Clínica Universitária de Oncologia

Isto é FMUC

Médico especialista em Medicina Interna e Oncologia Médica e professor catedrático de Oncologia, Nascimento Costa é também o diretor da Clínica Universitária de Oncologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC). Uma estrutura orgânica que, conforme faz saber, assenta em três componentes: ensino, investigação e desenvolvimento e assistência.


A vertente de Oncologia na FMUC
Para dar a conhecer melhor esta clínica universitária, o seu diretor começa por explicar a criação da vertente de Oncologia no ensino da FMUC, atribuindo o devido crédito ao seu mentor: “é sempre bom dar o seu a seu dono”, enfatiza. “Esta criação começou há muitos anos, com o Professor Carlos de Oliveira, particularmente no ensino pré-graduado”.

Deste modo, “o primeiro bloco de ensino especificamente destinado à Oncologia, com uma missão integradora”, foi pensado para o 6º ano de Medicina. Assim, neste ano do curso passou a existir, “para além das valências de Cirurgia, de Saúde Pública, de Saúde Materno-infantil, de Medicina, também, um espaço reservado à formação em Oncologia”, explica Nascimento Costa, que veio a suceder a Carlos de Oliveira na regência desta vertente formativa no 6º ano do curso de Medicina.

Por essa altura, percebeu-se que uma Clínica Universitária de Oncologia, através da criação de uma unidade curricular dedicada a essa área, se assumia enquanto uma “necessidade urgente”, dada a constatação de que “o tempo que era dedicado à formação em Oncologia não era suficiente para transmitir aos alunos, e futuros médicos, os conhecimentos essenciais que precisavam de ter sobre a doença oncológica”.

A estrutura de Hemato-Oncologia
A constatação dessa necessidade foi mais óbvia na Hematologia, razão pela qual a respetiva Clínica Universitária surgiu mais cedo. Nascimento Costa, que foi regente de Hematologia durante 20 anos, explica: “como nas outras disciplinas não existia muita formação sobre esta área, percebemos mais cedo que a Hematologia, como unidade curricular, era fundamental”.

A Oncologia como “unidade autónoma” no plano curricular surgiu mais tarde, uma vez que se considerava que esta temática era tratada e abordada em tantas outras e, portanto, “que não seria necessário desenvolver um ensino estruturalmente integrador”.

“Hoje, podemos dizer que temos uma verdadeira unidade de Hemato-Oncologia, ou de Oncologia de tumores sólidos e ditos ‘tumores líquidos’”, constata. Algo que, no entender do diretor da Clínica Universitária de Oncologia, “decorre da excelente colaboração entre docentes e investigadores, com especial enfâse para e com a Professora Ana Bela Sarmento Ribeiro, regente de Hematologia, que me sucedeu e com quem temos vindo a desenvolver trabalho conjunto no Laboratório de Oncobiologia e Hematologia que ela dirige”, refere.

A importância da colaboração interpares
Conforme explica Nascimento Costa, é no Laboratório de Oncobiologia e Hematologia da FMUC “que são feitos os projetos de investigação e a formação elementar nas ciências de apoio à Oncologia Clínica” e que estão na origem de muitos artigos científicos na área. Além disso, este laboratório dá ainda apoio aos mestrados e doutoramentos, através da participação em módulos de ensino que, embora facultativos, “são muito procurados e resultam desta simbiose entre as áreas da Oncologia e da Hematologia, numa estrutura que podemos dizer que é transversal, já que os conceitos e até muitas das práticas são comuns a ambas”.

Nascimento Costa destaca, assim, o sentimento de realização face a esta “reunião de esforços e excelente articulação”. Embora falemos de duas áreas com atividade assistencial diferente, “a maior parte dos trabalhos de investigação e doutoramento têm sido sempre feitos em conjunto”.

Ainda no que diz respeito à investigação, o diretor da Clínica Universitária de Oncologia destaca o “interesse em perceber e estudar os mecanismos moleculares de sensibilidade e de resistência a fármacos”, tanto em neoplasias hematológicas quanto em neoplasias sólidas, razão pela qual têm sido produzidos consideráveis trabalhos nesse âmbito, com diversos artigos publicados, capítulos de livros e teses de doutoramento concluídas e em curso. “Temos correspondido àquilo que, não sendo um output extraordinário, resulta da colaboração interpares, e isso é muito importante”, salienta.

