O nosso percurso é feito de escolhas. São centenas, milhares – nem temos noção do impacto que terão em toda a nossa vida no momento em que as fazemos. A escolha de ser Médico, a escolha de ser Cardiologista, a escolha de fazer investigação, entrar no Programa de Doutoramento e começar a lecionar aulas na Faculdade, a escolha de ser sub-especialista em Cardiologia de Intervenção. Para já não falar das escolhas da vida pessoal! Bem vistas as coisas, talvez seja melhor mesmo nem termos noção da importância que todas estas “pequenas” escolhas terão no nosso percurso. Tomamos as decisões porque temos exemplos nas nossas vidas que gostávamos de seguir, porque os nossos mentores nos motivam a fazê-lo, porque os desafios nos atraem, por vezes apenas até por impulso.
E agora? Como é que se consegue ser simultaneamente um bom clínico, investigador e professor? Como é viável conjugar atividades todas elas tão exigentes? Gostava de vos dizer que é fácil, que o tempo não se esgota, que um maior investimento de tempo numa das vertentes não prejudica as restantes, mas não é a minha opinião. É, então, impossível fazê-lo? Não!
Foi-me pedido para falar do meu percurso. A minha maior paixão profissional é ser clínico e ver o impacto das minhas intervenções na melhoria da vida dos meus doentes. Assumo-o. No entanto, a investigação faz-me ser melhor clínico, faz-me questionar mais, faz-me acompanhar e colaborar para o extraordinário e contínuo progresso do conhecimento! Tal como ser clínico me ajuda a ser melhor investigador, porque me motiva a estudar as áreas onde continuam a não existir respostas. É um ciclo complementar cujo resultado final é, sempre, a melhoria dos cuidados aos doentes.
Para quem está a pensar candidatar-se a um programa de doutoramento apesar da vida profissional exigente que já tem, o meu conselho é mesmo que façam essa escolha tal como fizeram outras anteriormente. Se têm motivação, façam-no. Poder ser médico e fazer investigação que possa vir a ter aplicação na respetiva prática clínica é extremamente gratificante.
Luís Leite é cardiologista, assistente convidado e doutorando da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra.
Ilustração por Ana Catarina Lopes