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Catarina Costa 

Aos 23 anos, divide-se entre o desporto de alta competição e os estudos. Aluna do Mestrado Integrado em Medicina (MIM) da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC), Catarina Costa sonha com o pódio nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2020.
Nota: Por motivos de agenda, esta entrevista foi realizada no dia 18 de novembro de 2019.

Lesionou-se no final de outubro, na Austrália, ficando impedida de competir no Open de Perth. Como está a correr a recuperação?
A recuperação está a correr bastante bem. Ao fim de duas semanas, consegui voltar ao tapete e fazer o treino de judo. Este fim de semana [16 e 17 de novembro] fui escolhida para lutar no último encontro, porque queríamos mesmo ganhar a medalha de bronze nas equipas, no Campeonato Europeu de Judo.

Fui lutar, apesar de ainda não estar nas melhores condições. Tentei dar o meu melhor. Não consegui vencer, mas, pela equipa, acho que tinha que lutar. Espero, dentro de poucos dias, poder já fazer os treinos sem qualquer limitação.

Até porque no dia 12 de dezembro vai estar a competir na China, no Qingdao Masters 2019.
Exatamente. E é para aí que eu aponto agora o meu foco.

Quando começou a treinar Judo?
É uma história engraçada. Quando eu tinha 10 ou 11 anos, o meu primeiro treinador via-me jogar futebol na escola com os rapazes. Eu gostava muito de desporto e, nos intervalos, jogava futebol. E fui desafiada por ele a experimentar o Judo.

Como não conhecia a modalidade, achei curioso, por ser um desporto diferente. E, por isso, pensei «porque não?». Fui experimentar um treino, gostei bastante e, depois, perguntei-lhe se podia voltar noutro dia. Ele respondeu-me que sim e, a partir daí, comecei a ir sempre.

Entretanto, pedi à minha mãe para me inscrever e, rapidamente, comecei a evoluir. Passei logo para um clube fora da escola, continuando com esse meu treinador. Atualmente, ele ainda é um dos meus treinadores. Não dos principais, mas é um dos meus treinadores.

E como surgiu a escolha do curso de Medicina?
É uma boa questão… Eu nunca fui pressionada a ter boas notas para um determinado curso, mas a minha mãe sempre me incutiu que deveria ter as melhores notas para não estar restringida apenas a um certo curso, ou para poder escolher o curso que quisesse. Desde o quinto ano, sempre tive muito boas notas. E no secundário, apesar de já ter algumas saídas em provas e estágios internacionais, continuei a manter as boas notas.

Quando foi a altura de escolher o curso, eu sabia que seria algo relacionado com Ciência e, provavelmente, com Saúde. O curso de Medicina pareceu-me adequado, já pensando no que eu iria fazer na Medicina, que, à partida, será algo ligado ao Desporto e à Medicina Desportiva.

Gostava muito de trabalhar nessa área no futuro e, por isso, escolhi este curso.

Ainda é muito jovem e já conta com diversos prémios, como o Ouro nos Jogos Europeus Universitários de 2018 e no Grand Slam de Brasília deste ano. De todos os prémios que já conquistou, há algum que a tenha marcado de modo especial?
Sim, e é curioso porque não é destas grandes competições. Foi a minha primeira medalha nacional, quando tinha 12 anos, penso eu. Fui campeã nacional de juvenis e, na altura, isso marcou-me muito. Lembro-me de estar a olhar para a medalha, de a ter nas minhas mãos, e de pensar «eu sou a melhor de Portugal no meu escalão e na minha categoria de peso». Isso marcou-me bastante e acho que foi o que me deu depois o click para eu querer continuar a fazer competição.

Mais recentemente, algo que me deu muito gozo foi ter ganho o Grand Prix de Antalya, no ano passado, na Turquia, porque vinha de um período de lesão. Tinha-me lesionado precisamente uma semana antes, noutra competição. Eu e o meu treinador ponderámos até não participar no Grand Prix, mas acabámos por ir, porque eu disse-lhe que queria ir. E foi toda uma prova de superação. No fim, ganhar e ouvir o hino no pódio foi muito emotivo e marcante.
Catarina Costa

Avizinham-se os Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2020. Quais as expetativas para essa competição?
A preparação para as provas de qualificação tem corrido bastante bem. Isso dá-me confiança para enfrentar esse grande desafio com muito entusiasmo. Sei que é uma prova diferente. Toda a gente se vai preparar muito bem. Não terei tanta facilidade em ganhar a uma adversária nos Jogos Olímpicos quanto a que teria noutra competição.  

Vamos continuar a preparação e espero chegar o mais longe possível nos Jogos Olímpicos. Até mesmo a um pódio, acho que podemos sonhar com isso, porque estamos a trabalhar para ser cabeça de série, isto é, para estar entre as oito primeiras da competição. Isso dá-nos alguma vantagem porque, por exemplo, num primeiro combate, seria impossível eu enfrentar a número um ou a número dois do mundo. E, deste modo, dá para disputar a prova de uma maneira diferente.

