Sobre o estudo
A profilaxia da transmissão mãe-filho da infecção VIH é feita com recurso a fármacos antirretrovíricos que reduzem substancialmente a probabilidade do recém-nascido estar infectado. No entanto, os efeitos a longo prazo da exposição precoce a estes agentes farmacológicos ainda não são totalmente conhecidos. Alguns autores já alertaram para um eventual impacto na função cardiovascular, semelhante ao identificado com as antraciclinas usadas para o tratamento oncológico.
Este estudo procurou esclarecer se as crianças/adolescentes sujeitas in utero à exposição a antirretrovíricos, a infecção VIH e a eventuais estilos de vida menos saudáveis, teriam ou não um desenvolvimento cardiovascular e função miocárdica semelhantes aos seus pares.
Resultados e impacto
O estudo permitiu identificar que as crianças/adolescentes expostas tinham corações estruturalmente idênticos aos dos controlos, com dimensões das cavidades ventriculares e espessuras do miocárdio sobreponíveis.
No que diz respeito à função cardíaca, todos os parâmetros diastólicos estudados não apresentaram diferenças entre grupos. No entanto, a contractilidade miocárdica, quando analisada por Doppler tecidular, estava significativamente reduzida (ainda que dentro de valores da normalidade), em todas as paredes ventriculares, no grupo com exposição fetal aos fármacos e à infecção VIH.
O estudo alertou igualmente para a necessidade de um acompanhamento a longo prazo destas crianças do ponto de vista cardiovascular. Para além disso, salientou também o possível papel do Doppler tecidular, nomeadamente da velocidade de pico sistólica miocárdica, no rastreio e identificação precoce de alterações da performance miocárdica, neste contexto.
Raquel Seiça
European Journal of Pediatrics
Myocardial peak systolic velocity-a tool for cardiac screening of HIV-exposed uninfected children
Fotografia de Christian Bowen @ Unsplash