Casa das Artes Bissaya Barreto

Fora da Medicina

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A casa que foi a primeira sede da Fundação Bissaya Barreto há mais de 60 anos, apresentou-se a Coimbra em 2010 como a Casa das Artes, com o nome do seu fundador. Desde logo, como o espaço de trabalho para um conjunto de associações culturais locais, e já com alguma programação pública pontual de teatro, música, além de exposições e sessões de contos, ou aulas e workshops. Com o passar dos anos, outros criativos locais encontram nesta Casa o seu espaço e a programação foi-se avolumando e diversificando.

Uma década depois, este é inequivocamente um lugar de encontro com a cultura contemporânea, no centro de Coimbra. Berço de criações inéditas, lugar predileto de muitos artistas nacionais e internacionais para trazerem o seu trabalho ao público, e sobretudo, a morada afetiva de uma comunidade de espectadores e criadores sem barreiras a separar artistas e público, até porque o palco é literalmente a sala, ou o jardim, se não for a garagem ou um corredor.

Sem preocupações com géneros ou outras catalogações tão temporárias como frágeis, as propostas distinguem-se pela sua ambição exploratória. A casa cor-de-rosa na Avenida Sá da Bandeira abre-se quase diariamente com propostas que vão desde a música eletrónica aos jogos de tabuleiros, passando pela fotografia e a agricultura biológica, num ritmo intenso e paciente, sincopado pela sua matinée semanal. Um ritual de encontro, simples, e repetitivo, onde parece evidente a quem chega o esforço para tornar familiar as propostas que de outra forma nos poderiam parecer distantes e estranhas.

A aposta, sobretudo nos últimos dois anos, numa programação diferenciada, terá parecido uma ousadia por um breve instante, mas rapidamente teve um retorno significativo do público da cidade que parecia sentir falta de algo assim. Conseguindo ao mesmo tempo uma notoriedade nacional e internacional rara entre as instituições culturais locais. Apenas em 2019, mais de 10 mil pessoas cruzaram o portão da pequena-grande Casa das Artes em mais de 300 eventos diferentes.


Fora da Medicina
Desde 2018, um festival vindo de França cresceu no jardim desta Casa. O Les Siestes Électroniques tem trazido algumas das propostas mais arrojadas da música eletrónica nacional e internacional para ouvir nas últimas tardes de Verão. O público recebe de braços abertos e olhos no céu este festival de entrada livre em tardes onde há espaço para ouvir música deitados na relva, onde gente graúda e gente mais miúda partilha o mesmo salão de dança e dançam, muito.

A casa tem também crescido como casa dos artistas com um programa de residências artísticas que permite a criadores de diferentes proveniências terem por alguns dias ou semanas o espaço e as condições de trabalho que procuram. Assim como a proximidade ao público com que inevitavelmente se relacionam na sua estadia. Estas residências de criação não são retiros criativos, nem prevêem a criação de objetos específicos. São processos de encontro com o público e com a programação regular do espaço, em que os artistas por alguns dias ensaiam a pertença à comunidade que ali habita nas idas e vindas das propostas que abrem os portões quase todos os dias. No final chega sempre a vez do artista residente nos convidar a todos para conhecermos um pouco do que esteve a fazer e a pensar nos dias passados, quase sempre agendando logo um possível regresso.

A Casa das Artes Bissaya Barreto é hoje o berço de uma comunidade ambiciosa em torno da arte e da cultura urbana, e também a expressão pública de uma aposta da Fundação Bissaya Barreto em direção ao seu próprio futuro. Se não é simples desenhar com palavras o que nos espera em cada nova visita à Casa das Artes, é com prazer que vos convidamos a visitar-nos nos próximos meses, motivos para isso hão-de haver mais que muitos, e o portão é fácil de encontrar, no centro da Avenida Sá da Bandeira. Só prometemos que serão recebidos com um esforço franco para que as nossas propostas sejam sempre arrojadas, e o acolhimento esteja impregnado dos valores de abertura, diversidade e vanguardismo, que temos aprendido com tantos e tão bons exemplos que temos visto aqui mesmo.

Alexandre Lemos
Programador Cultural 
Casa das Artes Bissaya Barreto  

 

Fotografias por Fábio Nóbrega