Lucerna

Inês Mesquita

VOICEmed #2
E agora?
Corria o ano de 2014 e metade do internato de formação específica em Anestesiologia estava concluído. Andava de estágio em estágio, relatório em relatório, a estudar as especificidades de cada área em que a Anestesiologia é perita. Dedicada a cumprir os objetivos, fazia trabalhos simples para apresentar em congressos e revisões de temas para reuniões científicas.

No entanto, sentia que se quisesse criticar um artigo científico não o sabia fazer. Sentia que se quisesse escrever um artigo segundo as regras das boas práticas também não o sabia fazer, porque essa era ainda uma lacuna no ensino pré-graduado e porque a minha especialidade médica não fornece as necessárias ferramentas para investigar. Constatei, aliás, que em Portugal a investigação tem muito para crescer na Anestesiologia.

Parei, olhei interiormente para a minha vida e senti que o Doutoramento era o próximo desafio: começar do zero, aprender ciência nas suas raízes, a sua estrutura, o seu conteúdo, os mil caminhos por onde anda, os meios que utiliza, os fins que alcança. E que mundo estava por descobrir!

Pedi conselhos à família, a amigos de sempre e a amigos “de agora”. E todos me disseram: “vai em frente. Vai ser difícil mas vai em frente”. Uns, porque já passaram este desafio, outros, porque viram alguém próximo passar. E como dizia uma colega Anestesiologista do Norte do nosso país: “Inês, o Doutoramento é uma prova de superação pessoal, de auto-motivação. Todos os dias tens de ir buscar vontade e determinação, para chegar ao fim.”

E porquê a Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC)? Porque é a casa do meu coração.

A FMUC permitiu-me crescer não apenas como futura médica, mas humanamente, por ter pertencido quatro anos aos corpos dirigentes do Núcleo de Estudantes de Medicina da Associação Académica de Coimbra, escola de vida.

Criei laços para sempre, vivi momentos marcantes na defesa dos estudantes e no desenvolvimento da sua vida académica e senti que o Programa Doutoral era uma oportunidade de devolver o que a FMUC que me deu.

Tendo escolhido a investigação clínica quis, desde o início, conciliar a vida de prática médica com a de investigação, acreditando profundamente que um bom investigador só o é se mantiver a prática clínica e vice-versa. Porém, tal trouxe dificuldades e constrangimentos. Os contratos de trabalho nos hospitais não têm flexibilidade adequada, as ideias novas nem sempre são bem-vindas, o financiamento para este tipo de investigação em Portugal é irrisório e a propina não se paga sozinha... Valeu-me o estatuto de interna doutoranda, que permitiu adaptar alguns estágios do Internato Médico e a minha vontade de seguir em frente.

O ano curricular está feito, a colheita de dados está a avançar, com altos e baixos e todos os dias me convenço “faz parte Inês”.

O futuro? Aceito o que a vida me trouxer :)

Vamos lá!
Mobirise
Inês Mesquita é médica anestesiologista no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra e estudante do programa de doutoramento em Ciências da Saúde - ramo de Medicina - da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra.