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Graça Carvalho

VOICEmed
Cerca de um ano depois de ter assumido a coordenação executiva da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC), Graça Carvalho reconhece que têm sido vários os obstáculos a ultrapassar, mas faz um balanço positivo de toda a experiência. 


O que são e qual é a missão dos Serviços Técnicos de Apoio à Gestão (STAG)?
Os STAG são isso mesmo: serviços de apoio à gestão da FMUC, nas suas diversas dimensões. Temos de partir do princípio de que a Faculdade tem um conjunto de corpos e de órgãos que precisam de ser apoiados tecnicamente, de ser assessorados e também de ter todo um trabalho de base, feito antecipadamente, de apoio à decisão.

Para além disso, há todos os procedimentos, técnicos e administrativos, que têm de ser garantidos e esses, quer sejam ou não de apoio à decisão, são, por vezes, procedimentos ditos burocráticos – e, aqui, ponho burocráticos entre aspas – que têm de ser garantidos.
Desde logo, temos os Órgãos de Gestão da Faculdade: a Assembleia da Faculdade, a Direção, o Conselho Científico e o Conselho Pedagógico. E temos o corpo técnico de apoio a todos estes órgãos.

Como dizia, os STAG têm a missão de acompanhar, assessorar e garantir o funcionamento da Direção e dos restantes Órgãos nas suas melhores condições, dentro do que nos é possível, mas também a missão de garantir a execução de todos os procedimentos em outros serviços.
Nestes serviços, temos os serviços académicos, essenciais no acompanhamento daquilo que é a vida dos nossos estudantes, mas também dos nossos docentes, porque é por esses serviços que passa toda a atividade relacionada com a definição de horários, turmas e salas.

Dentro daquilo que considero serem serviços académicos mais específicos, temos o Gabinete de Estudos Avançados (GEA), dedicado à formação pós-graduada, conferente ou não de grau, com um papel determinante, quer na atratividade, quer no tratamento processual, o Gabinete de Relações Internacionais e Interinstitucionais (GRII), que garante a ligação, quer com os estudantes que querem vir para a nossa Faculdade, fazer parte dos seus estudos, quer com os nossos estudantes que querem partir para outras partes do mundo e o Gabinete de Educação Médica (GEM), onde o Dr. Hugo Camilo dá uma contribuição essencial.

Depois, numa situação menos diferenciada em termos de possuírem um gabinete específico, temos os nossos técnicos de apoio à gestão financeira, a assessoria jurídica, a comunicação, onde se inclui aquilo que diz respeito à organização da página da FMUC na internet e à difusão de alguma da informação da vida da Faculdade, onde está a Dra. Carina Monteiro, o apoio ao Conselho Pedagógico, dado pela Dra. Teresa Andrade, o apoio dado também ao Conselho Científico e, por fim, o apoio informático, que é de uma importância extrema e que tem sido o nosso suporte, principalmente nesta fase em que a realidade da distância nos foi imposta de repente.

E temos também o Gabinete de Apoio Logístico que, não sendo ainda percebido pela maioria da comunidade, creio eu, desempenha um papel fundamental no que é o prosseguimento normal de todas as funções: os seus colaboradores parecem bombeiros, a acudir a fogos em tudo quanto é sítio. De facto, têm sido espetaculares.

Ao dizer os nomes de uns, não significa que menospreze os de outros. Na verdade, nem posso espartilhar toda esta colaboração porque, ao fazê-lo, estou a torná-la muito limitativa. Todos dão uma contribuição enorme e trabalham em conjunto. Tem sido muito gratificante assistir a isso.

Queria, aliás, destacar aquilo que foi para mim uma agradável surpresa: constatar que as pessoas têm um grande sentido de missão. É muito gratificante verificar, quando pretendo fazer um trabalho inclusivo, chamando pessoas de diversas áreas para tratar de um assunto, que todos o fazem com a máxima dedicação, cada um com as contribuições da sua área.
Isto comprova aquilo que eu, ao longo da minha vida profissional, tenho posto em destaque, que é o facto de as organizações serem feitas de pessoas e para pessoas. Quando conseguimos que elas se juntem por um objetivo comum, isso é meia batalha ganha. E isso tem-se verificado na FMUC: as pessoas têm tido uma dedicação extrema e isso é muito gratificante.

