhes mais determinantes da vida. Sucede que dela surgiria algo de coordenadamente impreciso e de conscientemente injusto. Todos nós somos o produto dinâmico de uma conjugação de circunstâncias e influências. A epifania não mora aqui. 

Integrando o programa doutoral numa etapa de maturação pessoal a meio de um percurso que permite abraçar todos os sonhos ou de não ter sonho algum, emerge a mais desinteressada e cristalina vontade: a de assumir o impulso e necessidade íntima de complementar a atividade médica – que nos realiza – com o exercício científico, sem o qual fica a faltar alguma peça no puzzle mental que nos procura fazer feliz. 

A decisão não é fácil. Requer uma exigente interação entre uma e a outra parte do Eu, um período solitário de permanente diálogo e reparo. Mas uma vez assumida a missão, a semi-vontade deixa de ser piloto e a diletância guia.  

A ciência pede tempo, reflexão e dedicação. E que devemos tentar vencer não por coerção mas por sedução. 

Gustavo Santo é aluno do Doutoramento em Ciências da Saúde da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra.

Lucerna

Ilustração por Ana Catarina Lopes