Lucerna

A disponibilidade

A vida é um contínuo de momentos felizes e tristes e de muitas lições. As pessoas surgem na nossa vida e cabe-nos a tarefa de decidir quem são os bons e os maus exemplos e aprender com eles. Deixo aqui uma breve referência a pessoas e instituições que marcaram a minha vida profissional (e também pessoal) e que contribuíram para a ideia que pretendo realizar neste doutoramento.


Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa 

Aos 18 anos, fui contra tudo o que parecia óbvio e abdiquei da Medicina em detrimento da Anatomia Patológica (apesar de uns anos mais tarde ter optado mesmo pela Medicina!): uma licenciatura que ninguém conhecia ou sabia para o que servia! Naquela altura, havia um grande desprimor em relação ao ensino politécnico. Durante quatro anos, tive oportunidade de ter como professores pessoas disponíveis que tratavam os alunos como colegas e que não se inibiam de ensinar tudo o que sabiam, para o bem da geração de técnicos que estavam a formar. Havia o estímulo constante para ir mais além, para estudar e fazer mais, com o objetivo de ultrapassar esse preconceito ignorante. Este facto marcou o meu percurso no sentido de, daí em diante, não deixar criar rótulos errados apenas por não se conhecer algo. Hoje, apesar de já não exercer esta profissão de que tanto me orgulho, mantenho uma admiração pelos professores e colegas de turma e aplico o mesmo tipo de ensino que tive.


IPATIMUP – Cancer Signalling and Metabolism group (ex Cancer Biology group)

De 2008 a 2015 (período durante o qual fiz o Mestrado Integrado em Medicina na FMUP) trabalhei neste grupo de investigação. Aprendi tudo o que sei sobre ciência, não apenas as técnicas, mas principalmente aprendi a analisar tudo à minha volta com os olhos de quem está à procura de uma solução. Não é inato, aprende-se, desenvolve-se e depois torna-se automático.

Professora Paula Soares: a humildade, a disponibilidade, a simpatia, a liberdade!

Professor Manuel Sobrinho-Simões: a gentileza, a educação, a simplicidade, a disponibilidade, o conhecimento!

Professor Miguel Melo: a atenção, a disponibilidade, a cortesia, a ética, o trabalho!*

Todos os meus colegas: a boa disposição, a colaboração/ajuda, a disponibilidade, a amizade.

Com estas pessoas, percebi que não é preciso “atropelar” ninguém para se ser bom, é possível ser-se rigoroso e isento e conseguir-se grandes resultados. É um orgulho ter trabalhado neste instituto e manter-me ainda como colaboradora.


Grupo de Investigação em Geografia da Saúde

Em 2018 tive a oportunidade de realizar um estágio no âmbito do internato médico neste grupo de investigação da Universidade de Coimbra, que integra o Centro de Estudos em Geografia e Ordenamento do Território (CEGOT). Coordenado pela Professora Paula Santana, o grupo é composto maioritariamente por geógrafos. Ora aí começou a minha surpresa e ignorância: geógrafos a estudar saúde! Depois da surpresa inicial, não posso deixar de salientar o quanto aprendi sobre ser preciso olhar por outra perspetiva se queremos ser o mais rigorosos possível. Se já levava alguma bagagem da investigação, aqui aprendi que é preciso “baralhar e voltar a dar”! Os mesmos valores, outra forma de pensar e fazer ciência. Depois do estágio finalizado, tenho o prazer de continuar ligada a este grupo.

Professora Paula Santana: a elegância, o rigor, a disponibilidade, a persistência.

Ricardo, Cláudia, Ângela, Adriana: a simpatia, a disponibilidade, os “multifacetados”.

No fim deste texto, percebo que há uma característica comum nas pessoas que me marcaram: a disponibilidade. O tempo é porventura o presente mais valioso que podemos oferecer!

*Conflito de interesses: o Miguel tem sido, de facto, um dos colegas de trabalho mais importantes e, talvez por isso, hoje somos casados!


Adriana Gaspar da Rocha é aluna do Doutoramento em Ciências da Saúde da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra.

Lucerna

Ilustração por Ana Catarina Lopes