Isto é FMUC

O corpo docente

“Temos feito a distribuição dos docentes e dos colaboradores, sobretudo daqueles que estão dedicados à disciplina, privilegiando, quer a Oncologia Médica, quer a Radio-oncologia, que no fundo são as duas especialidades de apoio à clínica”, menciona Nascimento Costa. 

Assim, como corpo docente desta clínica universitária – e para além do seu diretor – fazem parte os assistentes e estudantes de doutoramento João Casalta e Inês Góis, a oncologista Leonor Pinto e a internista Rosário Lebre. Para além do serviço docente, estes elementos dão também apoio assistencial quando necessário e de consultadoria a alguns centros de excelência. Nas palavras de Nascimento Costa, o “objetivo está em requalificar e melhorar a prestação assistencial com base num bom alicerce de bancada [de laboratório]: é esta a nossa filosofia”. 


A pandemia e a atividade da clínica universitária 

Questionado acerca de uma eventual mudança na organização da atividade da Clínica Universitária de Oncologia devido à atual pandemia, o seu diretor responde com praticidade: “a única coisa que foi alterada – e isso é importante que se diga – foi o facto de os nossos alunos não poderem estar em aulas presenciais”, até porque “um doente oncológico é um doente particularmente sensível à infeção, seja ela qual for, e em particular àquela causada pelo SARS-CoV-2”.  

Nascimento Costa destaca a compreensão e adesão dos alunos ao regime de aulas à distância, que simulam casos clínicos reais e que são desenvolvidas tendo por base aquilo “que são os conteúdos para a avaliação dos alunos num futuro próximo: a prova nacional de acesso ao internato médico”. 

Deste modo, e embora não sendo possível, de momento e por “razões claras e evidentes”, o contacto físico com o doente, o corpo docente da Clínica Universitária de Oncologia tem conseguido estruturar o ensino por forma a “não desvirtuar aquilo que é verdadeiramente a aplicação prática dos conceitos”. 

“Creio que, num mestrado integrado de seis anos, como é o caso do curso de Medicina, não poder ter contacto com o doente por um semestre não prejudica em nada a capacidade de desenvoltura destes alunos e futuros médicos”, afirma Nascimento Costa.  


A atratividade da especialidade de Oncologia

“A Oncologia nos Hospitais da Universidade de Coimbra [HUC] teve origem no Professor Carlos de Oliveira e eu dei-lhe continuidade. Tenho o orgulho e a satisfação, de, com ele, ter criado a estrutura, o [Hospital de Dia no Edifício] S. Jerónimo”, congratula-se o diretor da Clínica Universitária de Oncologia. 

Afinal e como menciona, “foi um passo de gigante” terem conseguido desenvolver tal estrutura, “quase desenhada à mão” por ambos: “hoje, basta ver o seu desempenho para perceber que é um expoente dos HUC”.  

Para Nascimento Costa, a Oncologia e a Radio-Oncologia são áreas de intervenção multidisciplinares, que precisam da contribuição de outras áreas do saber para produzir um bom e eficaz resultado. Por essa razão, é uma área que atrai os “jovens médicos, porque lhes permite que dominem um vasto conjunto de áreas do saber”.  

Com efeito, “se existe área do saber e de intervenção prática em que a investigação está sempre na ordem do dia – não só a investigação clínica, mas também a investigação fundamental – e que toca em outras áreas, como a Bioengenharia, a Biologia e a Genética, a Informática e a Bioinformática, essa área é a Oncologia”, explica.  

O diretor da Clínica Universitária de Oncologia avança que, hoje, o País tem já um “número suficiente de oncologistas”, mas que “ainda está aquém daquilo que são as metas europeias”. Uma situação que crê que mudará num futuro próximo. “Penso que, dentro de pouco tempo, teremos uma cobertura suficiente de especialistas em Oncologia focados na sua área de interesse, numa colaboração multidisciplinar e inseridos numa rede de referenciação, trabalhando com esse sentimento de necessidade de cooperação”.  


