Instituto de Psicologia Médica 

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Assistente Graduado de Psiquiatra no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) e professor catedrático da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC), António Ferreira de Macedo é também diretor do Instituto de Psicologia Médica (IPM) da faculdade. Uma estrutura orgânica que, apesar de constituída por uma equipa restrita, tem conseguido, com sucesso, cumprir a sua tripla função: a docência, a investigação e o serviço à comunidade.

A docência

No que diz respeito ao ensino, o IPM “dá um contributo que, apesar de baseado nas neurociências”, António Ferreira de Macedo qualifica como “multifacetado, porque abrange outras áreas que não são ligadas às neurociências em sentido estrito”.

Ao nível da formação pré-graduada, o ensino da Psicologia Médica distribui-se por diversas unidades curriculares, tanto no Mestrado Integrado em Medicina Dentária (MIMD), como no Mestrado Integrado em Medicina (MIM).

No MIMD, este ensino é consubstanciado por três unidades curriculares. No primeiro ano, com a de ‘Introdução à Psicologia’ e, no terceiro ano, com a unidade curricular de ‘Comunicação e Técnicas Relacionais em Saúde’, que, conforme explica o diretor do IPM, diz respeito ao ensino das competências de comunicação clínica, “uma área de importância vital e transversal a toda a prática médica”. Lamenta, por isso, o facto de, atualmente, não existir uma unidade curricular equivalente no MIM que, não obstante, é uma lacuna que a UC de ‘Psicologia Médica’ do MIM tenta colmatar, “sobretudo nas aulas práticas”. Ainda no quarto ano do MIMD, existe o ensino da ‘Psicopatologia’, integrada numa unidade curricular com várias vertentes.

No MIM, o IPM é responsável, no terceiro ano, pela unidade curricular de ‘Psicologia Médica’, “assegurando, igualmente, o ensino dessa unidade curricular nas Universidades dos Açores e de Cabo Verde”. O IPM assume também a regência da vertente de Psiquiatria na unidade curricular de ‘Neurociências e Saúde Mental’ do quarto ano deste curso.

Ainda no ensino pré-graduado, António Ferreira de Macedo esclarece que o IPM “tem sido responsável pela orientação de largas dezenas de alunos, no seu trabalho final de mestrado”.

Também no que diz respeito à formação pós-graduada, o contributo do IPM tem sido significativo e diversificado, quer na área da Psicologia, quer na da Psiquiatria, colaborando na “lecionação do programa doutoral da FMUC, no módulo de neurociências”. No que diz respeito a este ciclo de estudos, o diretor do IPM foi também responsável, a título individual, por um módulo de ensino no programa doutoral de neurociências da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), bem como no mestrado de Psiquiatria dessa instituição. Na FMUC, o IPM tem ainda participado, ao longo dos anos, no ensino em diversos mestrados, como os de Nutrição Clínica e Psiquiatria Cultural, bem como de cursos de pós-graduação, como o da Medicina da Dor.

Assim, o IPM tem sido também responsável pela orientação de múltiplos mestrandos, bem como de mais de duas dezenas de doutorandos do programa doutoral da FMUC e de outras faculdades da UC, nomeadamente a Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação, mas também de outras instituições de ensino, como a Universidade de Aveiro e a FMUP. Mais recentemente, o IPM “concretizou também o seu interesse em receber programas de pós-doc”.

O diretor do instituto enfatiza ainda um contributo pedagógico relevante do IPM, que é o livro ‘Psicologia na Medicina’, um manual de Psicologia Médica, que, conforme explica, foi “escrito pela equipa de docentes e outros colaboradores do IPM, nomeadamente bolseiros, com vista a apoiar a formação de alunos e profissionais das diversas áreas da saúde”. Este livro tem tido uma excelente receção, não só na FMUC, como também noutras escolas que o adotaram como ferramenta de ensino.


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A investigação e o serviço à comunidade

No início dos anos 90 do século passado, o IPM foi pioneiro, em Portugal, na área da genética da doença mental grave. Por essa altura, e tal como explica António Ferreira de Macedo, o instituto “levou a cabo um conjunto de projetos de genética molecular”, financiados pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) - à data ainda sob a designação de Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica (JNICT) - e em colaboração com “várias e prestigiadas redes europeias e norte-americanas”, como a European Science Foundation e o National Institute of Mental Health dos Estados Unidos da América.

Convém salientar que, há cerca de 30 anos, a área da investigação básica era relativamente incipiente no País. É, por isso, com orgulho que o diretor do instituto refere que o IPM ficará, felizmente, “na história da genética psiquiátrica” em Portugal.

