Mestrado Integrado
em Medicina Dentária

Isto é FMUC

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A Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC) é a única Escola Médica do País que integra a Medicina Dentária na sua oferta curricular. Francisco do Vale, coordenador do Mestrado Integrado em Medicina Dentária (MIMD), explica a estrutura deste curso, bem como a reforma planeada para o mesmo, abordando ainda a oferta de ensino pós-graduado e a investigação na Área da Medicina Dentária (AMD) na Escola


A estrutura do MIMD

Tratando-se de um Mestrado Integrado, o MIMD tem a duração de dez semestres e está estruturado em dois ciclos de estudos. O 1º Ciclo corresponde aos três primeiros anos do curso (seis semestres) e confere o grau de licenciado em Ciências Básicas da Saúde Oral. A conclusão deste ciclo não permite a aquisição das competências profissionais necessárias para o exercício da Medicina Dentária, mas confere aos estudantes conhecimentos e formação de base nesta área científica, bem como a possibilidade de continuarem os seus estudos numa outra instituição de ensino superior nacional ou internacional. O 2º Ciclo é composto por quatro semestres e caracteriza-se por uma formação especializada, com forte componente clínica, que qualifica os estudantes para o exercício da profissão.

O ciclo integrado compreende, assim, um conjunto de unidades curriculares, também direcionadas para a investigação, e a redação e defesa de uma tese final de curso. Após a sua conclusão, os estudantes recebem o grau de mestre e são considerados profissionalmente qualificados para o exercício da profissão, mediante a posterior inscrição na Ordem dos Médicos Dentistas (OMD).

Atualmente, a AMD da FMUC tem cerca de 180 alunos, distribuídos pelo primeiro e segundo ciclos de estudos do MIMD, aos quais “acrescem os alunos das pós-graduações e aqueles provenientes dos programas internacionais de mobilidade”, conforme refere Francisco do Vale. A AMD, onde decorre a maioria das atividades do MIMD, tem um número reduzido de alunos, sendo, no entanto, uma “unidade altamente funcional, que se encontra envolvida num amplo projeto de serviços à comunidade”, através da sua prática clínica e de investigação científica, não só no domínio do ensino pré-graduado, mas também no âmbito das pós-graduações.



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As pós-graduações
A oferta formativa da AMD na FMUC é constituída por quatro pós-graduações: Dentisteria Operatória e Estética, coordenada por Eunice Carrilho, Endodontia, coordenada por Manuel Marques Ferreira e João Miguel Marques dos Santos, Reabilitação Oral Protética, coordenada por Fernando Guerra e Ortodontia, coordenada, tal como o MIMD, por Francisco do Vale.

No que respeita à pós-graduação em Ortodontia, Francisco do Vale destaca o facto de esta ser a “única com reconhecimento de idoneidade formativa pela OMD para efeitos de formação pós-graduada conducente à titulação de especialidade em Ortodontia”. A Ortodontia é uma das poucas áreas de especialidade da Medicina Dentária oficialmente reconhecidas e reguladas a nível europeu.

Em Portugal, a candidatura ao exame de especialidade para obtenção do título de especialista em Ortodontia pela OMD é “obrigatoriamente precedida de formação curricular pós-graduada”, com formação mínima teórico-prática de três anos de duração, a tempo integral, numa unidade de ensino superior de Medicina Dentária com prévio reconhecimento de idoneidade atribuído pela OMD. A criação da especialidade foi “especialmente importante”, pois, como salienta, “um médico dentista com o título de especialista em Ortodontia em Portugal pode, se assim o entender, exercer essa especialidade nos restantes países-membros da União Europeia”, vendo-a reconhecida nos mesmos de forma automática.

Recentemente, foram criadas especialidades em Medicina Dentária para as quais também é exigida formação especializada, de acordo com determinados requisitos e satisfazendo preceitos e critérios específicos determinados pela OMD. Com o propósito de formar especialistas nestas áreas, estão a ser criadas mais duas pós-graduações na AMD, de Periodontologia e Odontopediatria, cujos “planos de estudos já estarão adequados a receberem idoneidade formativa pela OMD”.


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A aposta na investigação

No início do ano passado, foi criado o Centro de Investigação e Inovação em Ciências Dentárias (Center for Innovation and Research in Oral Sciences) - CIROS -, estrutura pertencente à FMUC que tem como objetivos agregar a investigação na área da Medicina Dentária e planear estrategicamente esta atividade.

Francisco do Vale afirma que a criação do CIROS assume especial relevância dentro da AMD, uma vez que a investigação é uma aposta forte da Medicina Dentária na FMUC e que falamos de uma área “em constante mutação no que diz respeito a procedimentos médicos e cirúrgicos, mas também à evolução dos materiais utilizados nos mesmos”, pelo que a sua investigação é extremamente importante.