Só faltam dois resultados para garantir que sou mesmo cabeça de série. Depois, é foco na preparação e, no dia da competição, é ter muita determinação e deixar tudo no tapete.


Como é um dia na vida de uma judoca e estudante de Medicina? 
É muito complicado! E, se calhar, até vou pegar no exemplo do dia de hoje [18 de novembro], porque é curioso. Ontem, domingo, tivemos competição. Cheguei a casa um pouco tarde, mas deitei-me e disse «amanhã tenho que ir às aulas».  

Então, acordei às 7h20 e às 8h00 estava numa aula. Neste momento, são 9h15 e estou a dar esta entrevista. Daqui a pouco tempo, vou à fisioterapia, para recuperar da lesão. Saindo da fisioterapia, volto para uma hora de aulas. Entretanto, por volta da hora de almoço, vou treinar no ginásio. Aproveito as horas de almoço para o treino físico ou para o treino técnico de Judo, porque o horário é compatível com o dos outros atletas e, assim, podemos treinar todos juntos. Tenho a tarde livre, portanto vou aproveitar para descansar e estudar um bocadinho. À noite, por volta das 19h30, terei o treino maior de Judo, de duas horas. E o meu dia passa um pouco por isto.


Treina todos os dias?
De segunda a sexta-feira, tenho treino bidiário praticamente todos os dias. Normalmente, tenho só um dia de descanso, ou na quarta ou na quinta-feira faço só um treino.  

No fim de semana, vai variando. Se a carga semanal está um bocadinho mais elevada, posso treinar ao sábado e fazer um treino de recuperação ao domingo. Mas, normalmente, não temos treinos aos fins de semana, até porque estão mais reservados para as competições.


E quando tem competições, leva o estudo consigo? Agora que vem aí a época de exames, como se organiza?
A época de exames é sempre complicada, porque, normalmente, coincide com o calendário competitivo, sobretudo com os estágios. E sim, tenho que levar muitos livros e cadernos para as competições. Felizmente, temos o Inforestudante, que permite descarregar conteúdos e, então, não tenho que ir tão carregada. Mas, muitas vezes, sim, tenho que fazer esse esforço.  

E depois de um estágio, por exemplo, que, por vezes, faz com que não estejamos tão bem psicologicamente, porque são dois treinos muito desgastantes, tenho também de fazer um esforço para chegar ao fim do dia e pensar «ainda tenho que estudar mais uma horinha ou duas, porque vou ter um exame e é importante».


Referiu a Medicina Desportiva enquanto área de especialização que a interessa em particular. O que se vê a fazer nessa área?
Ainda não pensei muito bem. Mas, seria, certamente, algo relacionado com a Medicina Desportiva, sim. Estar perto de atletas, poder conviver com eles, tratar, aconselhar e também passar a minha experiência enquanto atleta e tentar colocar-me no lugar deles, uma vez que estou a passar agora por essa experiência. 


Sendo o Judo e a Medicina duas áreas do seu interesse, em que medida considera que as duas se complementam, e que ensinamentos retira de uma para a outra?
São duas áreas muito idênticas, na verdade, porque exigem muita disciplina. Consigo transpor essa disciplina de uma para a outra. No Judo, é claro que fico bastante nervosa antes de uma competição, mas já arranjei algumas estratégias para manter a calma, como respirar fundo, e já consigo abordar, mesmo as competições mais importantes, com o nervosismo normal, claro, mas controlado.  

E então, quando vou fazer um exame na Faculdade, quer seja escrito ou mesmo oral, que, se calhar, é o que gera mais stress, consigo manter-me calma graças a essas estratégias que fui desenvolvendo no desporto. Depois, também, o modo como me preparo. Eu preparo uma competição muito bem e tento aplicar essa preparação aos exames e aos testes que faço. Acho que são áreas que se complementam bastante, na disciplina e na organização. 


Catarina Costa

E no futuro, qual das áreas vai pesar mais na balança? O Judo ou a Medicina?
Pois, essa questão é bem colocada! Não sei mesmo… O meu treinador tirou o curso de Farmácia, completou-o até com boa nota, e quando chegou a altura de acabar a carreira enquanto atleta, não escolheu a Farmácia e escolheu ser treinador. Ainda bem que o fez, porque, se não, eu não estaria aqui hoje, certamente. 

Foi o João Neto [treinador] que me deu as asas da competição, digamos assim, e que me tem feito também voar neste mundo internacional competitivo. Não sei se comigo se passará o mesmo ou não. Sei que vou escolher algo que me vai fazer feliz no futuro, e gostaria de estar sempre ligada ao Judo e à Medicina, não deixando nenhuma destas áreas de parte. Mas isso, só o futuro o dirá. 


por Luísa Carvalho Carreira 
fotografias gentilmente cedidas por Catarina Costa


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