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Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra

VOICEmed #2
Estudo evidencia diferenças na evolução da Doença de Huntington
Sobre o estudo

A doença de Huntington (DH) é uma doença neurodegenerativa causada pela expressão anormal de uma proteína denominada huntingtina (HTT). A DH caracteriza-se pela morte de células numa parte do cérebro, com consequências ao nível da capacidade cognitiva, equilíbrio emocional e movimento.

O cérebro adulto contém zonas conhecidas como áreas neurogénicas, onde existem células estaminais/precursoras neurais (NSPC) capazes de dar origem a novos neurónios. A formação de novos neurónios ocorre através da diferenciação de células estaminais neuronais em neuroblastos que, por sua vez, depois de migrarem para determinadas zonas do cérebero, dão origem aos neurónios. As NSPC podem crescer em laboratório como neurosferas, compostas por células com capacidade para se diferenciarem em neurónios e um pequeno número de células com propriedades estaminais multipotentes, que podem dar origem a outros tipos de células.

Estudos anteriores mostraram que o cérebro de doentes de Huntington apresenta um aumento do número de células progenitoras capazes de originar novos neurónios. No entanto, os resultados em modelos animais de DH são contraditórios, com estudos a mostrarem que não se observa qualquer alteração na capacidade das células progenitoras se diferenciarem em neurónios, enquanto outros demonstram um aumento na proliferação e diferenciação neuronal das NSPC. A explicação para estes dados opostos pode residir nas diferentes características dos modelos animais para a DH, que podem refletir estádios distintos da progressão da doença.

Assim, com este trabalho pretendeu-se caracterizar o potencial de crescimento e diferenciação de células derivadas de cérebros de animais em diferentes estádios da DH, em comparação com animais saudáveis. Além disso, avaliou-se o potencial efeito benéfico do fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF), cujos níveis se encontram reduzidos na DH, na diferenciação neuronal de animais com DH. 


Resultados e impacto

O presente trabalho revela diferenças importantes no processo de diferenciação de células progenitoras ao longo da progressão da doença de Huntington (DH), acompanhada por alterações da função mitocondrial, essencial para a produção de energia (ATP) e responsável pela produção de espécies oxidantes potencialmente tóxicas. Em fases iniciais da doença, verificou-se uma maior diferenciação neuronal e um aumento do potencial de membrana mitocondrial, ao passo que em fases mais adiantadas da doença se observou uma redução da capacidade de formação de novos neurónios e uma diminuição do potencial de membrana mitocondrial. Este trabalho mostra ainda que o possível efeito benéfico do BDNF na diferenciação neuronal varia ao longo da progressão da doença, sugerindo que as estratégias destinadas a promover a formação de novos neurónios, e retardar os efeitos neuropatológicos desta doença neurodegenerativa são mais eficazes em estádios iniciais da DH.

Ana Cristina Rego


Biochimica et Biophysica Acta (BBA) - Molecular Basis of Disease 
"Characterization of subventricular zone-derived progenitor cells from mild and late symptomatic YAC128 mouse model of Huntington's disease."





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