O edifício Biomed III, no Polo III da Universidade de Coimbra (UC), vai acolher o MIA e deverá começar a ser construído ainda este ano. Quando se prevê que o instituto esteja em pleno funcionamento?
Há duas fases a considerar: a fase do início das atividades do MIA e a fase do funcionamento em pleno. Para a fase de início de atividades, espero que seja a muito curto prazo, querendo com isto referir-me a meses para que comece a haver uma movimentação, dentro da UC, em termos de trabalho e ações de grupos que já existem, por exemplo, na Faculdade de Medicina (FMUC) e que, fruto do lançamento deste projeto, se comecem a interessar pela temática do envelhecimento.
O MIA não surge como algo completamente novo e desajustado daquilo que é a realidade atual da UC. Aproveitar-se-ão, certamente, alguns grupos, que, pelo tipo de atividade e excelência da sua atividade, serão facilmente cooptados para parceiros próximos dos grupos que depois virão para o MIA. Começaremos, durante este ano e se as coisas correrem como esperamos, por contratar já os dois primeiros grupos que começarão a levar a cabo atividade em centros de investigação que pertencem à UC, enquanto se constrói o edifício.
A construção do edifício, a ser iniciada, como previsto, no final deste ano, nunca demorará menos de dois anos a estar concluída. Só nessa altura é que teremos a contratação daquele que esperamos que venha a ser o diretor científico, que ficará responsável pela contratação do resto das cinco equipas do MIA e que fará a gestão dos espaços e de colaborações com outros grupos da UC, da FMUC e do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), em função dos objetivos que, nessa altura, forem definidos como estratégia para o desenvolvimento deste instituto.
Em relação aos grupos de investigação, tem uma ideia de quantos investigadores estamos a falar, assim que os grupos estejam todos constituídos?
Quanto ao número de investigadores que o projeto prevê contratar como novos investigadores pertencentes ao MIA, aí estamos a falar de cerca de 54 investigadores. Para além disso, serão contratados também entre 10 e 14 técnicos. Mas, obviamente, este instituto só faz sentido se integrado em colaboração muito estreita e dinâmica com grupos existentes na FMUC e que espero que venham também a ocupar o futuro edifício do UC-Biomed.
Referiu a necessidade de ter a mente aberta e de considerar todas as hipóteses na descoberta dos fatores associados ao envelhecimento. Está prevista a contratação ou a colaboração de investigadores de outras áreas, ou apenas de investigadores das chamadas ciências exatas e biológicas?
Numa primeira fase, o que está previsto é a contratação de grupos de investigação muito focados em aspetos mais de Biociências. Quanto a contratações de grupos de investigação de outras áreas, posso dar-lhe a minha visão, mas, obviamente, a decisão final será do futuro diretor científico. Creio que fará sentido que haja, ou a contratação, ou a colaboração muito estreita com colegas das áreas de Economia, por exemplo, mas as colaborações por excelência serão sempre com a FMUC, visto que é um projeto virado para as Ciências da Saúde. Quanto ao CHUC, nem faz sentido equacioná-lo como parceiro, porque é um elemento intrínseco da atividade do MIA, mas poderão vir a ser parceiros pessoas das áreas da Engenharia, da Matemática, do Direito e também da Sociologia.
Na área da Sociologia temos, aliás, um instituto que é considerado de excelência a nível europeu e, portanto, faz todo o sentido que o CES [Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra] venha a ser parceiro desta iniciativa. Veremos como será possível cruzar a atividade do MIA com os interesses do CES. Terá de haver abertura para aproveitar o potencial existente.
Qual o impacto e o significado que considera ter a escolha de Coimbra para albergar o único instituto deste carácter no sul da Europa?
A escolha de Coimbra deve-se, essencialmente, ao ecossistema que já aqui está instalado. Temos o maior hospital do País. Ao contrário daquilo que é a perceção dos colegas de Lisboa e do Porto – eu sou de Lisboa, portanto, não tenho problema nenhum em dizer isto –, é um hospital que não vê reconhecida a sua excelência em termos de investigação clínica: em termos de intervenção na saúde, o CHUC é, certamente, um centro de referência a nível nacional.
No que diz respeito à investigação fundamental, temos instituições como o Centro de Neurociências de Coimbra (CNC), que tem um foco muito grande em doenças associadas ao envelhecimento, doenças neurodegenerativas, por um lado, e doenças metabólicas, em particular diabetes, por outro. Portanto, existe uma possibilidade do MIA crescer com estas entidades de maneira muito mais efetiva.
Para além desta base científica e desta translação para a clínica, temos ainda o aspeto tecnológico. Nós temos os dois parques tecnológicos mais premiados a nível europeu, que são o Instituto Pedro Nunes e o Biocant, parceiros deste projeto. Temos aqui um ecossistema com um tema unificador – o envelhecimento – e, por isso, há que tirar partido do que já existe em termos de investigação, explorar parte dessa investigação, ir buscar ideias, explorá-las com toda a atividade clínica e, eventualmente, aproveitar a exploração comercial de algumas ideias que emerjam a partir desses parques tecnológicos. Ou seja, o MIA surge um bocado como um aglutinador, um magnete à volta de vários centros, cada um com sua área de intervenção, mas de excelência, na área de Coimbra.
Por fim, Coimbra é uma das regiões de referência do envelhecimento saudável na Europa. Portanto, acho que faz todo o sentido que seja nesta região que o MIA fique instalado.
A médio e longo prazo, e com o trabalho que o MIA pretende desenvolver, podemos dizer que teremos pessoas, não só a viverem melhor, mas também a viverem mais?
O grande foco nesta altura é, claramente, o ‘Ageing 2.0’, que é não nos preocuparmos com a idade em que as pessoas entram em falência total, mas sim com o facto de que na véspera das pessoas entrarem nessa falência total, possam estar, alegremente, a fazer o seu jogging, depois a ir almoçar com os familiares e a jogar futebol com os netos ou com os bisnetos. Ou seja, até ao fim da vida, terem uma qualidade de vida que seja - eu não vou dizer a ideal, porque nunca se atinge o ideal - muitíssimo boa, sem doença e com alegria de viver. Digamos que aumentar a esperança de vida não é o principal objetivo, nesta altura, do MIA. O objetivo é, claramente, o envelhecimento com qualidade de vida.