Sobre o estudo
O glaucoma é uma das principais causas de cegueira a nível mundial e a pressão intraocular elevada é um dos principais fatores de risco. Esta doença caracteriza-se por morte das células ganglionares da retina e danos no nervo ótico (axónios das células ganglionares). A neuroinflamação crónica mediada pela reatividade das células da microglia, as células imunes do sistema nervoso central, precede a morte das células ganglionares da retina. Tem sido mostrado que as células da microglia contribuem para a morte das células ganglionares da retina, sugerindo o controlo da neuroinflamação como uma estratégia terapêutica para preservar as células da retina.
No glaucoma, as alterações na microglia são inicialmente detetadas na cabeça do nervo ótico e com o tempo progridem ao longo do parênquima da retina. Os exossomas são vesículas extracelulares libertadas pelas células da microglia que desempenham um papel importante na comunicação intercelular, incluindo em condições inflamatórias. Assim, colocou-se a hipótese de que os exossomas libertados pelas células da microglia expostas a pressão elevada atuam como veículos para propagar o sinal inflamatório entre as células da microglia.
Resultados e impacto
O tratamento do glaucoma baseia-se na redução da pressão intraocular para evitar danos no nervo ótico. No entanto, a doença progride numa percentagem significativa dos doentes com a pressão intraocular estabilizada, sugerindo que é necessário atuar ao nível da proteção das células ganglionares da retina. A neuroinflamação mediada pela reatividade das células da microglia contribui para a degenerescência das células ganglionares. Assim, se forem conhecidos os mecanismos pelos quais as células da microglia ficam reativas, mais facilmente se podem identificar estratégias terapêuticas mais eficazes.
Neste trabalho mostrou-se que as células da microglia expostas a pressão elevada libertam exossomas que são capazes de propagar a resposta inflamatória. Estes exossomas interagem com outras células da microglia, promovendo a libertação de mediadores pro-inflamatórios e stress oxidativo. Mostrámos que a resposta orquestrada pelos exossomas isolados de células da microglia expostas a condições de pressão elevada é suficiente para montar uma condição inflamatória que contribui para a neurodegeneração da retina. Estes exossomas poderão ser os veículos que contribuem para a progressão da reatividade das células da microglia ao longo do parênquima da retina. Estratégias terapêuticas para o tratamento da degeneração da retina mediada pela neuroinflamação poderão surgir pela modulação dos exossomas das células da microglia.
Ana Raquel Santiago
Fotografia de Joel Staveley @ Unsplash