Isto é FMUC

Uma especialidade vasta – e muito complexa

Nascimento Costa é médico há 45 anos. Tem, por isso, uma vasta experiência na prática clínica nas áreas da Medicina Interna, especialidade na qual começou o seu percurso profissional, e da Oncologia. É, por isso, impossível não o indagarmos acerca daquilo que tem aprendido com a interação com todos os doentes que tratou ao longo dos anos, principalmente quando o que está em causa é a comunicação de um cancro ao doente, para a qual não existe uma “fórmula única”, como indica. 

O diretor da Clínica Universitária de Oncologia salienta o facto de, hoje, os doentes serem “diferentes daquilo que eram há 20 anos”. O acesso a mais informação e uma maior literacia em Saúde desempenham, neste contexto, um papel fundamental. “Ainda há muito para aperfeiçoar, mas atualmente as coisas são diferentes: hoje, as pessoas gostam mais de saber a verdade do que no passado”, constata.   

Na prática clínica em geral – e na Oncologia de modo particular – há que incluir o doente no centro das decisões e na gestão do seu problema de saúde. Por isso, esta prática tem a difícil tarefa de conjugar o humanismo da relação com o doente com o rigor da informação que lhe é prestada.

“Não podemos fazer quimioterapia ou radioterapia sem dizer ao doente aquilo que está em causa”, declara. Uma tarefa que, embora complexa, Nascimento Costa considera estar hoje um pouco mais facilitada, dados os notáveis progressos na Oncologia. “Isto não é um sofisma, é uma verdade: grande parte das doenças oncológicas que, há 20 ou até há 10 anos não eram suscetíveis de cura, são hoje curáveis”.

Assim, uma grande parte das doenças oncológicas que antes “tinham uma rápida evolução para a morte, hoje transformam-se quase em doenças crónicas”. E, conforme enfatiza Nascimento Costa, esta não é “uma realidade acidental e incidental”, mas antes uma realidade que assenta no desenvolvimento tecnológico e científico.  

“Hoje, temos a oportunidade de anunciar realidades aos doentes que não éramos capazes de anunciar no passado: podemos invocar mais vezes a palavra esperança, não por mera compaixão, mas por convicção”, assinala.


Coimbra no mapa da Saúde em Portugal

Sobre o posicionamento a ser adotado por Coimbra e pela região Centro para que, num futuro próximo, volte a afirmar-se e destacar-se na área da Saúde, com valências diferenciadas e de renomada qualidade, Nascimento Costa declara prontamente: “sem brincar com coisas sérias, diria que Coimbra precisava de sair de Coimbra para poder mostrar o que vale, e isso já diz muita coisa”.  

O diretor da Clínica Universitária de Coimbra refere-se, com isto, ao maior destaque dado ao Porto e a Lisboa no mapa da Saúde nacional que, na sua opinião, faz com que estas cidades sejam, respetivamente duas “velas”, a Norte e a Sul do País, que acabam por afetar fortemente o desempenho de Coimbra e da região Centro nesta área tão importante.

Para Nascimento Costa, apesar da região Centro viver numa espécie de “escuridão” imposta pelas políticas nacionais de concentração de esforços e meios noutras zonas do País, tem muito potencial por revelar, que deve ser divulgado através da afirmação da sua real valia, pela sua qualidade, potencial e mérito, e não através do lobbying protagonizado por alguém de Coimbra com assento nos órgãos de decisão.

“No meio desta concorrência forte que é demográfica, nacional e operacional, a conclusão a retirar é a de que temos de ter orgulho de sermos conimbricenses e pertencermos à região Centro. Devemos saber aprender a trabalhar uns com os outros e a criar sinergias que acrescentem valor. E acrescentar valor significa, primeiro e antes de mais, criar valor. Não se pode acrescentar valor sem primeiro o criar”, conclui.

por Luísa Carvalho Carreira (texto e fotografia de topo)
fotografias gentilmente cedidas por Nascimento Costa