Instituto de Microbiologia

Isto é FMUC

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Manter os locais de trabalho assépticos, ter cuidados quanto à circulação de várias pessoas no mesmo espaço, lavar e desinfetar frequente e corretamente as mãos: estes são alguns dos comportamentos que poderão até ser novos hábitos para alguns, mas não para quem trabalha e desenvolve a sua investigação no Instituto de Microbiologia, localizado no terceiro piso do edifício da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC) do Polo I.

É por isso que Teresa Gonçalves, diretora deste instituto há três anos, afirma que a equipa se adaptou com naturalidade à atual pandemia e aos cuidados e restrições inerentes, enquanto nos dá a conhecer melhor esta estrutura orgânica da Escola.


O ensino e a investigação

No que respeita ao ensino, o Instituto de Microbiologia participa no Mestrado Integrado em Medicina (MIM), através da Unidade Curricular (UC) de Microbiologia e Parasitologia, no Mestrado Integrado em Medicina Dentária (MIMD), com a UC de Microbiologia Médica e no Mestrado em Investigação Biomédica (MIB), com a UC de Investigação em Infeção e Imunidade. Teresa Gonçalves colabora ainda na lecionação da UC de Microbiologia e Parasitologia nos cursos da Universidade dos Açores e de Cabo Verde. Para isso conta, para além de si, com uma colega professora auxiliar e três assistentes, médicos, convidados para o segundo semestre.

Qualquer “Instituto Universitário só faz sentido se, para além do Ensino, gerar conhecimento”. Por isso, este instituto dedica-se à investigação em Microbiologia aplicada à Saúde, “com particular incidência em agentes patogénicos humanos e identificação de novas terapias”. Conforme esclarece a diretora do instituto, estes são os dois principais focos da investigação.

No que diz respeito à investigação de agentes patogénicos, o Instituto de Microbiologia investiga tanto os seus “mecanismos de patogenicidade como os de resistência antimicrobianos”, nomeadamente no estudo dos fungos. “Estudamos fungos patogénicos para o Homem, que podem provocar infeção ou que estão envolvidos em alergias”, esclarece Teresa Gonçalves, cuja área de especialização principal é a Micologia Médica. Parte do trabalho de investigação do instituto também se dedica à “pesquisa de novos antimicrobianos, extraídos a partir de extratos naturais, como algas ou plantas”, com eficácia no combate a vírus, a bactérias e a fungos, como forma de ultrapassar a resistência a antimicrobianos.

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O serviço à comunidade

Teresa Gonçalves indica que, histórica e tradicionalmente, a componente maioritária do Instituto de Microbiologia era a do serviço à comunidade: “quando cá cheguei, em 2001, o que se fazia em termos de investigação era residual, com o aproveitamento de resultados dos serviços prestados à comunidade para alguma publicação”. No entanto, ao longo dos anos o instituto foi deixando, gradualmente, de ter condições materiais para continuar a prestar este serviço, por falta de investimento em recursos humanos e equipamentos apropriados para que o mesmo pudesse prosseguir com as condições necessárias.


Desta forma, o serviço à comunidade “foi diminuindo cada vez mais”, o que não significa, no entanto, que tenha deixado de existir. “Aquilo que nós continuamos a fazer é prestar um serviço de qualidade e de excelência: muitas vezes somos contactados quando outros serviços de diagnóstico são confrontados com limitações ou dúvidas, recorrendo a nós para a realização de contraprovas de resultados que obtiveram. No fundo, o que deve ser o grande apoio da Academia aos Serviços de Saúde”.


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Nos últimos meses e dada a atual crise pandémica, o Instituto de Microbiologia tem vindo a prestar serviço à comunidade através da realização de testes de diagnóstico do novo coronavírus. “Muito precocemente, pusemos a funcionar um laboratório de diagnóstico, em estreita interação com o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA)”, adianta Teresa Gonçalves, destacando que este serviço é realizado pelos membros da equipa em regime de voluntariado, “despendendo de algumas horas do seu dia para fazer os diagnósticos”.

O trabalho deste laboratório começou “uma semana depois da quarentena obrigatória”, quando o Instituto de Microbiologia foi contactado pelo Instituto Português de Oncologia (IPO) de Coimbra, que “precisava de continuar a fazer tratamentos e cirurgias e estava
com bastantes dificuldades na obtenção de resposta rápida ao pedido de diagnóstico de SARS-CoV-2 na zona Centro”.

Assim, o Instituto de Microbiologia deu início à sua colaboração com o IPO, em pleno estado de emergência, permitindo, deste modo, que as cirurgias e os tratamentos urgentes não fossem adiados. O processo é explicado por Teresa Gonçalves: “os doentes chegam de manhã ao IPO, fazem colheita, esta é trazida rapidamente até nós; depois, fazemos a análise e, no próprio dia, o doente conhece o resultado”.

Deste modo, no caso de o resultado ser negativo, algo que, na maioria dos testes, tem acontecido, os doentes podem seguir para a cirurgia ou tratamento que tinham previsto para esse dia. Para além do IPO, esta colaboração foi também realizada com “algumas instituições de apoio a idosos”, tal como indica a diretora do instituto.

Este laboratório de diagnóstico, o único da FMUC que pertence à Rede Portuguesa de Laboratórios para o Diagnóstico do SARS-CoV-2, foi montado pelo Instituto de Microbiologia com recursos já existentes, como é o caso de equipamentos que estavam a ser utilizados para a investigação. Para que o trabalho deste laboratório pudesse seguir adiante, Teresa Gonçalves conseguiu obter o apoio da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC), através do Instituto Multidisciplinar do Envelhecimento (MIA-Portugal), bem como dos Laboratórios Bial.

