Rui Miguel Fragas
Queixo recuado, dentes cariados, envinhadas as
vísceras, face longa e crânio muito alto: penhasco
onde pensamentos vários e simultâneos se
despenham, alucinados.
A caminho do coval, a espora da dor não segura os
meus cavalos, só os demora um instante que pouco
demora.
Não me visitem entre as jazidas dos prazeres, na
estrela, que ali não estou. Alados levaram-me os
cavalos para outro lado. Espero que haja vinho lá, e
cigarros, muitos, sempre escassos por cá.
Herdeiro de defeitos mas não de dinheiro, alucinado
onanista e fumador, todos os dias desço mais um
degrau do ribanceiro.
Se não morrer de doença mais nobre, decreto que
morrerei de enterite, coisa pouca, sem pompa.
2017
Nota: dedicado a Ângelo de Lima, poeta/pintor que sofria de "loucura moral"
segundo o Dr. Miguel Bombarda