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Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra

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Nevrite óptica pode ser manifestação de diversas situações clínicas

Sobre o estudo

Neste trabalho foi efectuada uma descrição clínica e imagiológica exaustiva de um grupo de 10 crianças em quem se estabeleceu o diagnóstico clínico de nevrite óptica unilateral. A nevrite óptica é, por definição, o resultado de uma inflamação do nervo óptico, mas por detrás de um diagnóstico com estas características podem estar várias situações clínicas, desde doenças infecciosas a doenças desmielinizantes do sistema nervoso central, sendo a esclerose múltipla a mais conhecida.

O período de recrutamento foi de 40 meses e, apesar de não ter sido muito longo, permitiu a inclusão de uma variedade de condições clínicas muito grande. Em 10 doentes incluídos no estudo, 2 vieram a apresentar uma esclerose múltipla, 1 uma neuromielite óptica (com anticorpos anti-aquaporina 4), 2 uma doença mediada pelos mais recentemente descritos anticorpos anti-MOG (anti-glicoproteína oligodendrocítica da mielina), 1 doente apresentou uma toxocaríase ocular (uma doença provocada pelo parasita Toxocara canis) e 1 doente desenvolveu uma doença do nervo óptico em relação com o diagnóstico de uma doença auto-imune sistémica; os restantes casos foram classificados como idiopáticos (de causa desconhecida).

A análise dos dados recolhidos pelos estudos de ressonância magnética permitiu constatar que a ausência de alterações estruturais no nervo em algumas ponderações, assim como de realce após a administração de contraste paramagnético se correlacionavam com o diagnóstico de nevrite óptica idiopática.



Resultados e impacto

À luz do nosso conhecimento, esta é a maior série publicada de nevrites ópticas unilaterais em crianças e suporta precisamente uma noção que, do ponto de vista clínico, é muito importante: a nevrite óptica pode ser uma manifestação de um conjunto muito grande de doenças, cujo tratamento pode ser extremamente diverso e cujo prognóstico (em função desse mesmo tratamento) é também muito variável.

Mais ainda: apesar de se associar quase automaticamente a nevrite óptica a um possível diagnóstico de esclerose múltipla, a nossa série demonstra que não houve uma grande hegemonia desse diagnóstico, em relação a outros considerados (teoricamente) mais raros.

Deste modo, de todo este trabalho ressalta a necessidade de, em termos clínicos, a abordagem de uma criança com nevrite óptica dever ser muito cuidada, sistemática e exaustiva – qualquer uma das doenças supracitadas pode ter implicações complexas na qualidade de vida de um indivíduo, tanto mais quando se manifesta tão precocemente, em idade pediátrica.



Filipe Palavra


European Neurology  
Unilateral Optic Neuritis in Children: Experience of a Tertiary Centre


Fotografia de Liam Welch  @ Unsplash


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