Muito importantes são também as pessoas que não estão no apoio direto aos Órgãos de Gestão da Faculdade. Não estão ali, mas estão nos seus setores a fazer o seu trabalho, quer laboratorial, quer de outro apoio à investigação e à prestação de serviços e que, daquilo que vejo, são pessoas igualmente determinadas e cujas funções desempenhadas têm também o seu mérito.


Há cerca de um ano, quando assumiu este desafio da coordenação executiva da FMUC, que Faculdade encontrou?
Bom, eu cheguei, vi e refleti. Se calhar, vi a Faculdade a precisar de coesão de grupo, mas esse não é um problema somente no que respeita ao corpo técnico e penso que não é um problema apenas da FMUC. Talvez essa seja mesmo uma realidade que se vê em qualquer instituição de ensino superior e, se calhar, até noutras organizações. Falo nas instituições de ensino superior porque são aquelas que conheço melhor.

Acho que ainda há muito aquela preocupação de cada um trabalhar em exclusivo para o seu campo e com alguma competição. Não quer dizer que a competição seja má, muitas vezes até é saudável. Mas precisamos de um bocadinho mais de coesão da comunidade, para conseguirmos tirar partido disso e para que venha a refletir-se na gestão.

Se houvesse capacidade de nós conseguirmos uma interação mais forte entre os diversos campos, tiraríamos, com certeza, proveito disso, quer em termos de recursos humanos, porque há sempre uma pessoa que sabe mais de uma matéria e outra pessoa que sabe mais de outra matéria e que, em conjunto, podem fazer um trabalho interessante, quer também no que diz respeito à utilização de equipamentos, que podia ser mais transversal. Digo que isto se reflete na gestão porque, deste modo, em vez de tratarmos desta ou daquela área, podíamos tratar da Faculdade como uma área só. Mas claro, isto são realidades e são culturas que dificilmente se mudam de um dia para o outro e, portanto, tudo tem o seu tempo e tudo tem o seu caminho.


De que forma os STAG têm conseguido, com escassos recursos, dar resposta a todas as solicitações e a todos os pedidos da Faculdade? Tem a ver com o sentido de missão de que falava há pouco?
Tem-se conseguido dar resposta com um espírito de corpo que se vai construindo. Penso que isso tem sido o mais importante para conseguirmos cumprir alguns objetivos e chegar a etapas a que dificilmente chegaríamos de outra forma.

De facto, os recursos são escassos, muito escassos. Quando cheguei à FMUC, já havia a sinalização de que tínhamos perdido vários elementos do corpo técnico que não tinham sido repostos. Depois da minha vinda, tivemos um reforço de um técnico superior e de quatro assistentes técnicos, claramente insuficientes para aquilo que são as nossas necessidades.
Temos tido a preocupação de mostrar, de alguma maneira, o valor que as pessoas têm e mostrar o nosso reconhecimento pelo esforço que põem nas suas atividades e no desempenho das suas funções, como forma de compensação por aquilo que não podemos fazer de outra forma. Nós não temos autonomia e, portanto, estamos sujeitos àquilo que são as determinações superiores, desde logo, do Senhor Reitor, da Equipa Reitoral e da Administração da Universidade de Coimbra (UC), como é natural. Não sendo detentores de autonomia e não tendo outros instrumentos que possamos utilizar de forma a tornar mais ágil a nossa resposta, temo-nos servido, de facto, da valorização das pessoas.

