Estudo permite melhor compreensão do desenvolvimento das Doenças Peri-implantares
Sobre o estudo
Anualmente são colocados milhões de implantes dentários em todo o mundo. Contudo, estes não estão isentos de complicações biológicas (Doenças Peri-implantares), as quais numa fase inicial podem envolver apenas a mucosa que contacta o implante (Mucosite peri-implantar) ou, numa fase mais avançada, acarretarem a destruição do tecido ósseo peri-implantar (Peri-implantite).
Considerando a elevada prevalência destas patologias (43% vs. 22% / mucosite vs. peri-implantite), bem como a inexistência de um protocolo para o seu tratamento, urge compreender a sua etiopatogénese, permitindo-nos atuar o mais a montante possível. Sabemos que a sua etiologia é bacteriana, mas não conhecemos a dinâmica deste biofilme no sentido de evoluir de uma situação de saúde peri-implantar para mucosite e posterior peri-implantite.
O trabalho experimental desenvolvido pela nossa equipa de investigação centrou-se na conceção e avaliação clínica, radiográfica, microbiológica e histológica de um novo modelo animal canídeo para estudo desta patologia. Ao contrário de todos os modelos animais atualmente descritos, os quais utilizam ligaduras para, mecanicamente, produzirem defeitos peri-implantares, focámo-nos exclusivamente no biofilme como fator etiológico, criando um ambiente oral onde a carga microbiana fosse bastante elevada.
Previamente à colocação de implantes no modelo animal, foi permitida a acumulação ad libitum de placa bacteriana durante 16 semanas. Após colocação, os implantes do grupo teste não foram higienizados durante 17 semanas. Durante este período, realizaram-se avaliações clínicas, radiográficas e microbiológicas de forma a entender a evolução da patologia. Na 17ª semana realizou-se a avaliação histológica.
Resultados e impacto
Não havendo um protocolo cirúrgico definido para o tratamento da peri-implantite, é fundamental atuar na sua prevenção. Apenas com uma adequada compreensão da etiologia e patogénese das doenças peri-implantares será possível desenvolver medidas preventivas que permitam abordar esta patologia. Para tal é fundamental conhecer a sua dinâmica evolutiva e conhecer de que forma a placa bacteriana a influencia.
Concomitantemente, devem ser criados modelos animais que mimetizem a anatomia dos defeitos ósseos peri-implantares humanos, cuja etiologia é puramente bacteriana sem recurso a ações traumáticas (ligaduras). Estes defeitos ósseos são fundamentais para investigar a eficácia de diferentes protocolos cirúrgicos.
A avaliação longitudinal realizada no nosso estudo permitiu-nos detetar uma mudança microbiológica relevante. As diferenças microbiológicas obtidas no final do período experimental estiveram na base das diferenças clínicas obtidas entre grupos. Estas diferenças microbiológicas e clínicas detetadas nos tecidos peri-implantares são compatíveis com o início da patologia peri-implantar, tornando-se bastante relevantes para uma melhor compreensão da etiopatogenia desta patologia.
A relevância clínica destes resultados prende-se com o facto de este estudo descrever um método valioso para gerar defeitos peri-implantares “verdadeiros”, sem recurso a ações traumáticas.
Isabel Poiares Baptista
Clinical Oral Investigations
Evaluation of a novel dog animal model for peri-implant disease: clinical, radiographic, microbiological and histological assessment
Fotografia de Peter Kasprzyk @ Unsplash