Escrevo-vos numa altura particularmente difícil no que diz respeito à “força” com que a pandemia COVID-19 vai entrando nas nossas vidas. Este período vai exigir de toda a comunidade académica, incluindo estudantes, pessoal docente e não docente, esforços, sacrifícios e, acima de tudo, muita serenidade. O número de casos que se revelam positivos, de pessoas que nos estão próximas, vai aumentar, com o cerco a apertar de dia para dia. Devemos estar preocupados e atentos, mas não podemos entrar em histerias coletivas.
Em relação à primeira vaga da doença, sabe-se hoje muito mais sobre as estratégias manhosas que este vírus SARS-CoV-2 utiliza para se tentar “apoderar” de nós, e também conhecemos melhor as formas de nos protegermos. Felizmente, na maioria dos casos, os nossos sistemas de alerta e defesa tratam de gerir o ataque do vírus, sem que nos demos conta disso. No entanto, isto tem um preço a pagar, pois embora não sejamos incomodados pelo vírus, continuamos a ser seus portadores e este procurará, incessantemente, outros hospedeiros onde possa fazer estragos.
Este é um dos grandes perigos da COVID-19, os assintomáticos que espalham a doença, sem que se deem conta disso. Para que possa ser evitado, é fundamental seguir as recomendações, que mais não são do que medidas de segurança que, se devidamente respeitadas, ajudam a evitar a propagação da COVID-19, protegendo-nos a nós e aos outros. Nesta altura, todos devemos assumir que somos potencias “positivos” assintomáticos, capazes de propagar, de forma silenciosa e inconsciente a doença. E isso é tudo o que deve ser evitado.
Se forem cumpridas as recomendações e tomadas as devidas cautelas, é possível continuarmos a ter uma vida relativamente normal, dentro de todos os condicionalismos, impedindo a economia de parar. O que seria igualmente catastrófico, para a saúde do País. É por isso que apelo a todos, nomeadamente aos estudantes, que assumam um comportamento civilizado e evitem aglomerações que propiciem o propagar da doença.
Os estudantes de Medicina, principalmente aqueles a frequentar os últimos anos clínicos, têm uma responsabilidade acrescida, já que têm contato com doentes, em ambiente hospitalar. O respeito por uma população mais vulnerável e sensível, que aceita colocar a sua vida nas mãos destes estudantes, deve merecer destes uma atitude exemplar, com a adoção de práticas e comportamentos, em contexto social, quando longe das aulas e dos doentes, condignos com os valores da profissão que vão, dentro em pouco, abraçar.
Este foi um tema incontornável nas diversas conversas que partilhamos na presente edição da Voice*MED. Em 4´33´´, temos o grande privilégio de ouvir o Dr. Carlos Santos, presidente do Conselho de Administração do CHUC, que entre outras coisas nos explica por que é que o Hospital Geral é uma unidade COVID, com vida. Vamos também conhecer os planos para que o CHUC se possa voltar a afirmar como uma estrutura de saúde de referência, nacional e internacionalmente, nas suas vertentes assistenciais, ensino e investigação. Também em “Isto é FMUC”, o Professor Nascimento Costa, Diretor da Clinica Universitária de Oncologia, nos dá uma perspetiva clara e elucidativa do momento que vivemos, não só no que diz respeito à pandemia, mas também, no que se refere à forma como a ciência e a prática clínica tem evoluído nos últimos anos, permitindo, hoje, oferecer tratamentos até há pouco impensáveis, que trazem nova esperança à vida de pessoas afetadas pelo cancro. Não perca a visão deste Professor Catedrático, com uma larga experiência e conhecimento sobre estratégias e políticas de saúde, aos mais diversos níveis, sobre qual a atitude que Coimbra deverá tomar, para não sejam apenas duas as velas a iluminar a saúde em Portugal.
Na rubrica, “Do Curso de Medicina”, com o Professor Jubilado da FMUC, João Relvas, ficamos a conhecer o seu gosto pelas artes, nomeadamente pelo cinema e jazz, que por pouco nos iam roubando um psiquiatra. Teremos também a oportunidade de saber como é que os doentes psiquiátricos têm lidado com a pandemia.
O Instituto Confúcio, uma plataforma de cooperação entre a Universidade de Coimbra e a Universidade de Medicina Chinesa de Zhejiang, será o nosso convidado em “Fora da Medicina”, para nos falar da medicina tradicional chinesa.
Em “Lucerna”, vamos conhecer o percurso tão atípico quanto interessante e enriquecedor de Adriana, especialista em Saúde Pública e aluna de Doutoramento, que através daquilo que vivenciou pelos diversos sítios por onde passou, onde aprendeu com gente tão variada, tem hoje a oportunidade de encarar o mundo de uma forma tão esclarecida.
Para fazer frente a qualquer sintomatologia mais adversa, recomendamos a terapia prescrita pela Professora Isabel Carreira.
Henrique Girão