Sobre o estudo
A designação “cancro da cabeça e pescoço” representa um grupo heterogéneo de tumores que podem estar localizados em diferentes regiões, como a cavidade oral, a orofaringe, a hipofaringe, a laringe, entre outras. Estes tumores são geralmente diagnosticados em estadios avançados, estando associados a elevadas taxas de recorrência e ao aparecimento de metástases. Será muito relevante identificar biomarcadores de prognóstico fiáveis e que possam ajudar a uma gestão da doença mais eficaz, contribuindo para melhorar a sobrevivência e a qualidade de vida dos doentes.
O objectivo foi identificar uma assinatura proteómica de tumores recolhidos na cavidade oral, ou seja, reconhecer um conjunto de proteínas que apresentam níveis diferentes e que ajudem a distinguir, ao diagnóstico, os doentes em risco de desenvolverem recidiva ou metástases. Foi feita a análise do proteoma de amostras tumorais e não tumorais de doentes com diagnóstico de cancro da cavidade oral e, com base nos resultados, desenvolveu-se um modelo preditivo para discriminar as amostras tendo em conta a presença ou ausência de metástases/recidivas.
O trabalho foi coordenado pelo Laboratório de Citogenética e Genómica da FMUC (iCBR-CIMAGO) e envolveu uma equipa multidisciplinar do serviço de cirurgia maxilo-facial do CHUC, da unidade de proteómica do CNC, do Departamento de Medicina Dentária e do Laboratório de Bioestatística e Informática Médica da FMUC.
Resultados e impacto
Os resultados deste estudo permitiram identificar um conjunto de proteínas (DHB12, HMGB3 e COBA1), cujas alterações no tecido tumoral apresentaram uma associação com o factor de prognóstico presença/ausência de metástases ou recidivas.
Desenvolveu-se um modelo preditivo que se baseia no padrão de alteração destas proteínas em conjunto com o estadiamento clínico de cada doente e permite prever com 88% de precisão o desenvolvimento de metástases ou recidivas. Os níveis quantitativos destas proteínas permitiram também observar diferenças ao nível da sobrevivência dos doentes.
Embora seja ainda necessário utilizar um grupo amostral maior para reforçar a utilidade deste modelo, os resultados publicados neste artigo possibilitam antecipar a utilidade destes biomarcadores em contexto clínico e abrem as portas para potenciais novos alvos terapêuticos nestas neoplasias.
Tendo em conta que estes doentes apresentam, em geral, mau prognóstico devido ao desenvolvimento de metástases ou recidivas, após o tratamento, é muito importante identificar biomarcadores que permitam estabelecer o risco para que possa ser realizada uma gestão e intervenção atempada e mais personalizada.
Joana Barbosa de Melo
Fotografia de Volkan Olmez @ Unsplash