Acho que as pessoas devem estar sempre em primeiro lugar. Se tivermos as pessoas connosco e com os olhos nos objetivos que queremos atingir, esse será já meio sucesso alcançado. A outra metade do sucesso vem com muito esforço. Muitas vezes – e eu sou testemunha disso – estivemos a trabalhar até à meia-noite, uma, duas ou até às três horas da manhã para conseguirmos ultrapassar alguns obstáculos que apareceram no nosso caminho e que tivemos de transpor, para que as coisas continuassem a fluir.
Graça Carvalho

Este papel fundamental dos STAG na coordenação de todas as atividades desempenhadas pela FMUC acabou, neste contexto pandémico, por ser posto ainda mais em evidência. Como se organizaram estes serviços desde o primeiro momento, em março, quando se percebeu que estes teriam de ser feitos, essencialmente, à distância? 
Nós partimos de um plano. E o Senhor Diretor teve nisto um papel fundamental, ao criar, desde logo, um grupo de trabalho de apoio ao ensino e à avaliação. Este grupo de trabalho mostrou ser essencial para que tudo continuasse a fluir.  

Depois, foram as próprias pessoas que se organizaram. Utilizámos os instrumentos que estavam ao nosso alcance: fizemos muitas reuniões pelo Zoom para resolver este ou aquele problema, telefonámos muito uns aos outros e criámos até um grupo de WhatsApp. Fizemos o que estava ao nosso alcance e, de facto, toda a gente se adaptou perfeitamente à situação singular que vivemos.  



Atualmente, como está a decorrer o trabalho dos STAG? Já foi completamente retomada a atividade presencial? 

Não, não foi completamente retomada a atividade presencial. Organizámo-nos em sistema de rotatividade, de forma a que continue a ser dada uma resposta sem que isso represente qualquer quebra em termos da prestação dos nossos serviços.

Mas adotámos este sistema até porque há limitações na utilização e na frequência dos edifícios e, portanto, temos também de ter cuidado com as pessoas e com as condições que lhes damos.


Houve alguma mudança na coordenação dos serviços, adotada nos últimos meses face à pandemia, que deseje manter? Isto é, houve algum processo que considere ter otimizado o trabalho?
Não via com maus olhos que a questão do teletrabalho fosse uma realidade a manter. Não diria um teletrabalho permanente, mas que fosse complementado com duas ou três idas por semana à Faculdade.  

Via isso enquanto algo perfeitamente possível, se calhar até desejável, porque permitiria uma conciliação da vida pessoal com a vida profissional que de outra forma não se consegue. Mas teria de ser também aliada a uma outra gestão dos horários de trabalho, porque esta rigidez de horários de trabalho também não facilita muito essa conciliação. Devia haver uma maior flexibilidade, penso eu.


E que balanço faz deste último ano de trabalho?
Se calhar, sou mesmo uma mulher de desafios. Dizem-me isso e eu vou sempre dizendo que não, mas olhando para a minha vida, têm sido desafios atrás uns dos outros. E este foi o último desafio que abracei. Decidir “vou para a FMUC, uma faculdade que não conheço” não era uma decisão fácil de tomar, mas também era aliciante vir. E foi! Foi e é com o maior gosto que estou cá, claro. 

É também uma dualidade de sentimentos. Por um lado, como disse há pouco, é muito gratificante e, por vezes, enche-nos o ego vermos a coesão do grupo, a lutar por um fim que é comum e o sucesso que essa coesão nos permite atingir. Por outro lado, têm sido bastantes os obstáculos. Lidamos com uma limitação de recursos muito grande, quer de recursos humanos, quer de recursos financeiros, e há reveses que, por vezes, nos caem em cima sem estarmos à espera. Tenho ali à minha frente um livro que estou a reler e que diz “O pão não cai do céu”. É bem verdade: o pão não cai do céu, o dinheiro também não e às vezes é um bocado complicado dar-se a volta.

Mas com a resiliência de todos, quer seja do corpo técnico, quer seja do corpo docente, com quem temos colaborado e de quem temos recebido a compreensão da situação que vivemos, percebemos que é a Faculdade que está em jogo e que todos fazemos parte da mesma casa.

Por isso, acho que o balanço é positivo. Eu encontrei uma direção com a qual é muito agradável trabalhar e que nos dá ânimo para podermos prosseguir. Penso que estamos todos alicerçados ali. A direção é o nosso farol, dando-nos ânimo e uma certa liberdade de ação que nos permite, depois, levar a bom porto aquilo que idealizámos para o nosso trabalho.

por Luísa Carvalho Carreira
fotografias gentilmente cedidas por Graça Carvalho 



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