Deste modo e conforme esclarece, a investigação em Medicina Dentária na FMUC acaba, por um lado, por permitir a divulgação da Faculdade e do trabalho que desenvolve, não só para o País, como também a nível internacional e, por outro, que os alunos de Medicina Dentária possam seguir uma carreira na investigação, se for essa a sua vontade. “Nos dias de hoje, o requisito principal para o jovem entrar no mercado de trabalho é que seja perito na flexibilidade, e os saberes formalizados, dentro da Medicina Dentária, não estão orientados nesse sentido. A dotação de conhecimentos mais aprofundados na vertente da investigação e/ou a orientação para uma carreira na investigação ajudará, também, a mitigar esse problema”, refere.

Assim, às carreiras clínica e de docência na Medicina Dentária poderá juntar-se ainda a da investigação. E, para o coordenador do MIMD, a possibilidade de uma carreira nesta área só será eficaz se a FMUC “dotar todos os seus organismos de forma a promover essa via e suscitar o interesse dos seus alunos, através de práticas educativas focadas, também, na investigação científica e integrando precocemente o aluno do MIMD como elemento ativo na cultura de investigação da FMUC”. Algo que tem vindo a acontecer, numa altura em que já são vários os alunos do MIMD “que manifestam a sua vontade em seguir a carreira de investigação, terminado o curso”.

Para além do CIROS, é importante referir a integração de vários docentes do MIMD nos outros centros de investigação de referência da FMUC, nomeadamente o Centro de Investigação em Meio Ambiente, Genética e Oncobiologia (CIMAGO) e o Instituto de Investigação Clínica e Biomédica de Coimbra (iCBR), bem como no Centro Clínico e Académico de Coimbra (CACC), que potencia a investigação translacional de qualidade em áreas diversas, “nas quais se inclui, naturalmente, a Medicina Dentária”.

Por último, Francisco do Vale destaca também que o “empenho dos docentes na vertente da investigação, quer dentro de estruturas próprias do MIMD, como o CIROS e os Institutos, quer no estabelecimento de parcerias com outras entidades, envolvendo outros investigadores para o desenvolvimento de projetos de Investigação Científica e Desenvolvimento Tecnológico (IC&DT)”, tem tido um “enorme retorno”, refletido em vários domínios, que vão desde o “crescimento anual na publicação de artigos científicos nas melhores revistas internacionais da especialidade, até aos vários prémios de investigação clínica e laboratorial”, ganhos nos últimos anos.








As especificidades da Medicina Dentária numa Escola Médica

Para Francisco do Vale, o facto do MIMD pertencer a uma Faculdade de Medicina é uma mais-valia para o ensino da Medicina Dentária. Como exemplo, destaca a estreita relação da FMUC com o CHUC, que faz com que o MIMD seja o único curso de Medicina Dentária no País a receber doentes do Serviço Nacional de Saúde (SNS).

O coordenador do MIMD considera, igualmente, que o facto da Medicina Dentária estar inserida na FMUC traz outras vantagens para além da prática clínica, destacando, neste âmbito, as vertentes pedagógica e de investigação: “isso permite aos investigadores do MIMD integrarem os centros de excelência que existem na Faculdade de uma forma mais natural”, refere.

Dos cerca de cem docentes que lecionam no MIMD, muitos são de outras áreas da FMUC que não a Medicina Dentária e, maioritariamente, a lecionar as Ciências Básicas de Medicina. “Desta forma, podemos ter também aqui os docentes que estão mais bem preparados e que são altamente especializados nessas unidades curriculares”, menciona Francisco do Vale.

A estas vantagens deverá juntar-se, brevemente, aquele que, por agora, o coordenador do MIMD aponta como sendo o maior constrangimento que a AMD tem enfrentado: as instalações. Com efeito, praticamente todas as aulas do MIMD são ministradas no edifício da AMD, situado no Bloco de Celas, que é um “edifício antigo e desgastado, apresentando também algumas limitações em termos de espaço e de equipamentos”. Essas limitações não têm permitido, por exemplo, “aumentar o numerus clausus” do MIMD e das pós-graduações, ou “despertar maior interesse por parte de estudantes internacionais nos programas de mobilidade”. Existe, por isso, a necessidade urgente de “produzir algumas alterações neste sentido”, que deverão acontecer “durante este mandato”, já que, como faz saber Francisco do Vale, a direção da FMUC está também empenhada na reformulação dos espaços físicos da AMD.


