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Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra

VOICEmed #2
Conhecimento de neurotransmissores pode levar a futuras terapêuticas para o autismo

Sobre o estudo

As perturbações do espetro do autismo caracterizam-se por défices de comunicação, alterações na perceção social e manifestação de rigidez e inflexibilidade comportamental. O impacto social é enorme, até porque se tem verificado um aumento da respetiva incidência na população, que chega a ser, por exemplo, de 1 para 100 nos Estados Unidos. A maior consciencialização pública para este tipo de perturbação tem permitido elevar o número de iniciativas de inclusão social. Todavia, tem sido difícil encontrar abordagens terapêuticas, dado que os mecanismos que causam o autismo são ainda muito pouco conhecidos. Recentemente surgiu a hipótese de que alterações neuroquímicas, com impacto no balanço fisiológico entre a excitação e a inibição, estariam implicadas nesta condição. Este estudo de ressonância magnética espectroscópica procurou avaliar alterações dos níveis de moléculas sinalizadoras produzidas pelos neurónios, denominadas neurotransmissores, bem como determinar se existe uma relação entre os níveis destas moléculas e o desempenho em tarefas cognitivas. Verificámos que níveis mais baixos do neurotransmissor GABA estavam associados a pior desempenho na comunicação e nos níveis de atraso do desenvolvimento, e que níveis mais elevados de aspartato, outro neurotransmissor, apareceram associados a melhor desempenho cognitivo. 

Resultados e impacto

Este estudo mostra alterações neuroquímicas com impacto na fisiologia do balanço entre excitação e inibição no autismo. Isto é relevante porque estes marcadores mostraram ter uma relação com os défices cognitivos encontrados, abrindo o caminho para se tornarem um alvo de novas intervenções terapêuticas. Com efeito, um melhor conhecimento dos mecanismos e moléculas envolvidas no autismo, incluindo o GABA e o aspartato, podem vir a constituir um alvo para novas abordagens terapêuticas que tenham como objetivo fazer variar os seus níveis. Estes marcadores poderão ainda ajudar ao desenvolvimento de uma medicina mais personalizada, ao permitir estratificar melhor, de forma biológica, as perturbações do espectro do autismo. 


Miguel Castelo Branco


Journal of Autism and Developmental Disorders

"Medial Frontal Lobe Neurochemistry in Autism Spectrum Disorder is Marked by Reduced N-Acetylaspartate and Unchanged Gamma-Aminobutyric Acid and Glutamate + Glutamine Levels."




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