Em 2015, numa entrevista à Visão, disse que "não há nada que não se faça no estrangeiro que não se faça cá [CHUC]" e que Coimbra é um exemplo a nível europeu em termos de oftalmologia. Mantém a opinião?
Tirando um tratamento: radioterapia com feixe de protões. Esteve programado para Coimbra e há poucos na Europa. Fora isso, não há nada que se faça no estrangeiro que não se realize cá. Os oftalmologistas, e os médicos portugueses em geral, estão muito bem preparados como é facilmente provado pelo sucesso que têm além fronteiras. Deveríamos, no entanto, apostar muito mais na pós-graduação. É algo muito sério que a Universidade de Coimbra deve refletir. O Plano Estratégico do Conselho Geral, que está a ser elaborado, e que vai obviamente orientar o próximo reitor, poderá dar uma valiosa contribuição nesta matéria.
É obrigatório fazer de Coimbra a cidade da saúde. Em Coimbra há duas coisas de grande referência: a universidade e a saúde, com os hospitais, as clínicas privadas, as empresas ligadas ao setor. É o desígnio da cidade. Falta união e verdadeiro espírito de colaboração entre as estruturas e instituições envolvidas, algumas lideranças carismáticas, bem como uma universidade aberta à sociedade e ao tecido empresarial.
Qual a relevância de Coimbra ter um consórcio como o Ageing?
O Ageing é um dos exemplos da falta de entendimento das pessoas. É um processo que poderia ter sido fantástico, mas está moribundo. O Centro de Portugal foi reconhecido, pela Comissão Europeia, como uma região de referência para o envelhecimento ativo e saudável. Conseguiu-se um 'European Research Area - ERA Chair'. Tínhamos um projeto 'Teaming' de mais de 30 milhões de euros, o apoio e envolvimento muito importante da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional Centro, um projeto de recuperação do antigo Hospital Pediátrico, com a construção de um Instituto Multidisciplinar do Envelhecimento e um Campus da Vida em Coimbra, mas foi gravemente “ferido” por falta de entendimento e visão estratégica de algumas pessoas da cidade.
O processo começou comigo, quando estava na direção da faculdade, com uma equipa totalmente dedicada ao projeto durante cerca de três anos. Tínhamos dois grandes parceiros completamente envolvidos. Groningen, uma região modelo com imenso financiamento a nível de União Europeia, e que entretanto se afastou, e Newcastle. Mais uma vez, isto tem a ver com lideranças. Se houver lideranças fortes, que consigam congregar as pessoas, fazer equipas, delegar... Continuamos a ter todo o potencial para o fazer. Se não o fizermos, é um projeto perdido, mal perdido, e seremos ultrapassados, inexorável e definitivamente, por outras regiões, que estavam bem atrás de nós.
Outra questão... No próximo ano, vai-se realizar em Coimbra o maior evento de sempre na área da saúde, a Conferência Intercalar da Cimeira Mundial de Saúde de 2018, a 19 e 20 de Abril. Vão cá estar pessoas representando as maiores e mais prestigiadas instituições de todo o mundo (universidades, hospitais, organizações de saúde, etc). Já ouviu falar alguma coisa de concreto acerca desta conferência, do seu programa? À exceção de um grupo muito restrito de pessoas, ninguém sabe nada, a pouco mais de três meses. Mais outra oportunidade perdida?
por Paulo Sérgio Santos (com Ana Carolina Marques)