Isto é FMUC
O Biotério do Instituto de Investigação Clínica e Biomédica de Coimbra (iCBR) da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC) tem como principal função a criação e a manutenção de animais, mas “faz muito mais do que simplesmente alojá-los”. Ana Raquel Santiago, coordenadora do Biotério, explica de que forma funciona esta estrutura, que desempenha um importante papel na investigação em Biomedicina e no ensino da FMUC.
“Quando mudamos as gaiolas ou os biberões, temos sempre o cuidado de tentar perceber se os animais precisam de cuidados adicionais, e a veterinária também os observa com regularidade”, refere Ana Raquel Santiago, que considera que existe uma “interação muito positiva e cada vez maior entre os investigadores e os elementos do Biotério”, no sentido de se perceberem quais as formas mais indicadas para o tratamento dos animais ou para o aconselhamento acerca de experiências a serem desenvolvidas.
A coordenadora do Biotério destaca, assim, que a experimentação animal segue todos os protocolos e preceitos legislados: “seguimos uma diretiva europeia, que foi depois transposta para a legislação portuguesa, mas acredito que existe, antes de mais e essencialmente, o bom senso e o sentido ético do investigador, sustentado, depois, pela legislação”.
Para além disso, considera, igualmente, que tanto as próprias condições de alojamento dos animais como uma melhor noção, por parte dos investigadores, relativamente ao que pretendem alcançar através da experimentação animal têm vindo a sofrer melhorias significativas.
A formação em experimentação animal
O Biotério apoia também o curso avançado em Experimentação Animal do Programa de Doutoramento em Ciências da Saúde da FMUC e organiza o curso modular em Ciência de Animais de Laboratório que permite “obter a creditação junto da entidade competente, a Direção-Geral de Alimentação e Veterinária [DGAV], e pode ser frequentado por todas as pessoas que assim o entendam, quer sejam elementos da Faculdade, quer sejam pessoas externas”, indica Ana Raquel Santiago.
De igual modo, poderá utilizar o Biotério para realizar experimentação animal qualquer pessoa com as creditações necessárias para o efeito. “No entanto, caso uma pessoa não possua essas creditações, pode sempre contactar-nos que nós prestamos apoio na identificação de cursos que possam estar a decorrer ou que decorram em breve, quer na nossa Faculdade, quer noutras instituições”, refere a coordenadora.
Para aqueles que já possuem a creditação emitida pela DGAV e que necessitem recorrer à experimentação animal para desenvolverem a sua investigação, “podem sempre contactar o Biotério, por telefone ou por e-mail, para depois se articular o preenchimento dos formulários existentes e para nos conhecermos, porque acho que é muito importante, quando o investigador vem para a nossa Escola ou para o nosso Instituto, conhecer os seus elementos e perceber as normas internas do Biotério”, afirma Ana Raquel Santiago.
Com efeito, a sua coordenadora aconselha sempre os investigadores a conhecerem e a terem uma breve conversa com os elementos do Biotério antes de iniciarem qualquer projeto de investigação que envolva experimentação animal, para que lhes possam ser explicadas todas as normas e procedimentos. “Acho que isso também acaba por permitir que o investigador, quando tem alguma dúvida na manipulação animal ou quando nota alguns sinais clínicos nos animais, consiga saber a que elemento do Biotério pode recorrer para esclarecer as suas dúvidas”, observa.
A necessidade de uma comunicação clara e eficaz com a sociedade
A coordenadora do Biotério acredita que, infelizmente, ainda persistem, na conceção do público em geral, alguns mitos e preconceitos relativos ao tratamento e à manutenção de animais em laboratório, que urge serem desmistificados. Para que tal aconteça, é necessária uma “comunicação clara e transparente”, a ser transmitida pelos investigadores e pelos elementos que integram os biotérios.
“Às vezes, pode ser transmitida, pelos meios de comunicação social, a ideia de que são feitos procedimentos incorretos aos animais, e isso não corresponde à verdade”, refere. “Por isso, acho fundamental, não só passar a mensagem de que a experimentação animal é essencial em determinadas áreas, mas também a de que quem a realiza possui a devida creditação e sabe perfeitamente o que está a fazer”, enfatiza Ana Raquel Santiago.
