Lucerna

Vai ficar tudo bem...
Tudo vai passar...
Estamos juntos...

Vai ficar tudo bem... Tudo vai passar... Estamos juntos...


Estas são sem dúvida algumas das palavras que mais ouvimos durante as últimas semanas. Entendo que este momento que vivemos, esta época de distanciamento social irá marcar e definir o nosso futuro... Apesar do isolamento, partilhamos as mesmas preocupações, os mesmos receios, as mesmas incertezas... Reflectimos sobre as nossas prioridades, escolhas, desejos e ambições...

Há 3 meses, quem poderia adivinhar que estaríamos unidos num objetivo comum, um combate a um inimigo invisível, mas que afeta todos... TODOS! Um inimigo a quem a idade, raça, profissão, cultura, país, permanecem completamente indiferentes... Um inimigo que nos obrigou ao afastamento de tudo o que considerávamos importante e marcante nas nossas vidas. A vivência desta pandemia colocou a nossa vida em suspenso... É difícil tentar imaginar como será o nosso dia-a-dia daqui a um ano, é até doloroso pensar que, muito do que tínhamos, nunca voltará a ser igual... Todo o nosso conceito de normalidade vai de certeza mudar.

Durante os meus 35 anos, tive momentos marcantes e que nas pausas para reflexão das últimas semanas, tenho revivido bastante... Tenho relembrado a infância perfeita, numa cidade pacata... Os momentos inesquecíveis que passei com a família e amigos. Sei que vivi sempre ao máximo, ri, chorei, brinquei, sonhei, viajei, estudei... Todos estes momentos fazem parte da minha essência, e foram eles que me permitiram crescer com a certeza que seria médica. Nunca equacionei sequer outra profissão, sempre me pareceu normal e certo, que esse seria o meu caminho. E estava certa...

Depois de terminar o curso de Medicina, escolhi uma especialidade que é pouco falada habitualmente. Posso até confessar que a escolha foi um acaso... Pneumologia! Quando em criança sonhava com a Medicina, nunca pensei que me iria dedicar a esta parte do corpo humano. Hoje, 11 anos depois desta escolha, percebo que mais uma vez estava certa. Nunca a Pneumologia foi tão importante como nos dias de hoje, e nunca me senti tão completa nos caminhos que fui seguindo. É através das pequenas vitórias que tenho visto serem alcançadas todos os dias pelos doentes que observo, que hoje percebo como escolhas feitas há tanto tempo, continuam a influenciar e a marcar a nossa vida, a nossa história.

Sei que o meu passado me permitiu chegar onde estou hoje, mas o presente estranho que vivemos, é talvez uma das vivências mais marcantes a nível pessoal, e principalmente desafiante a nível profissional. Aguardo com expectativa inquieta o que o futuro mais nos pode trazer...


Daniela Madama

Daniela Madama é doutoranda da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra.

Ilustração por Ana Catarina Lopes