A experiência na coordenação do MIMD

“Aceitei grato e com enorme prazer, sem embargo ou embaraço e ciente da responsabilidade desta missão”, responde Francisco do Vale quando questionado acerca do cargo de coordenador do MIMD: “o principal objetivo desta coordenação é cumprir o plano de ação para o MIMD que foi proposto pelo Senhor Diretor da FMUC para este mandato, principalmente em dois aspetos fundamentais, que são a reforma curricular e a melhoria das condições logísticas para o ensino da Medicina Dentária”. Este último aspeto reveste-se, aliás, de particular importância, uma vez que “os edifícios e alguns equipamentos estão depreciados e desgastados, sendo até urgente a reforma do pré-clínico, a informatização e a climatização das clínicas”, destaca Francisco do Vale. 

Também os recursos humanos são essenciais, e tem havido especial cuidado desta coordenação, em consonância com a direção da FMUC, em proporcionar aos recursos humanos da AMD a “estabilidade desejável e imprescindível no apoio ao desenvolvimento do ensino, da investigação e da prestação de serviços com a qualidade que se exige”.


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As implicações da pandemia no ensino e no exercício da Medicina Dentária

Nos tempos que correm, é incontornável perguntar pelas mudanças no ensino e no exercício da Medicina Dentária, dada a especificidade das suas funções. Francisco do Vale explica que as implicações nesta atividade têm a ver com o “facto de os profissionais de Saúde Oral apresentarem um risco elevado de contágio, devido ao estreito contacto com as mucosas oral, nasal e ocular dos doentes e porque grande parte dos procedimentos realizados em Medicina Dentária produzem aerossóis”. Por esses motivos, ainda antes de ser decretado o estado de emergência no País já eram muitos os médicos dentistas que tinham suspendido a sua atividade, ou que a tinham restringido apenas a consultas e tratamentos de urgência.

O coordenador do MIMD esclarece, no entanto, que as mudanças ocorridas nesta atividade se destinaram, na sua maioria, “à proteção do próprio clínico ou do aluno”, uma vez que todo o grau de exigência dos cuidados de Saúde Oral no que diz respeito à desinfeção e esterilização de equipamentos e ao cumprimento de critérios higieno-sanitários rigorosos têm já “como objetivo proteger, com eficácia, o doente de eventuais infeções”.

“A AMD nunca esteve encerrada nesta crise epidémica, mas ocorreram alterações na componente letiva, que passou de presencial para ensino à distância, e no funcionamento administrativo, no qual se privilegiou o regime de teletrabalho e o atendimento não presencial”, explica Francisco do Vale.

“Quanto à atividade clínica assistencial, e por ser relevante na nossa instituição, uma vez que recebemos doentes SNS, manteve-se o seu funcionamento, mas de forma limitada e efetuada pelos docentes”, afirma. Para o efeito, foram criadas as condições apropriadas para a prestação de cuidados de Saúde Oral nas situações definidas como urgentes e/ou imprescindíveis à saúde dos doentes.


Consubstanciando os esforços de todos os organismos públicos em ações preventivas que pudessem defender a população de situações de contágio pelo novo coronavírus - SARS-CoV-2 -, no dia 9 de março foram suspensas as aulas de prática clínica, bem como o contacto assistencial dos alunos com os doentes, sendo apenas mantida a normalidade das aulas teóricas e teórico-práticas. Foi a partir do dia 16 de março que toda a atividade letiva passou a ser feita à distância, através das ferramentas digitais disponibilizadas pela FMUC.

“Para o próximo ano letivo, para além de algumas das medidas já adotadas poderem perdurar parcialmente até ao restabelecimento da completa normalidade, há um conjunto de outras medidas que estão a ser implementadas para que a retoma das atividades pedagógica, clinica e assistencial seja feita com os patamares de qualidade e biossegurança que caracterizam a nossa instituição, sempre comprometida com a proteção da saúde e segurança dos seus docentes, alunos, funcionários e doentes”, salienta Francisco do Vale. 

Para além da “dotação das instalações com novos equipamentos e da aquisição de Equipamentos de Proteção Individual (EPI)” adequados a todos os alunos e docentes, foi criado um protocolo de atuação em tempos de COVID-19 na AMD, elaborado em concreto para o próximo ano letivo.  

Deste protocolo faz parte um conjunto de medidas que visam “assegurar o cumprimento das recomendações das autoridades de saúde competentes e das normas técnicas em vigor, ou que venham a ser emitidas, nomeadamente ao nível higieno-sanitário e das normas de orientação clínica, garantindo, também, as condições de distanciamento social e assegurando a utilização de EPI por todos, adaptados a cada circunstância da atividade letiva: no caso da atividade letiva decorrer em ambiente clínico, o EPI será adaptado a cada ato médico-dentário”, sumariza o coordenador do MIMD.

por Luísa Carvalho Carreira
fotografias gentilmente cedidas por Francisco do Vale