Editorial

VOICEmed

Depois de um longo período de confinamento, fruto do bom comportamento e sentido de responsabilidade de todos, foi possível voltarmos a pisar o chão da rua e desfrutar de alguma liberdade. Nesta altura, em que apenas medidas preventivas poderão ser eficazes para impedir que o vírus volte a alastrar e continue a roubar vidas de uma forma violenta e cruel, é fundamental continuar, mais do que nunca, a respeitar as orientações das entidades competentes, cumprindo regras elementares de higienização e distanciamento.

É importante sermos capazes de voltar às nossas rotinas, de forma regrada e prudente, para conseguir “(con)viver” de forma civilizada com um vírus que, muito provavelmente, veio para ficar durante algum tempo. Temos que fazer por merecer o verão, o sol, a praia, a rua. Se formos privados dessas vivências, as sequelas que ficam podem comprometer o embate dos próximos invernos.

Neste número da Voice*MED e na rubrica “Isto é FMUC”, damos a conhecer o Instituto de Psicologia Médica, nas suas diversas vertentes, não só ensino e investigação, mas também na abordagem à COVID-19. Este período de confinamento e clausura mostrou-nos que podemos (sobre)viver em condições menos favoráveis, atestando a enorme resiliência do ser humano. Como diz o Professor Fausto Pinto, presidente do Conselho das Escolas Médicas, na rubrica 4'33'', nunca na história da humanidade pessoas saudáveis foram mandadas para casa. Descobrimos talentos, competências, recursos que não pensávamos ter. O ensino à distância é um bom exemplo disso. Fruto do enorme esforço e dedicação de alunos, professores e pessoal técnico, este formato, a que pouco estávamos habituados, tem superado todas as mais otimistas expectativas. A FMUC tem dado uma prova inequívoca de adaptação, modernidade e superação, sendo capaz de responder aos mais exigentes desafios.

Este período mostrou também a magnanimidade de toda comunidade, incluindo profissionais de saúde, cientistas, empresários, gente “anónima”, desejosa de ajudar a mitigar os efeitos devastadores desta pandemia. Em “Da linha da frente”, vamos conhecer a forma como cinco serviços clínicos, com um papel particularmente importante e ativo na resposta a esta situação, lidam com o problema.

De uma forma inesperada, a COVID-19 foi capaz de unir, como nunca antes tinha acontecido, a comunidade científica em torno de um bem comum, cooperando mais do que competindo. A prova disso está na resposta pronta e musculada que a UC foi capaz de dar, para montar, num curto espaço de tempo, um Laboratório para realização de testes de diagnóstico da COVID-19. E foi o esforço, dedicação e entusiasmo de toda a comunidade que permitiu que, até ao dia 22 de Abril, este Laboratório da UC fosse aquele que mais testes tinha realizado, entre todas as instituições científicas portuguesas.

Esta pandemia mostrou, de uma forma clara, que é preciso confiar e acreditar na Ciência. É nas mãos da Ciência que está a resposta aos problemas e desafios com que o Homem se depara, em cada momento, assim esta seja apoiada e acarinhada. O momento que vivemos deu para mostrar que quando se trata de resolver problemas complexos, que necessitam de uma resposta urgente para aliviar o sofrimento da população, a comunidade científica sabe unir-se e encontrar formas de colaborar, nomeadamente através da partilha de dados e recursos.

Não há memória da Ciência ter assistido a progressos tão rápidos e significativos, em tempo recorde. Para isso contribuiu o investimento forte feito na investigação, pois só assim a Ciência pode continuar o seu percurso rumo a novas descobertas que possam ajudar a combater doenças e pandemias. No entanto, tem que haver vida (ou luta pela vida) para além da COVID-19. É preciso não esquecer outros problemas para os quais a Ciência tem que continuar a sua busca incessante por respostas, como o cancro, as doenças cardiovasculares, a diabetes, entre outros.

Não obstante a necessidade de investimento forte na COVID-19, é bom que não se “coloquem os ovos todos no mesmo cesto” e não se descurem os apoios que têm que ser mantidos a outras áreas. Prova disso é a Bolsa D. Manuel de Mello, atribuída a Miguel Bajouco, da FMUC, para investigar novos tratamentos das psicoses. Em “Lucerna”, temos oportunidade de conhecer um momento marcante na vida do vencedor desta prestigiada Bolsa.

Em “Fora da Medicina”, vamos conhecer o Centro de Apoio ao Sem Abrigo (CASA), uma instituição baseada em voluntariado, que leva não só alimentos, mas também esperança, cultura e a língua portuguesa aos mais carenciados, mesmo em tempos de pandemia.

No final... voilà... o cirurgião Guilherme Tralhão prescreve-nos o Hino à Alegria.


Henrique Girão




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