Por outro lado, queremos aproximar-nos dos nossos eleitores. A Assembleia é eleita por um grupo alargado, de membros de toda a Faculdade; portanto, não nos devemos esquecer que, se pertencemos a uma Assembleia, é porque fomos eleitos, e que esses eleitores são os nossos escrutinadores primários. Considero fundamental ouvi-los e estar próximo deles. Além disso, a Assembleia está sempre disponível para todos. Qualquer pessoa que me queira interpelar, formal ou informalmente, poderá fazê-lo e, obviamente, eu serei sempre um veículo de transmissão para a Assembleia das preocupações de cada um. Mas, mais importante até do que esse contacto por vontade individual, acho que é podermos estar no terreno, sem essa pressão executiva, fazendo uma apreciação das situações que pode ser muito útil, quer da nossa parte, para ouvir, quer por parte das pessoas que nos querem transmitir aquilo que se passa.
Tentaremos também, nos nossos debates, percebermos como serão o futuro próximo e o futuro um pouco mais longínquo, algo muito importante na área da Medicina: até um médico estar formado, no terreno e com influência sobre os sistemas de Saúde, há uma mediação de tempo enorme. Um médico tem toda uma formação já depois de sair da faculdade que leva a que, quando esteja a influenciar verdadeiramente o sistema de Saúde, já se tenham passado cerca de dez anos desde o início da sua entrada no curso de Medicina.
Para que a Assembleia possa contribuir para um bom desempenho e para a evolução da Faculdade e da UC, não podemos pensar apenas naquilo que vai acontecer daqui a cinco anos. Temos de pensar um pouco mais à frente, e esse pensar deve refletir-se na forma de ensinar e nos objetivos do ensino. Afinal, o que vai ser um médico daqui a 20 anos? Vai ser um médico em que o fundamental é percebermos o envelhecimento? Ou, pelo contrário, as grandes catástrofes, por modificações climatéricas ou outras? Ou os grandes desafios microbiológicos? Ou serão as doenças emergentes? Esta reflexão deve ser feita, mas sempre numa ideia que me parece importante, que é a de não criarmos uma hiperespecialização precoce.
É importante escolhermos áreas de afirmação da Faculdade, mas, na formação básica de um médico, têm de ser considerados os temas que irá encontrar depois, na prática clínica. O “caso raro” não deve ser aquele que norteia o ensino, já que um médico pode nunca vir a ter a oportunidade de contactar com um desses casos ao longo da sua carreira. Por outro lado, não pode falhar na sua formação aquilo que mais verá no seu quotidiano profissional. Nesse âmbito, a Assembleia desempenha um papel importante ao fazer chegar as suas reflexões à direção, contribuindo para um melhor desempenho da Faculdade.
E qual a importância, para si, de ser presidente da Assembleia?
Eu sempre encarei qualquer cargo de uma forma muito simples. Começo sempre por tentar perceber se quero ou não candidatar-me a determinado cargo. E achei que seria motivador poder ser presidente da Assembleia da FMUC, porque já tive a oportunidade de estar em todos os outros órgãos da Faculdade. Achei que estar na Assembleia, pelo facto de ser uma estrutura que congrega os mais diversos elementos, as forças vivas da FMUC, seria bastante interessante.
Considerei que, sendo a Assembleia um órgão, para além de supervisão, de reflexão, seria importante que o seu presidente pudesse ser alguém com experiência dentro da FMUC, alguém com uma vivência da própria Faculdade: isso motivou-me a ser presidente da Assembleia.
Considero, também, que sou alguém que tenta dinamizar os processos, dando, no entanto, espaço para cada pessoa poder desenvolver o seu trabalho. E acho, precisamente, que a Assembleia deve ser uma estrutura cooperativa, na qual todos estão envolvidos. Não faz sentido falarmos, por exemplo, do ensino e de como devemos dinamizá-lo, apenas com os docentes: um trabalhador não docente ou não investigador também deve intervir nesse debate.
Tendo em conta a sua vasta experiência em cargos desempenhados na Faculdade, inclusive o de diretor, faria, neste momento, alguma mudança, ou considera que a FMUC está no caminho certo?
Por natureza, tenho sempre muitas dúvidas de que estejamos no caminho certo. O caminho certo faz-se com muitos cruzamentos, muitos semáforos e muitas autoestradas. E mesmo quando se vai na autoestrada, devemos pensar se, realmente, muito tempo ali não será cansativo e se não haverá algo mais interessante! Portanto, na minha perspetiva, o caminho certo faz-se por metas. E, por isso, devemos perceber aquilo que queremos para amanhã e aquilo que queremos para um pouco mais além, tentando cumprir essas metas.
Para mim, o fundamental é ver a FMUC colocada, ano após ano, num patamar que não tem de ser relacionado com rankings, mas sim de perceção. Sou muito favorável àquilo que se chamam as realidades percebidas, a que haja uma perceção, quer dos nossos docentes, investigadores, trabalhadores em geral ou dos próprios estudantes, de que estamos a fazer um trabalho de mérito.
Também considero importante que Coimbra, a sua área da Saúde e a sua Faculdade de Medicina possam ter a imagem que merecem. Como se percebe, não é fácil, numa cidade pequena como Coimbra, ter a mesma imagem que tem um grande centro, onde a sua transmissão para o exterior está mais facilitada. Acho que é uma missão muito importante da FMUC conseguir promover-se seriamente: não devemos fazer flashes de promoção que depois nos caem aos pés, mas sim promovermo-nos dentro daquilo que são os nossos alicerces sólidos e de qualidade.
Agora, se é necessário fazer mudanças estruturais importantes na FMUC? Sim, é. E não quero deixar de referir algumas coisas que me preocupam, sendo uma delas, sem dúvida, as instalações. Diria mesmo que a Faculdade está impedida de ter um melhor rendimento pela dificuldade resultante das instalações, nomeadamente, a dispersão existente entre os Polo I e Polo III. O Polo I, neste momento, é uma estrutura que em nada favorece o bom funcionamento da Faculdade, porque está longe, quer para os estudantes, que têm de se deslocar entre os polos, quer para os investigadores. Para além disso, está desinserida do espaço Saúde, digamos assim. Era fundamental que se encontrasse uma solução para a Faculdade estar toda implantada no Polo III.
Outro aspeto extremamente importante é o do ensino clínico. Seria fundamental que houvesse uma capacidade de diálogo entre as respetivas estruturas [FMUC e CHUC], no sentido de fazerem com que o ensino clínico, apesar de realizado fora das instalações da FMUC, pudesse decorrer como decorreria dentro da Faculdade. Ou seja, que os estudantes de Medicina, quando se encontram numa fase em que o ensino acontece em ambiente hospitalar, pudessem ter, também aí, todo o ambiente necessário a uma rentabilização do seu estudo. Isto é algo que, infelizmente, ainda não existe.
Acho que estes dois aspetos seriam fundamentais sob o ponto de vista estrutural. Sob o ponto de vista funcional, continuo a achar que a dimensão de uma Faculdade de Medicina seria, claramente, favorecida com uma maior autonomia. Essa maior autonomia pode dar uma celeridade de decisão e uma competitividade de funcionamento muito superiores. Esta é uma das situações que também gostaria de ver na prática, sempre balizada pelos estatutos da UC e pelo seu próprio futuro. Acho que uma maior autonomia administrativa poderia facilitar o funcionamento de uma unidade com a dimensão da FMUC.