Ainda que longe de termos a pandemia controlada, tentamos todos encontrar algum rumo que possa trazer parte da normalidade às nossas vidas. No entanto, não podemos descurar os cuidados que todos conhecem, mas que nem todos praticam, em gestos e atitudes reveladores de profunda irresponsabilidade, falta de civismo e puro egoísmo. Têm sido tempos de grande exigência, física, mental e psicológica, para tentar assegurar a manutenção dos serviços, ensino e investigação. Nada disto teria sido possível sem a incansável ajuda do corpo técnico da FMUC que, numa atitude de enorme dedicação e entrega, tem prestado um inexcedível apoio às atividades que fomos obrigados a adotar.
Durante o confinamento, fomo-nos habituando, aos poucos, a viver isolados, esquecendo rotinas de proximidade, “castrando” manifestações de carinho e reprimindo gestos de afeto. No entanto, agora que passámos a ter alguma liberdade para nos voltarmos a encontrar, somos muitas vezes tentados a exteriorizar aquilo que, enquanto povo, nos corre no sangue... estender a mão, lançar a cara para um beijo, oferecer os braços para um abraço. Quem não ficou já pendurado num momento embaraçoso destes? Para bem de todos, temos que continuar a refrear estes ímpetos, mantendo a distanciamento físico e escondendo o sorriso por detrás de uma máscara. Neste cenário, resta o olhar. Nunca, numa altura como esta, os olhos a despontar por cima de uma máscara falaram tanto. Resta o olhar para perceber o que vai na alma para lá dessa barreira. Dúvidas ainda houvesse, nesta fase somos mesmo obrigados a aceitar e a praticar o conceito de que o olho é a janela para o cérebro. Atrevo-me a dizer que, nestas circunstâncias, o olhar tem que ser também o espelho do coração.
Depois da adaptação a novas modalidades de ensino, vivemos agora o desafio da avaliação à distância. Deve ser algo preocupante como esta forma de avaliação pode ser indevidamente adulterada pelos alunos, recorrendo a métodos menos lícitos de obter melhores classificações. Seguramente que quem o faz agora, já o fazia antes, com grande arte e mestria. No entanto, também é verdade que “a ocasião faz o ladrão”. Por isso, muito provavelmente, nesta fase, esta avaliação não deve servir para aferir o sucesso do ensino/ aprendizagem, no pressuposto de que a avaliação é o motor da aprendizagem. O que é realmente inquietante é o fato dos nossos alunos não estarem a adquirir os conhecimentos e as ferramentas que seria suposto adquirir, para o exercício da sua atividade clínica, no futuro.
Fomos todos apanhados de surpresa, com as mudanças que fomos obrigados a introduzir nas nossas vidas. Tivemos que, de um dia para o outro, encontrar formas de (sobre)viver, lidando com situações para as quais não estávamos minimamente preparados. Mas conseguimos, graças a um enorme espírito de sacrifício, generosidade e abnegação. Agora tudo é diferente, os desafios e obstáculos são outros. Temos que preparar e planear, numa base de muitas incertezas e imponderáveis, um novo ano letivo, antecipando problemas, gerindo expetativas, considerando cenários diversos. Mas não tenho dúvidas que a FMUC se sairá bem em mais este teste à nossa resiliência e dedicação a uma ca(u)sa que tanto estima e carinho nos merece.
O distanciamento da pressão constante e frenesim do dia-a-dia de trabalho serviu para refletir e amadurecer um pouco algumas ideias que fervilhavam nas nossas cabeças, gerando hipóteses de novos estudos e projetos. Porque o pude testemunhar de uma forma direta, gostava de deixar aqui expresso, publicamente, o meu profundo reconhecimento e agradecimento pelo excecional trabalho do GGI, no apoio que tem dado à elaboração de candidaturas. A FMUC deve orgulhar-se deste seu gabinete, que integra elementos de invulgar qualidade e dedicação. Fruto do enorme conhecimento, competência e experiência que vêm acumulando, os membros do GGI estão habilitados para dar todo o apoio necessário à elaboração de candidaturas a grandes projetos de investigação.
Ainda no âmbito da pandemia, em 4'33" ficamos a saber o que o Bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, pensa sobre o período que vivemos, ao nível do ensino da medicina, da prestação de cuidados de saúde ou as dificuldades com que se deparam os médicos, nesta fase.
Em “Isto é FMUC”, conhecemos, através do coordenador do MIMD, Francisco do Vale, as oportunidades e desafios colocados à Medicina Dentária em termos de ensino, investigação e prestação de serviços, e, incontornavelmente, de que forma têm ultrapassado as restrições impostas pela pandemia. Em “Lucerna”, perceba as razões que levam Inês Gante, aluna do Programa de Doutoramento da FMUC, a acreditar que a investigação é um elemento essencial para o sucesso na sua prática clínica.
Depois de médicos a lutar na linha da frente e diretores de serviço que têm que gerir problemas gerados pela pandemia, temos agora o testemunho de alguns alunos do MIM, acerca da forma como têm vivido esta experiência de estudo, ensino e avaliação à distância. E em “Fora da Medicina”, conheça os segredos da UC para atrair, de novo, as pessoas aos espaços da Universidade.
Porque os dias têm sido exigentes, ansiamos todos por uns merecidos dias de férias e descanso...
Henrique Girão