No seu entender, é fundamental que a comunicação feita pelos investigadores ou por parte de “infraestruturas como o Biotério, que alojam animais para experimentação com fins científicos” e dirigida aos meios de comunicação social ou ao público em geral seja “fluida e transparente”.
“Considero que se devem promover ações que aproximem os vários players nesta dinâmica – os elementos do Biotério, os investigadores que realizam experimentação animal, os meios de comunicação social e o público em geral – como, por exemplo, sessões em que nós [comunidade científica] aprendamos a comunicar o nosso trabalho de forma a que todos nos percebam”, afirma.
Para Ana Raquel Santiago, esta comunicação entre comunidade científica e públicos leigos ocorre, muitas vezes, em “canais diferentes”, já que “é muito fácil um cientista falar do seu trabalho utilizando linguagem técnica e científica; o problema é que, com isso, acaba por não dizer nada para a comunicação social ou o público em geral” que, desta forma, não ficam esclarecidos.
Esta necessidade de uma comunicação eficaz é ainda mais premente quando está em causa o facto de não se poderem promover, junto dos meios de comunicação social ou da população, eventos como “Dias Abertos” no Biotério, já que, tal como esclarece a sua coordenadora, com essas ações se estaria a comprometer o estatuto sanitário das instalações, a fazer com que os animais entrassem em stress e a potenciar a possível entrada de agentes patogénicos no estabelecimento. “É verdade que este tipo de iniciativa [Dias Abertos] seria, possivelmente, a forma mais transparente para que todos vissem as condições nas quais os animais são alojados e tratados”, confessa, “mas quero acreditar que, às vezes, basta que todos conversemos na mesma linguagem”.
A equipa do Biotério
Ana Raquel Santiago refere que, quando foi decretado o primeiro estado de emergência devido à atual pandemia, em março deste ano, “os serviços do Biotério foram considerados essenciais, uma vez que estava em causa a vida e o bem-estar animal”.
Assim, e apesar de não poderem ser iniciadas novas experiências, foi possível desenvolver os projetos de investigação, mestrado e doutoramento que já se encontravam em curso. “Foi com grande esforço de todos os elementos do Biotério que o serviço foi mantido, sem nunca suspender funções”, salienta a sua coordenadora.
Da equipa do Biotério fazem parte os tratadores Virgílio Andrade e Miguel Teixeira, a médica veterinária Susana Barroso, a responsável pela limpeza Cláudia Serra e também Cláudia Caridade, que apoia o Biotério com o serviço de secretariado. “Eu fico com o trabalho mais fácil, que é ser coordenadora!”, diz Ana Raquel Santiago.
Nomeada para o cargo em novembro de 2019 por Carlos Robalo Cordeiro, diretor da FMUC, a coordenadora do Biotério considera que o “trabalho difícil é, efetivamente, feito pelos colaboradores que estão no terreno”, adiantando que, a si, apenas lhe compete continuar com o “magnífico legado deixado pelos anteriores coordenadores”.
“Aceitar ser coordenadora do Biotério foi uma decisão muito ponderada. Antes disso, não percebia realmente as dificuldades do trabalho no Biotério: agora, tenho noção de que temos uma equipa fantástica, que todos os dias faz o seu melhor pelo bem-estar animal. Está a ser desafiante desempenhar este cargo, mas estou a gostar muito”, conclui.
Esta “equipa fantástica” desempenha, diariamente, o seu trabalho nos edifícios do iCBR e da Subunidade 1, no Polo III da FMUC, nas salas afetas ao Biotério. No piso 0 do iCBR, encontram-se as salas de reprodução dos animais. No piso 1 da Subunidade 1, estão a sala de cirurgia e as salas de manutenção dos animais. E, no piso 3 da Subunidade 1, encontram-se as salas de experimentação animal, bem como salas anexas onde se realizam experiências de comportamento e testes in vivo na área da Oftalmologia.
Em todas estas salas, a equipa do Biotério certifica-se de que o bem-estar dos animais é assegurado. Afinal, convém não nos esquecermos que é graças a estes pequenos roedores que muitos progressos científicos na área da Biomedicina já foram alcançados, impactando, positivamente, a saúde humana