Tarefa de realidade virtual permite deteção de alterações cognitivas e funcionais de portadores da Doença de Huntington
Sobre o estudo
A Doença de Huntington (DH) é uma doença neurodegenerativa autosómica dominante com envolvimento dos gânglios da base e circuitos fronto-estriatais. Manifesta-se por alterações comportamentais, cognitivas (demência) e motoras com movimentos involuntários dos quais a coreia é o mais comum.
É conhecido que as alterações comportamentais e cognitivas surgem ainda na fase prodrómica da doença. No domínio cognitivo, destacam-se os défices nas funções executivas, que condicionam o estatuto funcional do doente. No entanto, os instrumentos de avaliação destas áreas demonstram insuficiência na detecção e previsão do impacto desta disfunção no funcionamento diário do doente.
Este estudo pretendeu identificar e quantificar as alterações cognitivas mais precoces destes doentes e ultrapassar limitações que os métodos de avaliação neuropsicológica convencionais apresentam. Neste contexto, desenvolveu-se uma tarefa de realidade virtual não imersiva, a “EcoKitchen”, como uma nova medida de desempenho cognitivo e funcional.
A “EcoKitchen” simula a realização de tarefas comuns numa cozinha virtual e tem três níveis de dificuldade com crescentes exigências executivas. Avaliámos o desempenho nesta tarefa em doentes em fases prodrómica, fase inicial e indivíduos saudáveis. Comparámos e correlacionámos os resultados com outras medidas, designadamente um inventário de avaliação funcional, uma bateria de avaliação executiva e um conjunto de testes cognitivos tradicionais.
Resultados e impacto
A tarefa de realidade virtual criada pelo nosso grupo foi o único instrumento de avaliação capaz de detectar alterações precoces no funcionamento executivo de portadores de DH ainda em fase prodrómica e de quantificar o seu impacto na realização de actividades (simuladas) da vida diária.
Os resultados deste estudo têm implicações relevantes porque demonstraram que instrumentos de avaliação de maior sensibilidade ecológica permitem uma detecção mais precoce das alterações relacionadas com a doença, uma maior compreensão do fenótipo da DH e uma clarificação da relação entre cognição e função, neste modelo clínico. Isto facilitará o planeamento e implementação de intervenções destinadas a reabilitar e/ou compensar as competências cognitivas e funcionais entendidas como deficitárias e, assim, poderá melhorar a qualidade de vida dos indivíduos afectados pela doença de Huntington.
Este trabalho foi apresentado pela primeira vez em formato de Poster no “European Huntington’s Disease Network 2016 Plenary Meeting”, em Haia-Holanda, onde recebeu o Prémio de Melhor Poster Clínico. Os autores foram depois convidados a apresentá-lo sob a forma de comunicação oral no “European Huntington Association 2017 Meeting” em Sofia - Bulgária.
Cristina Januário
Frontiers in Psychology
A Novel Ecological Approach reveals Early Executive Function Impairments in Huntington’s Disease
Fotografia de Gerd Altmann @ Pixabay