Estudo avalia associação entre demência e doença médica aguda
Sobre o estudo
Atualmente, mais de 60% dos internamentos hospitalares correspondem a pessoas com idade >65 anos. A demência e o delirium são fatores particularmente associados a elevadas taxas de complicações adquiridas no hospital nesta população, mas a taxa de reconhecimento destas síndromas é baixa.
O delirium é mais frequente em pessoas com demência e pode agravar a trajetória cognitiva a longo prazo. Adicionalmente, os doentes com alterações moderadas a graves do estado de consciência não podem ser corretamente avaliadas sob o ponto de vista cognitivo pelo que o diagnóstico de delirium ou demência passa despercebido.
O objetivo deste estudo foi determinar a frequência, curso natural e prognóstico de delirium e estados alterados de consciência em doentes mais velhos, com e sem demência, hospitalizados por doença médica aguda. Este estudo prospetivo observacional foi realizado numa enfermaria de Medicina Interna masculina do CHUC.
Doentes com idade ≥ 65 anos foram avaliados por um psiquiatra até 72h após o internamento e a cada 2 dias até à alta para determinar o nível de consciência e a presença de delirium. No momento da inclusão no estudo foi avaliada a existência de défice cognitivo prévio, dados sociodemográficos, comorbilidades crónicas, prescrição de psicofármaco e estado funcional.
Resultados e impacto
Neste estudo, verificámos que 1/3 dos doentes internados apresentavam, no momento da admissão hospitalar, delirium ou alterações moderadas a graves do estado de consciência. Estas alterações do estado mental estavam fortemente associadas à existência prévia de disfunção cognitiva pré-existente.
Assim, os doentes com demência têm elevada probabilidade de, no contexto de doença médica aguda (ex.: pneumonia, insuficiência cardíaca), desenvolver alterações relevantes do estado mental independentemente de outras variáveis (ex.: uso de psicofármacos). Este estudo permitiu ainda concluir que, para além do delirium, as alterações do estado de consciência estavam independentemente associadas a um prognóstico adverso com mortalidade intra-hospitalar seis vezes superior aos restantes doentes.
Estes resultados sugerem que estados anormais de consciência que não podem ser classificados como delirium (devido à impossibilidade de comunicação com o doente) devem ser considerados como parte do espetro de delirium. O estado de consciência dos doentes deve ser monitorizado regularmente durante o internamento hospitalar e os doentes que se apresentem excessivamente sedados e não comunicativos devem ter uma abordagem clínica semelhante a doentes com o diagnóstico de delirium.
Joaquim Cerejeira
Aging and Mental Health
Arousal changes and delirium in acute medically-ill male older patients with and without dementia: a prospective study during hospitalization
Fotografia de Anandu Vinod @ Unsplash