Com efeito, “esse foi o embrião para o desenvolvimento e execução, até à atualidade, de inúmeros projetos na área da neurobiologia das doenças mentais”, como a esquizofrenia, a doença bipolar e o autismo, “agora ligados a diversas ómicas e à neuroimagiologia”, em colaboração com o Centro de Neurociências e Biologia Celular da UC (CNC), o Biocant (Centro de Inovação em Biotecnologia) e o Centro de Imagem Biomédica e Investigação Translacional da UC (CIBIT).

O IPM tem desenvolvido também uma “larga experiência e expertise na psicometria e no desenvolvimento de instrumentos de avaliação psicológica e psiquiátrica e metodologias de diagnóstico psiquiátrico, com o desenvolvimento de escalas de entrevistas diagnósticas estandardizadas”, indica o seu diretor.

Para além destas áreas, o instituto tem ainda levado a cabo uma intensa atividade de investigação clínica, nomeadamente ligada, conforme esclarece António Ferreira de Macedo, às “áreas da personalidade, processos cognitivos e regulação emocional e sono, bem como em diversas áreas da psicopatologia”. Neste campo, uma das áreas mais distintas é a investigação da saúde mental perinatal, em que o IPM tem liderado projetos a nível nacional, com a produção de um significativo contributo para a literatura internacional. Contributo esse que já deu frutos, através da atribuição de vários prémios, nacionais e internacionais, dos quais António Ferreira de Macedo destaca a atribuição do prémio de melhor póster no último congresso mundial da International Association for Women’s Mental Health.

É no âmbito das suas diversas linhas e projetos de investigação que o IPM tem orientado dezenas de teses de alunos do MIM, contribuindo, deste modo, não só para a formação dos futuros médicos em metodologia da investigação científica, mas também para a criação e disseminação do conhecimento em Psicologia Médica, uma vez que, de um modo geral, todos estes “orientandos têm apresentado partes dos seus trabalhos em eventos nacionais e internacionais”. A atividade de orientação é, aliás, uma daquelas em que a equipa deste instituto mais tem investido o seu tempo e os seus recursos.

O IPM presta ainda serviço à comunidade, essencialmente por via dos seus projetos de investigação, já que estes têm componentes assistenciais de intervenção psicológica, tanto em populações clínicas, com psicose e doença bipolar, como não clínicas, como acontece na área perinatal, com um programa de intervenção e bem-estar psicológico nas grávidas.


A equipa e os desafios da coordenação
“Para fazer tudo isto que eu disse até agora, parece que a nossa equipa é muito grande. Mas não, é uma equipa pequena!”, comenta António Ferreira de Macedo. De facto, e conforme explica, a equipa de funcionários do IPM é bastante restrita. Para além do diretor, é constituída por duas investigadoras, Ana Telma Pereira e Sandra Bos, e uma técnica superior, Maria João Soares, “todas elas dedicadas à investigação”. Ana Telma Pereira desempenha ainda um papel fundamental no que diz respeito ao ensino, uma vez que é, atualmente, regente das unidades curriculares do MIMD, mencionadas anteriormente. Da equipa, faz ainda parte uma assistente administrativa, Carolina Lopes, sendo que, “naturalmente, existe, depois, uma equipa de docentes das já referidas unidades curriculares, que contribuem para as tarefas de docência e de investigação, e vários doutorandos que contribuem para a investigação”.

Na direção do IPM desde novembro de 2011, António Ferreira de Macedo supervisiona toda a atividade pedagógica e de investigação adstrita a este serviço. No que diz respeito aos principais desafios da coordenação do instituto, o seu diretor tem uma visão que considera ser comum a qualquer unidade orgânica deste cariz: conseguir levar a cabo a sua missão com escassos recursos, mas com resultados significativos, em termos de quantidade e de qualidade, na docência e na investigação.

No campo da investigação, o diretor do IPM acredita que o principal desafio é “assegurar um fluxo mais ou menos constante de financiamento e, assim, de recursos humanos, em concursos que são cada mais competitivos”. Porém, apesar desta competitividade, a crescente reputação e currículo científico do IPM e dos seus membros tem vindo a crescer, o que acaba por facilitar o acesso ao financiamento, nos sucessivos concursos para a sua atribuição. Deste modo, os “financiamentos que vão chegando permitem manter a casa a funcionar a bom ritmo”, sumariza António Ferreira de Macedo.


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O ensino e a investigação em tempos excecionais


Questionado acerca da organização do trabalho do IPM nos últimos tempos, dadas as atuais circunstâncias originadas pela pandemia de COVID-19, o diretor do instituto admite que, como seria de esperar, houve alguma dificuldade inicial quanto ao impacto causado por todas as rápidas e necessárias medidas que tiveram de ser tomadas, nomeadamente nas que diziam respeito à suspensão da atividade letiva presencial.  