Atualmente, e uma vez que estes apoios se esgotaram, a diretora do Instituto de Microbiologia decidiu que este laboratório continuará a trabalhar, “enquanto for necessário”, mas “exclusivamente com o IPO, que faz a compra dos reagentes para que se possam fazer as análises”, não deixando, no entanto, de destacar, com orgulho, o esforço dos voluntários envolvidos no trabalho deste laboratório, nomeadamente no começo da pandemia: “temos voluntários fantásticos, que chegaram a entrar às 8h da manhã e a sair daqui de madrugada, às 2h”, refere.

A resposta rápida do instituto a este desafio, com qualidade reconhecida pelo INSA, não foi alheia às competências técnicas e científicas do grupo e a toda a experiência anterior de diagnóstico molecular de infeções. “Com o esforço de todos vamos superar esta pandemia, mas prevêem-se outras nos próximos anos...”, refere Teresa Gonçalves, adiantando que, “se não investirmos agora no conhecimento fundamental, vamos de novo estar mal preparados” para os novos surtos e novas pandemias.  

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A adaptação à pandemia

Trabalhar na área da Microbiologia implica a adoção de diversos cuidados de desinfeção e higiene de pessoas e de espaços. Por isso, quando questionada acerca de uma eventual mudança na rotina de trabalho do instituto, originada pela presente pandemia, Teresa Gonçalves é célere ao afirmar: “foi muito fácil adaptarmo-nos, já que nada disto é novidade para nós”.


Ainda assim, para além destes necessários cuidados, foram também definidas algumas regras, nomeadamente no que diz respeito à permanência de pessoas dentro dos espaços do instituto.


Exemplo da restrição de pessoas no mesmo espaço físico é o caso da sala que visitámos e onde estavam apenas duas pessoas, devidamente distanciadas e a utilizarem máscaras de proteção, quando, no mesmo espaço, costumavam sentar-se, antes da pandemia, todos os colaboradores que fazem investigação, o que acabava por gerar, conforme relembra Teresa Gonçalves, “discussões científicas muito interessantes”. No entanto, agora “só lá estão pessoas que se encontram a fazer um ensaio laboratorial e têm duas horas de intervalo, por exemplo, porque as pessoas que estão a trabalhar no computador podem fazê-lo a partir da sua casa”, explica.


A diretora do instituto refere ainda que estão também a preparar laboratórios em “espaços que estavam fechados ou subaproveitados”, para que se consiga “obedecer às atuais limitações e continuar a trabalhar”.


Mas apesar da maioria destes cuidados já fazerem parte do quotidiano do Instituto de Microbiologia, houve um novo comportamento que teve de ser implementado devido à pandemia: abrir algumas janelas. “Eu nunca abriria as janelas: em Microbiologia, nós não queremos pólenes nem moscas! Mas, agora, algumas têm mesmo de ser abertas”, salienta a diretora do instituto.

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As principais dificuldades na coordenação do instituto

Teresa Gonçalves explica que o Instituto de Microbiologia é constituído por um grupo misto, com membros da FMUC e do Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra (CNC-UC). “No grupo todo, somos quatro doutoradas, três alunos de doutoramento e de mestrado temos, este ano, tantos alunos quanto doutorados. Depois, temos um ou outro estagiário que fazem estágios curtos e que, muitas vezes, depois acabam por ficar por cá, mas, como vê, não somos muitos!”, salienta a diretora do instituto, avançando que este não tem nenhum tipo de auxílio, nomeadamente no que diz respeito a apoio técnico ou a um secretariado próprio que não apenas o existente para as aulas e que “é compartilhado com uma série de outros institutos do Polo I”.

Por isso, assume que a falta de recursos humanos é uma das maiores dificuldades que o instituto enfrenta, embora admita não acreditar em “quadros de recursos humanos auxiliares muito extensos, que acabam por ser geradores de entropia”. Porém, considera necessária a existência de “pelo menos uma pessoa que seja um apoio sólido e permanente em termos laboratoriais”. Refere que, para já, ainda conta “com o apoio de uma bolseira técnica da FMUC que, infelizmente, nunca foi contratada, sendo um elemento-chave para o diagnóstico e para as competências técnicas e científicas que nos são reconhecidas”.

Outra dificuldade são as instalações. “Nós aqui já tivemos de tudo, desde inundações a um incêndio num quadro elétrico, que nos deixou vários equipamentos inutilizados”, desabafa Teresa Gonçalves. “Costumo dizer que tenho um e-mail que, recorrentemente, envio para a direção da Faculdade e que é um e-mail que só vai aumentando de tamanho”, brinca.

Apesar de apontar a falta de recursos humanos e as instalações já antigas como os grandes problemas e entraves ao funcionamento do Instituto de Microbiologia, o facto é que não é por esses motivos que a sua diretora baixa os braços ou que o trabalho do instituto não evolui: “a minha atitude, aqui ou em qualquer outro sítio ou coisa que faça, é sempre na tentativa de, identificando uma dificuldade, contorná-la – é isso que quero transmitir à equipa”.

Talvez seja por isso que Teresa Gonçalves admita que o dia-a-dia no instituto “é sempre muito positivo” e que todos os seus elementos têm uma excelente relação. Algo que, com efeito, foi facilmente observável na visita guiada a todos os espaços do instituto. “Cultivamos um bom ambiente, de entreajuda, até porque, não havendo nenhum suporte ao funcionamento do grupo, todos têm de contribuir para o bem comum, não é?”, conclui.


por Luísa Carvalho Carreira
fotografias gentilmente cedidas por Teresa Gonçalves