No entanto, e apesar das dificuldades, o IPM rapidamente se adaptou a esta nova realidade. No campo da docência, e relativamente às várias unidades curriculares sob a sua responsabilidade, o instituto conseguiu dar uma eficaz resposta às necessidades dos alunos em termos de ensino à distância, sem que “tenha havido descontinuidades significativas” no ensino teórico e no ensino prático. Quanto ao ensino prático, foi necessário encontrar soluções alternativas e inovadoras às aulas presenciais com doentes. Soluções essas que, nas palavras de António Ferreira de Macedo, foram encontradas, “com sucesso e a contento, quer dos alunos, quer dos docentes, pelo feedback que temos tido”.

Já no que diz respeito à investigação, os “constrangimentos têm sido mais impactantes”, principalmente nos projetos que requerem avaliações clínicas e recolha de material biológico. Ainda assim, o diretor do IPM revela que o instituto tem conseguido adotar estratégias que mitigam estes constrangimentos: “para que a investigação não pare, temos privilegiado o desenvolvimento de projetos onde a avaliação dos casos possa ser feita com questionários online, incluindo projetos que possam contribuir para a compreensão do impacto psicológico e psiquiátrico da pandemia de COVID-19”.

Nesse âmbito, o IPM tem já um projeto aprovado e outro a ser submetido a financiamento pela FCT, acerca do impacto da pandemia na perturbação psicológica perinatal. “É nossa intenção desenvolver e implementar outros projetos, nomeadamente para compreender e tentar prevenir o potencial risco em grupos considerados vulneráveis, como os profissionais de saúde”, acrescenta António Ferreira de Macedo.


As consequências da pandemia na Saúde Mental

Os efeitos que a presente pandemia provoca e provocará, repercutem-se, também, ao nível da Saúde Mental. Conforme destaca o diretor do IPM, “paralelamente à pandemia infeciosa, existe uma pandemia psicológica, mais silenciosa e menos conspícua, mas cujo impacto negativo pode perdurar muito para além do término da pandemia infeciosa”.

António Ferreira de Macedo explica que o impacto negativo na saúde mental ocorre em duas populações, consideravelmente distintas: naquela constituída por pessoas com problemas prévios de doença mental, mas também naquela com pessoas sem doença mental prévia. Deste modo, as pessoas que já têm doença mental podem ver os seus problemas “exacerbados pelo medo, incertezas e traumas diretos ou indiretos”. No que diz respeito à população sem doença mental prévia, poderão ocorrer situações diversas, a maior parte das quais “será de intensidade ligeira a moderada e de duração relativamente limitada”, com manifestações como tensão, ansiedade, dificuldades no sono e algumas alterações do humor, que “não chegam a reunir os critérios necessários e suficientes para categorizar a situação como ‘depressão’, ou a requerer a necessidade de tratamento farmacológico”, esclarece.

Haverá, em todo o caso, um “espectro de situações mais graves, de perturbações de ansiedade, depressão e quadros ligados a trauma grave, como a perturbação de stresse pós-traumático”. O diretor do IPM refere que os casos de stresse pós-traumático poderão ocorrer numa “proporção apreciável de pessoas com experiências de trauma mais diretas, como doentes que sobreviveram à doença, familiares dos que faleceram e, sobretudo, os profissionais de saúde que estão nos cuidados diretos dos doentes mais graves, confrontados constantemente com desfechos difíceis, como a morte, e isto enquanto têm de tomar decisões difíceis e lidar com dilemas éticos”.

Para as pessoas que necessitam de tratamento, a maior parte dos casos poderá ser resolvida nos cuidados de saúde primários. Apenas uma minoria de casos precisará de cuidados psiquiátricos especializados. Nesta fase, em que a maior parte da assistência presencial não pode ser prestada, os serviços de psiquiatria devem adaptar-se, criando alternativas assistenciais como linhas de aconselhamento e de apoio emocional e teleconsultas, de modo a continuar a garantir a manutenção dos cuidados aos seus doentes.

Não obstante todas as consequências inesperadas e complexas que a vivência da atual conjuntura nos trouxe, o facto é que, conforme salienta o diretor do IPM, todos os resultados da investigação que, neste momento, está a ser feita, acerca dos impactos psicológicos e na Saúde Mental, constituem-se enquanto outputs científicos de extrema importância para a correta tomada de decisões e para a formulação adequada de planos de contingência, que ajudem as sociedades a enfrentar futuras situações extremas, como a atual pandemia.


por Luísa Carvalho Carreira (texto e fotografia de topo) 
fotografias gentilmente cedidas por António Ferreira de Macedo